Médicos querem aumento,
operadoras alegam que o setor como um todo apresenta apenas 0,3% de
resultado, pacientes acabam sendo prejudicados, e a discussão
permance
O movimento dos médicos pelo reajuste dos honorários
repassados pelas operadoras dos planos de saúde está longe de
acabar. Segundo o secretário de Saúde Suplementar da Federação
Nacional dos Médicos (Fenam), Márcio Costa Bichara, novas
paralisações não estão descartadas porque não houve avanços nas
negociações.
Bichara participou, nesta terça-feira, de audiência da Comissão
de Trabalho, que debateu a relação entre os profissionais e as
operadoras. De acordo com ele, essas empresas registraram mais de
100% de lucro nos últimos 10 anos, mas os honorários médicos não
acompanharam este aumento. Márcio Bichara afirma que o valor médio
da consulta atualmente é de R$ 45,00, enquanto o correto seria
cerca de R$ 80,00.
O secretário da Fenam avalia que a relação com operadoras é
conflituosa porque elas atuam como atravessadores. “Eles têm
que abrir mão um pouco do lucro exorbitante que eles estão tendo,
não é pequeno o lucro e à custa do honorário médico. A população
está sendo penalizada com esta postura das operadoras de planos de
saúde, já que o usuário paga a mensalidade todo mês.”
Segundo Bichara, “a assistência está muito a desejar”. Ele diz
que o atendimento médico nos hospitais das capitais é precário.
“Hoje, a média de atendimento na pediatria de urgência é de seis
horas. isso está quase equilibrando com o atendimento do Sistema
Único de Saúde (SUS).”
Planos rebatem médicos
Já o diretor executivo da Federação Nacional de Saúde
Suplementar (Fenasaúde), José Cechin, sustentou que uma ou outra
empresa bem gerida pode ter apresentado um bom lucro, mas o setor
como um todo apresenta apenas 0,3% de resultado.
De acordo com Cechin, as operadoras filiadas à Fenasaúde
reajustaram os repasses de honorários médicos em mais de 70%, entre
2005 e 2011. Ele ressaltou ainda que reajustar os repasses
representa aumento de custos, o que implica em prejuízo aos
usuários.
“Só há um pagador nessa história toda. Os R$ 80 bilhões que o
setor recolheu no ano que passou saíram do bolso de cada um dos 63
milhões de brasileiros que pagam seus planos de saúde. Não tem
outra fonte”, ressalta Cechin. “Reequacionar significa redistribuir
de um para outro. Você tira de quem para dar para quem? Se não
houver essa redistribuição, onde cai o ônus? Nós teremos coragem de
pedir a esses consumidores que aumentem bastante suas
mensalidades?”
ANS sugere saída
De outro lado, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS)
aponta um caminho. Segundo o diretor André Longo Araújo de Melo, a
ANS detectou o descumprimento de cláusulas contratuais de reajuste.
“Além das multas que são aplicadas às operadoras que não estão
cumprindo os contratos, a ANS também está publicando, nos próximos
dias, uma instrução normativa para tentar deixar mais claros as
formas de reajuste”, informa André Longo. “Ou seja, além da
livre negociação entre as partes, que se possa colocar nessa
negociação algum índice, caso não haja acordo entre as duas partes,
e também deixará mais clara a periodicidade desse
reajuste.”
No entanto, para os médicos, a solução da questão depende mesmo
é da aprovação do projeto (PL 6964/10) do Senado, atualmente em
análise na Comissão de Seguridade da Câmara. A proposta prevê
regras claras para o contrato de relação de trabalho com as
operadoras, além de um índice de reajuste anual e critérios de
credenciamento.
O presidente da Comissão de Seguridade, deputado Mandetta
(DEM-MS), que também participou da audiência, prometeu incluir o
projeto na pauta de votações.
Usuário prejudicado
O deputado Augusto Coutinho (DEM-PE), autor do requerimento para
a audiência, disse que a falta de um consenso prejudica quem paga o
plano de saúde. “Eu sei porque pesa para mim e para todos os
brasileiros. É lamentável porque o governo não dá atendimento
público condizente, não regula os planos para que sejam justos com
quem paga e não obriga as operadoras a cumprir seu papel.”
De acordo com o deputado, a Câmara
precisa responder, dando agilidade à tramitação de alguns projetos
que estão pendentes. “Precisamos apresentar uma legislação e
cobrar, efetivamente, dos planos de saúde o retorno que devem
dar.”