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Seguro de transporte está adaptado à dinâmica da logística no Brasil, diz Head da Argo

Fonte: CQCS Data: 03 setembro 2021 Nenhum comentário

Ivor Moreno projeta evolução do ramo atrelada à do setor de transportes e sugere conscientização para aumentar penetração entre pequenos transportadores

O Head de Transportador e Inovação da Argo Seguros, Ivor Moreno, projeta uma evolução do seguro de transportes atrelada ao desenvolvimento do segmento de logístico, que está a todo vapor. “E será a cada dia mais rápido, seja no micro processo (transporte por drone, bicicleta, patinete) ou no macro (navios e aviões cada vez maiores)”, destaca.

“Os aspectos burocráticos se tornarão mais dinâmicos, digitais e acessíveis. Operações com transferência de dados via API, por exemplo, já foram desenvolvidas e adequadas aos clientes e companhias”, explica.

Moreno afirma que é necessário mais conscientização para que o seguro alcance um grupo maior de pequenos transportadores, mas que “a situação já foi muito pior”. “Infelizmente, é comum buscarem proteção somente após algum problema e não como prevenção”. O executivo diz ainda que o segmento foi rápido para se adaptar ao boom do e-commerce. “Se o mercado demanda alteração, sempre haverá seguradora disponível para executar”, garante.

Por fim, avalia que o mercado de transportes reagiu à falta de segurança que prejudicou o desenvolvimento do seguro de transportes no Brasil durante muitos anos. “Temos uma das mais sofisticadas indústrias de proteção ao transporte de mercadorias, com um ecossistema único’.

Veja os principais trechos da entrevista exclusiva para o site do Sindseg SP.

Sindseg SP: A falta de segurança prejudicou o desenvolvimento do seguro de transporte rodoviário durante anos no Brasil. Como é o ambiente hoje? A tecnologia permitiu avanços no gerenciamento de risco? Seguradoras, embarcadores e transportadores estão alinhados nesse sentido?

Ivor Moreno: Há duas situações muito particulares que precisamos considerar para seguir em uma linha de entendimento nesse sentido.

–  Situação de transporte de cargas no Brasil

–  Dinâmica do mercado de seguros.

Na primeira situação, temos um país com dimensões continentais em que quase todo o transporte de cargas é feito por rodovias. Esse cenário aumenta o risco considerando a frequência dos eventos, quando falamos de acidentes, mas atenua do ponto de vista de grandes catástrofes já que as mercadorias estão pulverizadas em muitos caminhões.

Sobre a segurança, temos talvez uma das mais sofisticadas indústrias de proteção ao transporte de mercadorias. Todo o ecossistema que se desenvolveu no mercado brasileiro é único, obviamente que por pura necessidade nossa. Há diversos tipos de proteção desenvolvida, desde acompanhamento de veículos por escolta aérea (helicópteros) até microchips, instalados em cargas para pontuarem a localização física daquele bem em eventual acionamento. Também vemos a sociedade, de certa forma, através da segurança pública, se debruçando e discutindo cada vez mais esta mazela em foros específicos.

Isso demonstra que o mercado (principalmente embarcadores e transportadores) está se conscientizando que só com proteção é possível concluir essa etapa fundamental da indústria (transportar o bem de um lugar a outro).

É importante entender que tudo isso não aconteceu por uma exigência do mercado segurador que, talvez, tenha estimulado, mas não é motivador isolado do ecossistema de segurança desenvolvido no Brasil. É uma necessidade do segmento logístico se adaptar à região para conseguir cumprir a sua função.

É possível que em um passado não tão distante, algumas seguradoras eram restritas ao segmento de transportes, mas do ponto de vista da indústria do seguros, isso não é necessariamente relevante. A indústria de seguros vai sempre adaptar suas taxas à realidade do mercado. Se não houvesse segurança, as taxas de seguro seriam muito mais altas, mas ainda assim haveria seguradora ofertando condição. Provavelmente não teria consumidor para a condição oferecida.  

Nesse sentido, o segmento apresenta hora taxas mais altas e escassez na oferta, o que estimula os segurados melhorarem os seus riscos; e hora taxas mais baixas e excesso de oferta, o que, pelo oposto, promove segurados menos atentos ao risco. Esse movimento sempre vai existir, é um ciclo conhecido na indústria de seguros e o que muda de uma linha de seguros para outra é a velocidade do ciclo.

Nesse momento, podemos afirmar que estamos caminhando para um mercado com excesso de capacidade e taxas baixas. Provavelmente, em pouco tempo estaremos novamente nos deparando com taxas altas e falta de seguradoras, completando o ciclo do seguro e iniciando outro. Com uma dinâmica mais rápida, é verdade, porque o segmento de logística é um mercado de frequência e não de severidade.

Sindseg SP: Como a recente explosão no e-commerce impactou o mercado? As seguradoras estavam preparadas para o fenômeno? Estão conseguindo atender a demanda desse mercado? Quais as características dos produtos mais demandados pelo segmento?

Ivor Moreno: As seguradoras se adaptaram muito rapidamente porque nossa função é suportar e dar tranquilidade aos clientes. O seguro de transporte deve garantir a integridade do bem transportado do ponto A para o ponto B e isso não mudou. As mercadorias passaram a ir direto para o consumidor final, mas essa foi uma adaptação muito maior para o mercado logístico que fisicamente precisou se adaptar.

Por outro lado, em termos burocráticos – quantidade de documentos, averbações, processos de sinistros -, o volume explodiu. Mas o valor médio do sinistro diminuiu, já que o risco se pulverizou.

Claro que fizemos algum tipo de adaptação em nossos procedimentos, como documentação mais simplificada, aperfeiçoamento dos sistemas para processar a operação completa, mas isso dependeu mais das características de cada companhia. Uma coisa é certa, no entanto: se o mercado demanda alteração, sempre haverá seguradora disponível para executar. Quem não se adaptar vai perder negócio, mas não vai haver falta de oferta por alterações na dinâmica da logística.

Sindseg SP: O seguro de cargas chega ao pequeno transportador? O que falta para o acesso ser maior?

Ivor Moreno: É um ponto muito interessante e a situação já foi muito pior. Hoje, há algumas situações que praticamente obrigam um transportador a ter seguro, principalmente: 

– emissão de conhecimento de embarque eletrônico, registrado na Receita Federal;

– inclusão do número da averbação de seguros no conhecimento de embarque eletrônico. 

Estas obrigações enquadram praticamente 95% de toda operação de transporte rodoviário no país. 

Ainda assim, há muitas operações que não contratam seguro, normalmente realizadas por pequenos e micro transportadores que talvez sejam os que mais precisam de proteção. Para esses casos, a conscientização é um caminho, mas hoje ela ocorre mais pelo processo de sofrimento do que pelo do entendimento. Infelizmente, muitos segurados buscam proteção somente após algum problema em suas operações e não como prevenção.

Sindseg SP: Como será o mercado do seguro de transportes em 10 anos? Quais são as tendências já observadas? 

Ivor Moreno: Podemos afirmar que a evolução da logística não para e vai ser a cada dia mais rápida, seja no micro processo (transporte por drone, bicicleta, patinete) ou no macro (navios e aviões cada vez maiores e com mais capacidade). E o seguro de transportes estará sempre disponível.

Possivelmente, passaremos por um novo ciclo de seguros (comentado na pergunta 1) com redução de taxas, com posterior aumento e consequente nova redução. Enfim, o ciclo do seguros não deixará de existir tal como a função do mercado de seguros de transporte que é garantir a integridade da carga sendo transportada do ponto A ou B.

É certo que os aspectos burocráticos se tornarão mais dinâmicos, digitais, acessíveis, acompanhando a evolução do segmento logístico. Como por exemplo, operações com transferências de dados via API já foram desenvolvidas e adequadas aos segurados e seguradores.

 

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