A superbactéria New Delhi metallo-B-lactamase-1 (NDM-1) teve seu
primeiro registro no Brasil neste ano com a identificação de cinco
pacientes que passaram pelo Hospital Conceição, no Rio Grande do
Sul. Os primeiro registros no mundo datam de 2009, na Índia. A
disseminação mundial é atribuída ao turismo médico no sul asiático,
onde europeus e americanos buscam tratamento médico ou cirurgias
cosméticas mais baratas e voltam com a bactéria para seus
países.
Nesta semana, 15 leitos da UTI do Hospital Conceição foram
interditados pelo Ministério da Saúde, mas ainda não foram
divulgados maiores detalhes sobre o histórico desses pacientes. O
NDM-1, na verdade, não é exatamente uma bactéria, mas um mecanismo
de resistência que se apresenta em diferentes bactérias
neutralizando a ação dos antibióticos. Uma superbactéria semelhante
é a Klebsiella pneumoniae carbapenemase (KPC), sendo que esta teve
177 casos confirmados no mesmo hospital no ano passado.
“São bactérias que sofreram modificações genéticas e adquiriram
resistência à maioria dos antibióticos que são utilizados nos
tratamento de infecções. Ela possui uma enzima que degrada o
antibiótico, que deixa de ter efeito sobre ela, daí a gravidade, e
com isso os médicos têm que usar antibióticos muito mais nocivos”,
explica a presidente da Associação Brasileira de Biosegurança,
Leila Macedo. A transmissão ocorre por meio de instrumentos médicos
ou falta de higiene adequada.
Leila não ainda descarta que haja casos não notificados por
conta da falta de controle. “Pelo fato de a gente não ter uma
vigilância, pode ser que tenham tido outros casos que não tenham
sido notificados”.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) notificou
casos de NDM-1 na Guatemala, em 2011, e no Paraguai, Uruguai e
Colômbia, em 2012. Um estudo da publicação médica Lancet,
divulgado há dois anos, alertava para a disseminação do NDM-1,
principalmente na Índia. Naquele país, as condições de higiene dos
hospitais e a falta de adequação no descarte do lixo hospitalar têm
contaminado o solo e a água em áreas de grande densidade
populacional, sendo que a bactéria foi encontrada até nas fezes de
aves próximas de hospitais.
Como se não existissem antibióticosSegundo estudos, é
preocupante a resistência que essas bactérias têm a antibióticos
carbapenêmicos (os mais poderosos existentes, utilizados para
combate infecções hospitalares). Boletins da Organização Mundial da
Saúde (OMS) seguem a mesma linha, dizendo que o mecanismo de defesa
dessas bactérias pode fazer com que não exista tratamento
eficiente, como se voltássemos ao cenário anterior ao descobrimento
da penicilina, quando não havia antibiótico algum.
No Brasil, soma-se a isso as deficiências do nosso sistema de
atendimento e vigilância, sem contar com a proximidade de eventos
como Copa das Confederações, Copa do Mundo e Olimpíadas, quando
milhares de turistas devem entrar no País. Leila compara a
realidade brasileira com o trabalho que é feito na China, por
exemplo, com a contenção da nova gripe aviária. “Os chineses têm
feito todo um bloqueio, um procedimento para que não piore a
situação. Aqui a gente tem muita dificuldade de fazer esse tipo de
vigilância, investigação e bloqueio”, compara.
Os dois primeiros casos de NDM-1 foram identificados em março,
em Porto Alegre, mas a Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa) só foi emitir um comunicado para as comissões de controle
de infecção hospital e para as coordenações estaduais de controle
de infeção um mês depois. O governo federal, responsável pela
administração do hospital onde foram identificados os casos de
NDM-1, determinou que fossem adotadas ações de prevenção e controle
no local, e pediu que fosse feito um levantamento da situação. O
bloqueio dos leitos da UTI só foi ocorrer em maio, e agora devem
passar por um processo de higienização.
“Existem procedimentos de biossegurança que devem ser adotados,
mas existe uma um conjectura para isso também. Não vai ser
atendendo 300 pacientes que ele (o profissional de saúde) vai
melhorar essa situação”, afirma Leila.
KPCDentro do Hospital Conceição, não é apenas o NDM-1 que
preocupa. Documentos internos do hospital mostram que o KPC teve um
aumento significativo. Eram dois casos em 2009, mas o número subiu
para 177 no ano passado. Segundo a Associação de Servidores do GHC,
a média de casos dessa superbactéria em 2013 é de 25 por mês.
O presidente da associação, Arlindo Ritter, diz ainda que o
Hospital Conceição opera superlotado, com pacientes nos corredores,
o que inviabiliza a higienização adequada por parte dos
funcionários, o que piora ainda mais a situação.
Segundo ele, a administração do hospital, que responde por mais
de 30% das internações realizadas pelo SUS em Porto Alegre, é muito
prejudicada pelas indicações políticas que ocupam cargos que
deveriam ser desempenhados por especialistas técnicos.