Após
o avanço de bancos e fundos, agora empresas de seguros são a nova
parcela do setor financeiro a se render aos “green bonds”Depois dos
bancos e dos fundos, agora são as seguradoras a mais nova parcela
do setor financeiro a apostar no chamado dinheiro verde, também
conhecido como ESG, da sigla em inglês Environmental, Social and
Governance.
A
Zurich, uma das maiores seguradoras no Brasil, que obteve R$ 4,3
bilhões em prêmios durante 2020, já investiu R$ 230 milhões em
títulos verdes. Isso representa cerca de 6% de suas reservas
técnicas, estimadas em R$ 3,6 bilhões.
No
entanto, o processo de diversificação dos aportes em títulos de
renda fixa com pegada de sustentabilidade pela Zurich não é
recente. Começou no início de 2019, quando o diretor de
investimentos da companhia no Brasil, John Liu, percebeu que a
baixa dos juros seria algo demorado.A volatilidade provocada pela
pandemia chacoalhou o mercado de crédito e os spreads, prêmio pago,
também aumentaram bastante. Neste momento, segundo Liu, a empresa
começou a montar a carteira ESG, sem abrir mão de rentabilidade
para entrar nesse mercado.
“Queremos dar retorno aos acionistas e, ao mesmo tempo, gerar um
impacto positivo no meio ambiente, de forma estruturada e que tenha
um processo mensurável de impacto”, afirmou o executivo. Colocando
seu capital em iniciativas que visam um impacto social positivo, a
seguradora dá prosseguimento à estratégia global de aquisição de
green bonds com o compromisso da seguradora para a transição de uma
economia de baixo carbono.
As
ações têm financiado projetos tão distintos quanto amplos, chegando
a vários pontos diferentes do Brasil. Entre os três grandes
projetos está a implementação de infraestrutura de eletricidade,
baseada em linhas de transmissão de energia renovável nas Regiões
Sul, Sudeste e Nordeste. Na prática, a iniciativa contribui para o
escoamento e transmissão de energia renovável no País. A segunda
iniciativa é voltada ao saneamento básico na região de Cuiabá, no
Estado do Mato Grosso.
São
obras e serviços para ampliação do sistema de abastecimento,
tratamento e distribuição de água daquele município, bem como da
universalização do acesso ao esgotamento sanitário por meio da
ampliação do sistema de coleta e tratamento de esgoto. O terceiro
projeto está relacionado à geração de energia renovável e linhas de
transmissão dedicadas aos projetos no estado de São Paulo.
ESTRATÉGIA GLOBAL
O
processo desses investimentos foi tão acelerado que a marca de R$
230 milhões investidos em títulos verdes no ano passado superou a
meta que a empresa esperava alcançar até 2022, de R$ 170 milhões.
“Mais que uma meta numérica, os investimentos fazem parte de um
compromisso assumido pelo Zurich em nível mundial.
A
empresa está engajada em gerar um impacto socioambiental positivo,
que além de contribuir para uma economia sustentável, que beneficie
todo o planeta, com menor impacto ao biossistema e maiores benesses
à comunidade global”, afirma Liu.Uma das maiores seguradoras do
mundo, a Zurich quer agora ser também um dos grupos mais
responsáveis e de maior impacto do planeta. E os frutos desse
trabalho já começam a aparecer.
No
último ano, a empresa ficou em 1º lugar no ranking do Índice Dow
Jones de Sustentabilidade dentro do segmento de seguradoras,
segundo o responsável pela gestão da carteira da Zurich Brasil,
Guilherme Farah. Desde 2017, a Zurich vem se engajando globalmente
em investimentos de impacto ambiental, que devem atingir um valor
de US$ 5 bilhões até 2022.A trajetória de diversificação, saindo
dos títulos atrelados a CDI e Selic, vem sendo seguida há alguns
anos, desde o início da baixa da taxa básica de juros. Em 2020, a
diversificação foi mais forte, não só títulos privados, como
verdes.
O
ESG abriu uma janela de oportunidade de investimento devido à
volatilidade provocada pela pandemia, dentro do dever fiduciário de
investir de uma forma rentável, mas cuidando do meio ambiente.
“Continuamos analisando novas emissões com títulos verdes para ver
se, de fato, faz sentido economicamente”, afirmou. Dessa forma, a
meta que era de 5%, chegou a 6% e a companhia agora quer ampliar.
“No longo prazo, vemos que essas empresas mais sustentáveis devem
perdurar, diminuindo o risco de crédito, o que justificaria uma
diminuição da taxa de investimento”, diz Liu.