Uma pesquisa britânica explicou a forma como as células de
câncer se aproveitam do 'caos' de seu código genético para se
espalhar pelo corpo.
Segundo os cientistas responsáveis pelo estudo, as células de
câncer que formam um tumor são muito diferentes entre si e, assim,
tornam-se mais resistentes aos medicamentos, facilitando sua
proliferação.
A pesquisa, publicada na revista especializada Nature, constatou
que as células de câncer que usavam sua matéria-prima ficavam
"estressadas" e cometiam erros ao fazer cópias de seus códigos
genéticos.
A maioria das células normais no corpo humano tem 46
cromossomos. No entanto, algumas células cancerosas podem ter mais
de 100 cromossomos.
Além disso, tal padrão é inconsistente: células cancerosas podem
ter números diferentes de cromossomos entre si.
Para os cientistas, essa diversidade ajuda os tumores a não
serem afetados pelos tratamentos e a 'colonizarem' novas partes do
corpo.
Caos e ordem
Os cientistas da organização Cancer Research UK e do Instituto
do Câncer do University College de Londres tentam descobrir como o
câncer se transforma em algo tão diverso, com células tão
diferentes entre si.
Anteriormente se acreditava que, quando uma célula cancerosa se
separava para criar duas novas células, os cromossomos não eram
divididos de forma igual entre as duas.
No entanto, Charles Swanton, que liderou a pesquisa, realizou
exames células de um câncer no intestino e concluiu que "há pouca
prova" de que isso ocorre.
Cânceres são levados a fazer cópias deles mesmos. No entanto, se as
células cancerosas não têm mais os tijolos de construção de seu
DNA, elas desenvolvem o chamado "estresse de replicação de
DNA".
De acordo com a pesquisa, é a partir desse "estresse" que surgem
os erros e os tumores diversos.
"É como construir uma ponte sem todos os tijolos e cimento o
bastante para as fundações. Contudo, se você pode fornecer os
blocos de DNA, você pode reduzir o estresse de replicação e limitar
a diversidade nos tumores, o que pode ser terapêutico", afirmou
Swanton.
O professor admitiu que "parece errada" a ideia de que pode ser
terapêutico fornecer o combustível para o crescimento de um
câncer.
Mas o pesquisador afirmou que o estudo prova que o estresse de
replicação era a raiz do problema e que novas ferramentas podem ser
desenvolvidas para lidar com isso.
Os pesquisadores identificaram três genes perdidos com frequência
em células de câncer de intestino diferentes, que foram muito
importantes para o câncer que está passando pelo processo de
estresse de replicação de DNA. Todos estavam localizados em uma
região do cromossomo 18.
"Esta região do cromossomo 18 é perdida em muitos tipos de câncer,
sugerindo que este processo não é visto somente no câncer de
intestino", afirmou o professor Nic Jones, cientista-chefe da
organização Cancer Research UK.
"Cientistas agora podem começar a procurar formas de evitar que
isto ocorra ou usar esta instabilidade contra o câncer",
acrescentou.
Os próximos estudos vão investigar se esse mesmo estresse causa
a diversidade em outros tipos de tumores.