Por meio do Lean Healthcare 60% dos
pacientes são atendidos em até 30 dias e destes 60%, 40% em até 15
dias
Na maioria dos tratamentos de câncer, o tempo de
espera entre a triagem e a autorização para seu início ultrapassa
30 dias. Após este tempo, o paciente, em geral, ainda tem que
esperar uma vaga para a quimioterapia, radioterapia ou cirurgia,
que chega a ultrapassar três meses.
No Instituto do Câncer Dr. Arnaldo Vieira de
Carvalho (ICAVC), este processo demorava entre 40 a 80 dias.
Entretanto, com a implementação do projeto de lean healthcare, o
instituto reduziu este tempo para entre sete e 30 dias, sendo que
60% dos pacientes são atendidos em até 30 dias e destes 60%, 40% em
até 15 dias.
De acordo com a entidade estão sendo economizados cerca de R$ 400
mil por mês, não havendo necessidade de novas contratações ou
compra de leitos.
O ICAVC, primeira instituição brasileira destinada ao estudo e
tratamento do câncer, atende mensalmente cerca de 12.400 pacientes
dos Sistemas Único e Privado de Saúde. Do total de pacientes
atendidos pelo SUS, o hospital é responsável por 24% das
quimioterapias da cidade de São Paulo e 8% de todo o Estado. O
Instituto atende, também, 11% das aplicações de radioterapia e
responde por 2% das internações no Estado de São Paulo.
Implantação
O projeto de lean healthcare, realizado pela Hominiss Consulting,
empresa especializada em desenvolvimento e implementação de
Sistemas de Produção Enxuta, teve duração de oito meses e se
encerrou em outubro de 2011.
Esta primeira fase consistiu na gestão de processos de melhoria na
área de quimioterapia da unidade. Em julho deste ano, o ICAVC deu
início a segunda fase do projeto, que tem como objetivo expandir o
trabalho para as demais áreas,
Para o Diretor Administrativo do ICAVC, Pascoal Marracini, o
principal ganho do instituto foi na redução do tempo de espera do
paciente para o início do tratamento. “Nossa maior preocupação era
atender os pacientes assim que diagnosticados, já que um tratamento
tardio pode reduzir drasticamente as chances de combate à doença.
Este ganho em agilidade no atendimento, o que culmina em qualidade
de vida, é imensurável. A economia financeira também foi muito
importante para o hospital, já que acaba cobrindo nosso déficit
mensal”, afirma.
Para Marracini, os resultados imediatos foram possíveis com a
colaboração e o envolvimento de todos os funcionários. “No começo
houve um pouco de resistência, o que é normal quando as pessoas têm
que sair da sua zona de conforto. Mas, logo nas primeiras semanas
essa barreira foi quebrada e muitas solicitações foram feitas pelos
próprios funcionários. Desde o começo mostramos que as mudanças não
iriam gerar mais trabalho, mas sim, um melhor aproveitamento das
horas trabalhadas”, diz.
Processos
De acordo com a instituição o sucesso do projeto deveu-se à
observação do fluxo de pacientes como um todo, desde a triagem,
passando por consulta médica, exames, autorização do SUS até o
inicio do tratamento de quimioterapia. Para aplicar o conceito
Lean, inicialmente foi feito um mapeamento geral das necessidades
do hospital, onde foi possível identificar os principais pontos que
necessitavam de melhorias.
A entidade ressalta, em nota, que todos os ganhos obtidos ocorreram
sem nenhum tipo de investimento, apenas organizando o fluxo do
paciente quimioterápico, padronizando algumas operações de
enfermagem e otimizando a programação de chegada dos pacientes.
Em ambientes hospitalares, existem diversos tipos de desperdícios,
tais como: pacientes aguardando atendimento/diagnósticos; excesso
de medicamentos na farmácia; radiografias com baixa qualidade de
imagem, transporte excessivo de pacientes dentro do hospital, e
outros.
De acordo com o ICAVC, um dos setores que mais sofria com o
desperdício de tempo era a área responsável pelo agendamento dos
pacientes. Sem horário marcado, os pacientes eram atendidos por
ordem de chegada, o que ocasionava fila e um volume maior de
pacientes nos primeiros horários da manhã. Hoje, eles são atendidos
com hora previamente agendada, equilibrando o fluxo de pacientes
durante todo o dia.
Além disso, o Instituto reduziu em 60% o tempo de espera dos
pacientes no dia da sessão de quimioterapia. Antes da aplicação do
lean healthcare, o tempo que o paciente ficava esperando para
receber a medicação podia chegar a cinco horas. Atualmente, a
espera é de, no máximo, duas horas.
Outro desperdício de tempo e movimentação diagnosticado foi em
relação à entrega dos resultados dos exames. Antes do projeto, os
resultados eram entregues para o paciente apenas quando todos os
exames estivessem prontos, aumentando o tempo de espera para início
do tratamento. “Em uma amostra de sangue é possível realizar
diferentes exames. Antes o paciente precisava aguardar todos os
resultados para iniciar o tratamento, hoje, o laboratório envia o
resultado de cada análise e o paciente já pode ser atendido, pois
alguns exames não são fundamentais para determinar o início do
tratamento. Além disso, agora os resultados são enviados via
e-mail, e não mais por uso de serviço de motoboy”, afirma Ronaldo
Mardegan, Sócio Diretor da Hominiss Consulting e especialista em
lean healthcare.
Para Marracini, os projetos de Produção Enxuta terão grande avanço
na área da saúde. “Muitas empresas ainda se assustam com o lean
manufacturing, uma vez que ele nasceu das necessidades do setor
automotivo. Mas, essa prática pode ser muito bem utilizada pelo
setor da saúde, já que os processos são similares e os resultados
são obtidos imediatamente e sem grandes investimentos”, afirma.