Mesmo com a alta dos juros, as perspectivas
para a economia mantêm-se positivas. Instituições financeiras já
elevam as projeções de crescimento do PIB em2010 e, no curto prazo,
o destino está traçado. A incapacidade de nossa economia em lidar
com a demanda atual foi o motivo para a elevação dos juros e
evidencia a necessidade de investimentos.A dificuldade do governo
para direcionar recursos a obras de infraestrutura apresenta-se
como um entrave ao crescimento. Diante dessa realidade, parece
equivocada a ideia de criação de estatais para suprir demandas que
a iniciativa privada está apta a atender. É o caso da proposta de
criação de uma seguradora estatal para operar na área de garantia-
infraestrutura.
Em grandes projetos, as seguradoras formam consórcio para dividir
riscos e repassam os excedentes ao mercado ressegurador, e são
fortes formadoras de poupança nacional: suas reservas em 2009
totalizaram R$ 240 bilhões. Em resseguros, o governo ainda
apresenta participação expressiva. Mesmo coma quebra do monopólio
estatal, o IRB Brasil RE fechou 2009 com 80% de participação. Com
estrutura de capital dividida entre o Tesouro e um pool de 25
seguradoras privadas, o IRB está na mira do Banco do Brasil.
Nesse sentido, não vejo problemas na competição das seguradoras
privadas com as ligadas às empresas controladas pelo governo.
Recentemente o BB anunciou aliança com uma seguradora para
desenvolvimento e comercialização de seguros em diversos
segmentos.
Um dos principais bancos do país revelou ainda sua intenção de
internacionalizar a área de seguros.
Internamente, os bancos controlados pelo governo saíram-se muito
bem na crise. Enquanto as instituições privadas mostraram-se
conservadoras e retraíram suas participações no mercado de crédito,
o BB e a Caixa Econômica ampliaram o volume de recursos
disponibilizado. Não há como negar que essas instituições foram
relevantes quando o governo agiu para manter a confiança dos
mercados. Ainda que demonstrem sua importância, é preciso lembrar
que esses bancos já estão estruturados e são capazes de financiar
as próprias estratégias de negócio. Por outro lado, investir
recursos escassos da União na estruturação de novas empresas
estatais no setor financeiro representa um desvio importante do
foco a ser mantido pelo país.
Já conhecemos os riscos da estratégia de manutenção do crescimento
por meio do uso abusivo de poupança externa. Os problemas da década
de 80 deixaram marcas que perduram até hoje. Não temos como chegar
nem perto do índice de poupança da China (cerca de 40% do PIB), o
que nos permitiria manter as taxas de crescimento observadas no
primeiro trimestre.
Vivemos uma realidade diferente, na qual o regime democrático
convive com a grande desigualdade social.
Esse fato nos impede de sonhar com a ampliação da taxa de poupança
interna além dos 20% do PIB.
Precisamos direcionar recursos escassos de investimento para
projetos e atividades essenciais, sob o risco de perdermos a
oportunidade para concretização do sonho de construção de uma
grande nação.
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