Na pandemia, o setor animal
cresceu com a alta da adoção e compra de bichos domésticos no
país
A
assistente administrativa Priscila Ascencio, de 30 anos, chegou a
desembolsar R$ 2.000 em um único mês em consultas e exames para uma
de suas cadelas pinscher, em tratamento contra a leishmaniose.
Com
o aperto financeiro durante a pandemia e a inflação, que atingiu
até a ração dos cachorros, ela descobriu em um plano de saúde para
pets uma forma de economizar e reforçar o cuidado com os animais de
estimação.
“Ela
morreu, mas hoje pago o plano para a Lara, a mais velha dos meus
quatro cachorros. Ela nunca tinha feito exames de rotina, mas vai
fazer agora. Achei melhor pagar R$ 120 por mês do que tirar R$
2.000 do bolso de uma vez de novo, se acontecer alguma coisa”,
afirma ela.
Priscila faz parte de uma tendência: enquanto a maior parte dos
setores econômicos sofreu uma derrocada durante a pandemia, o setor
de planos de saúde para pets recebeu investimentos milionários
neste ano.
A PetLove, grupo de serviços para
pets que inclui um plano criado pela Porto Seguro, recebeu aporte
internacional de R$ 750 milhões, por exemplo, e viu sua base de
usuários conveniados aumentar 15% desde 2019.
Outro plano, a Plamev, recebeu
suporte do fundo de investimentos FIR Capital neste ano e planeja
quadruplicar a base de clientes, após lucros de R$ 5 milhões em
2020.
O setor ganhou impulso na pandemia,
com a alta da adoção e compra de animais domésticos e aumento do
tempo dos tutores em casa.
“As
pessoas começaram a ter mais atenção aos pets, e isso se reflete em
maior cuidado e despesas. Elas começam a pesquisar serviços para
eles e naturalmente encontram os planos de saúde. Oitenta por cento
dos pets morrem por falta de check-up, de prevenção”, analisa o CEO
da Plamev, Pedro Svacina.
Como
os planos de saúde para humanos, os convênios para pet variam de
valor e de cobertura: há desde serviços de menos de R$ 15 mensais,
que cobrem consultas anuais e orientações telefônicas de
veterinários, até aqueles que passam dos R$ 400 e cobrem a maior
parte dos procedimentos cirúrgicos dos bichinhos.
“Pessoas das classes A e B são a maior parte da nossa base, porque
uma castração particular, por exemplo, não é menos de R$ 600. E,
geralmente, são as mulheres das famílias que contratam o plano, 70%
da nossa base é de mulheres”, detalha Svacina.
Grupo mineiro investe R$ 2,5
milhões
Neste mês, foi inaugurada a empresa
Au!Happy, plano de saúde criado pelo grupo mineiro First com um
investimento de R$ 2,5 milhões.
Os
planos começarão a ser disponibilizados em novembro, variando de R$
47,99 a R$ 157,90. Por ora, a empresa adquiriu mil microchips, que
serão utilizados para identificar os animais na rede credenciada, e
trabalha com o cadastramento de mais serviços de saúde.
“Não
visamos só às pessoas que já tenham animal com alguma doença. É
como um plano para humanos: nós não temos intenção de usar, mas não
sabemos das eventualidades que podem acontecer. Vamos começar por
BH, onde temos 200 clínicas cadastradas, mas existe grande demanda
em São Paulo e em Cuiabá”, diz o fundador da empresa, Rodrigo
Felipe.
A
Ciclic, plataforma de seguros da BB Seguros, também passou a
oferecer um plano de assistência à saúde para pets neste mês. No
começo do ano, o serviço já permitia que os animais de estimação
fossem incluídos como dependentes no seguro de saúde
humano.
“Um
de cada sete nos nossos clientes incluía o animal no plano. A
pandemia acelerou o mercado. Hoje, o plano cobre cirurgias, exames,
hotelzinho, vacinas e plano funeral, por exemplo, além de
fisioterapia e acupuntura, tratamentos que têm aumentando cada vez
mais”, detalha a gestora de produtos da Ciclic, Lara
Monnerat.
Abrangência
Antes de contratar um plano de saúde para o pet, o tutor deve
conferir que tipos de exames e procedimentos são cobertos e qual é
a abrangência da rede credenciada, orienta o presidente da
Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais de
Minas Gerais (Anclivepa-MG), Abílio Domingos.
“Posso contratar um plano que oferece vacinação anual, duas
consultas por ano, um tratamento periodontal e pronto, em um valor
que se pague no ano. Mas pode ser que serviços mais elaborados,
como cirurgias complexas, tomografias e ultrassons, não estejam
cobertos”, pontua ele.
Independentemente da adoção de planos de saúde, os bichinhos devem
ser levados ao veterinário periodicamente, mesmo que não apresentem
sintomas, justamente para evitar problemas de saúde.
“Animais jovens devem fazer check-up uma vez por ano, e os idosos,
a cada seis meses. A medicina curativa, em vez da preventiva, tem
eficácia menor e custo maior”, completa.