Medicina personalizada, centrada no paciente, faz com
que médicos desempenhem um papel muito menos importante e o
paciente, por sua vez, um papel mais importante do que o de
hoje
Enquanto a palavra de ordem da TI em saúde é gestão da saúde
populacional, Eric Topol, doutor em medicina, diretor do Instituto
Scripps de Ciência Translacional, acredita que a medicina deva ser
praticada em nível mais personalizado. Em vez de tratar da mesma
maneira todos os pacientes com a mesma condição, médicos devem
começar a se aproveitar de novas ferramentas tecnológicas, como
sequência genômica, para moldar sua abordagem às diferenças
individuais, disse Topol aos presentes no HIMSS, um dos principais
eventos de TI em saúde, em Nova Orleans (EUA)
Em um amplo discurso, Topol destacou sua visão sobre um estilo
de medicina personalizada, centrada no paciente, em que os médicos
desempenham um papel muito menos importante e o paciente, por sua
vez, um papel mais importante do que o de hoje. Neste cenário,
consumidores irão utilizar uma variedade, de rápida proliferação,
de aplicativos móveis de saúde e sensores corporais para
diagnosticar e tratar a maioria de suas indisposições.
Para começar, observou o médico, os consumidores usariam
sensores para medir não só atividades, mas também sinais vitais e
funções corporais. Alguns dispositivos podem rastrear ondas
cerebrais enquanto a pessoa dorme. Dispositivos atuais, que podem
ser presos ao dedo, apontou Topol, já podem medir batimento
cardíaco e o nível de oxigênio no sangue e transmitir os dados para
um smartphone. Consumidores podem utilizar essas ferramentas em vez
de irem dormir em uma clínica do sono ou hospital, disse ele.
Topol exibiu um “monitor UTI”, que muito se parece com um
relógio de pulso de Dick Tracy, que pode registrar sinais vitais
como pressão arterial, batimento cardíaco e saturação de oxigênio e
enviar as informações para um smartphone. No futuro, disse, teremos
também dispositivos em casa que poderão mostrar se uma criança está
com infecção no ouvido. Outros dispositivos serão capazes de
analisar o discurso para diagnosticar mal de Parkinson ou analisar
a respiração de uma pessoa para medir o funcionamento dos pulmões
ou diagnosticar câncer pulmonar.
Tudo isso – combinado com o aumento do acesso do consumidor ao
seu próprio registro médico, autoeducação via Web e comunidades de
redes sociais – irá ajudar a corrigir o desequilíbrio de
informações que existe hoje entre médicos e pacientes, de acordo
com Topol. Em algum momento, disse ele, os pacientes serão capazes
de realizar, sozinhos, a maioria dos exames médicos, sem a ajuda de
um médico. Os hospitais servirão apenas para cuidados intensivos,
enquanto a maioria dos pacientes será monitorada remotamente, em
casa.
Topol vê a medicina genômica como uma revolução, devido ao seu
potencial de personalizar os cuidados aos pacientes. Observando que
todo o genoma de uma pessoa pode ser sequenciado em poucas horas e
por alguns mil dólares, ele prevê que, em algum momento, a maioria
dos pacientes terá o genoma sequenciado, podendo ser
apropriadamente cuidado quando doente.
A revolução genômica, segundo ele, já levou a uma grande mudança
na forma como cientistas lidam com o tratamento de câncer. Em um
tipo de melanoma maligno, contou ele, pacientes tiveram 85% de
resposta ao tratamento quando definidos especialmente para eles. Em
contraste, observou, apenas 30% dos pacientes com artrite
reumatoide respondem a três medicamentos para a condição, que
juntos custam US$ 30 bilhões por ano.
Com pesquisas de ponta, organizações como a Scripps estão
tentando combinar dados genômicos com sensores pessoais que podem
ser introduzidos em indivíduos. Um sensor da metade do tamanho de
um grão de areia, que o Scripps está desenvolvendo em colaboração
com a Caltech, pode ser introduzido no corpo de uma pessoa e
prevenir morte por parada cardíaca, ao detectar rachaduras nas
artérias, disse ele. Se uma surge, um telefone celular toca.
Este tipo de tecnologia, segundo ele, irá, um dia, mudar o
relacionamento entre médicos e pacientes. Enquanto este
relacionamento é, hoje, baseado em assimetria de informações, isso
vai mudar quando pacientes tiverem acesso a informações sobre seu
próprio DNA. Uma recente pesquisa mostrou que 81% dos pacientes
gostariam de ter o genoma sequenciado. A Associação Americana de
Medicina, de acordo com Topol, disse que isso deve ser realizado
sob a orientação de um profissional de saúde. Topol discorda,
porque essa informação – assim como histórico médico – pertence ao
individuo.
Existem sinais de que os médicos estão começando a mudar de
atitude em relação ao compartilhamento de informações, disse ele.
Por exemplo, ele se referiu a um recente estudo de compartilhamento
de observações médicas com pacientes. Muitos médicos foram contra
no início, mas depois de começaram a compartilhar suas observações
com os pacientes, mudaram de ideia.
A tecnologia Blue Button, que permite que consumidores baixem
facilmente seus registros médicos, é outro passo na direção certa,
afirmou Topol.
Ele mencionou, também, a tendência de big data, destacando o enorme
aumento na quantidade de dados de saúde conforme os sistemas foram
digitalizados nos últimos anos. Supercomputadores, como IBM Watson,
disse ele, serão necessários para “distinguir barulho de
sinais”.