Presidente do Albert Einstein e do Instituto Coalizão Saúde diz que seguradoras terão que lidar com menor número de usuários e possível inadimplência
Atualmente focado basicamente em prestar suporte no combate ao novo coronavírus (Covid-19), o setor brasileiro de saúde privada deve sair da crise pandêmica “bastante machucado”, apontou ontem, em live no Facebook do O POVO, o presidente do Conselho da Sociedade Israelita Albert Einstein, de São Paulo, e do Instituto Coalizão Saúde, Claudio Lottenberg (foto). Em entrevista ao editor-chefe de Economia e Negócios do O POVO, Jocélio Leal, o médico frisou que tanto as seguradoras como os hospitais terão de encarar uma drástica queda de usuários e buscar alternativas para sobreviver ao mercado no pós-crise.
De acordo com Lottenberg, apesar de as operadoras de planos de saúde ainda não terem sentido tanto os impactos da crise, já que, até o momento, “conseguiram administrar a situação” com verbas anteriores, a partir do mês de maio a situação será diferente, com forte repercussão no capital de giro, endividamento e capacidade de novos investimentos dessas empresas. “Existe um problema muito claro que é fruto da situação econômica e que vai fazer vários desses usuários do sistema suplementar deixarem de usá-lo. Nos planos individuais, especificamente, há um risco muito grande de inadimplência”.
Outro problema é que os hospitais estão com suas capacidades operacionais restritas, posto que, no momento, há muitos atendimentos relacionados à Covid-19, que têm baixo tíquete médio, porém, poucos procedimentos eletivos, o que também ocorre nas redes laboratoriais. “É preciso viabilizar a sobrevivência desses equipamentos. Será que parte dos recursos que a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) destinará às seguradoras, via fundos de garantia, irá para hospitais?”, questiona.
Com o número de usuários menor, o médico diz que tanto seguradoras como hospitais terão de ser criativos e investir em alternativas digitais como forma de reduzir custos. Ele cita o exemplo dos bancos: “Se compararmos com dez anos atrás, eles têm dois terços ou metade dos colaboradores que tinham. Na saúde será a mesma coisa. Vamos ter que adotar a robotização, a automação”. Lottenberg sugere, inclusive, rever o próprio papel do médico nesse contexto. “Não é desvalorizar, mas se a gente não entender que será essa a realidade, vai imaginar que o dinheiro vai continuar vindo, mas não virá”, complementa.
Neste cenário, o presidente do Instituto Coalizão Saúde destaca que, mais do que nunca, a telemedicina surge como uma alternativa para que o setor sobreviva à crise e se adapte às novas mecânicas do mercado. Atualmente, a prática está regulamentada apenas provisoriamente no Brasil, que liberou o atendimento pré-clínico, de suporte assistencial, de consulta, de monitoramento e diagnóstico a distância, em decorrência da pandemia. Lottenberg lembra, porém, que o serviço já é regulamentado nos Estados Unidos desde 1996.
“A grande questão é criar uma mecânica para que a telemedicina possa ser regulamentada, logicamente com a confidenciabilidade de dados e recursos que possam garantir a segurança do paciente. É algo que amplia o acesso à saúde e se aproxima do princípio da equidade, um dos valores que nortearam o surgimento do Sistema Único de Saúde (SUS)”, diz. Segundo Lottenberg, o serviço não é “a resposta para todos os males”, mas um auxílio fundamental para todo o sistema, sempre salvaguardando o ato médico.
Conforme o médico, atualmente, o Brasil conta com mais de 500 Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) apoiadas por telemedicina, o que tem sido aprovado pelos usuários. Conforme diz, o nível de satisfação é de 75% a 80%, enquanto que, nos prontos-socorros, a taxa é de apenas de 30% a 35%. “Ao todo, 70% dos pacientes reutilizam o serviço em até 45 dias. Acho que o serviço veio agora para ficar”.