É fato que ao longo da vida os indivíduos vão perdendo a audição, em maior ou menor grau. Estudos indicam que um entre cinco adultos começam a ter dificuldades para ouvir a partir dos 40 anos. Vários fatores influenciam nesse processo: alguns maus hábitos adquiridos no dia a dia, como o de frequentar ambientes barulhentos e fazer uso de medicamentos ototóxicos, além de fatores hereditários. O que muitos não sabem é que o vício do cigarro, além de trazer riscos de se contrair uma série de doenças, também prejudica a audição.
A nicotina presente no tabaco pode causar danos à audição similares àqueles causados por medicamentos ototóxicos. “Fumar libera substâncias tóxicas que exercem ação nociva no ouvido interno. As áreas mais afetadas costumam ser o vestíbulo, a estria vascular e as células ciliadas da cóclea, responsáveis pela audição”, explica a fonoaudióloga Isabela Papera, da Telex Soluções Auditivas.
Pesquisa realizada pelo jornal da Associação Médica Americana constatou que 70% dos fumantes têm mais risco de desenvolver perda auditiva em comparação com os não fumantes . E ainda: quanto mais o individuo fumar, maiores são as chances de sofrer danos auditivos. O estudo também concluiu que pessoas não fumantes, que vivem com fumantes e estão expostas à fumaça do cigarro, têm quase duas vezes mais chances de desenvolver mais rapidamente a perda auditiva, já que o ar repleto de fumaça tem três vezes mais nicotina e monóxido de carbono.
“Junto com a nicotina, o fumante inala cerca de 2.500 substâncias lesivas ao organismo, entre elas, o monóxido de carbono (CO), um dos principais causadores do efeito ototóxico na audição, que reduz os níveis de oxigênio na cóclea. Os danos causados são irreversíveis, já que as células ciliadas da cóclea responsáveis pela audição, quando morrem, não se regeneram, resultando em perda auditiva”, explica a fonoaudióloga.
Outro estudo recente, publicado pela Oxford University Press, analisou os efeitos da nicotina e do tabaco em mais de 50.000 pessoas, ao longo de 8 anos. Foi observado um aumento de 1,2 a 1,6 de perda auditiva entre fumantes atuais em comparação com quem nunca fumou. Segundo o pesquisador responsável pelo estudo, Huanhuan Hu, do Centro Nacional do Japão para Saúde e Medicina Global, há fortes evidências de que o tabagismo é fator de risco de perda auditiva. “Os resultados mostram que o vício de fumar é um fator real para a perda de audição e que é preciso controle severo no uso do tabaco", enfatiza.
E uma outra pesquisa, essa feita na Europa, também deixa um alerta. ”Para aproximadamente 20% da população fumante do Reino Unido - e acima de 60% de alguns países - o fato de fumar pode representar uma causa significante de perda auditiva. Quanto mais cigarros a pessoa fuma e quanto mais tempo mantém o vício durante a vida maior o risco de prejuízos à audição”, explica o pesquisador Piers Dawes, do Centre of Human Communication and Deafness, da Universidade de Manchester (UK).
Aproximadamente 36,5 milhões de adultos nos Estados Unidos fumam e 16 milhões deles têm alguma doença relacionada ao cigarrro. No Brasil, cerca de 18 milhões de adultos são fumantes.
“É importante ressaltar que o vício do tabagismo, além de provocar várias doenças, como propagado em campanhas antifumo, também aumenta os riscos de surdez. A perda de audição, quando não tratada, traz muitos prejuízos, afetando a qualidade de vida, gerando isolamento, perda de amigos e até mesmo afastamento do trabalho. Por isso, ao menor sinal de dificuldade para ouvir, é importante procurar um médico otorrinolaringologista. Por meio de um exame chamado audiometria é possível verificar o grau de perda auditiva e iniciar o tratamento. O uso de aparelho auditivo é em geral a melhor opção para o indivíduo voltar a ouvir”, conclui a fonoaudióloga da Telex.