Falar de acreditação é esbarrar em declarações que confirmam,
obviamente, a importância da busca incessante pela excelência na
qualidade dos serviços prestados. É verificar, ainda, que num
universo de cerca de 12 mil laboratórios (segundo estimativas do
mercado) espalhados pelo Brasil, há muito chão para que as
adequações se universalizem e alcancem, de fato, cada simples exame
feito nos chamados rincões deste País. E é ainda procurar entender,
afinal de contas, apesar de um cenário em que a tendência é que as
normas cheguem a cada vez mais lugares, por que o número de
laboratórios certificados não chega nem a 3% do total?
Apesar da pequena abrangência, os números estão em constante
mudança, visto que novos centros passam por auditorias a todo
momento. Existem hoje por volta de 315 laboratórios certificados no
País, sendo pouco mais da metade pela norma DICQ, da Sociedade
Brasileira de Análises Clínicas (SBAC), cerca de um terço pela
PALC, da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina
Laboratorial (SBPC/ML), e a menor parcela, em torno de 40, pela
ONA, a Organização Nacional de Acreditação. Isso corresponde a 2,6%
daquele universo de 12 mil laboratórios no País.
“A partir da regulamentação do funcionamento dos laboratórios pela
Anvisa na RDC 302 em 2005 [definiu os requisitos básicos para a
prestação dos serviços], a busca pela acreditação passou a ser mais
constante, aponta o consultor da Lab Consultoria, Paulo Ribeiro,
especialista em assessorar laboratórios na conquista da
acreditação. De acordo com ele, o que era opcional se tornou
praticamente obrigatório. “E tenho percebido um crescimento
exponencial nesse campo por alguns aspectos: primeiro, as normas
estão bastante aplicáveis, elas têm um entendimento peculiar
dedicado ao laboratório; segundo, a legislação, já que depois de se
adequar às regras de funcionamento, falta muito pouco para se
acreditar; e terceiro a questão mercadológica, com os laboratórios
cada vez mais divulgando esses parâmetros e a sociedade
pressionando a busca pela qualidade com resoluções normativas”,
afirma Ribeiro.
Aí entramos no aspecto financeiro. Para o consultor, há uma
dificuldade principalmente em centros de pequeno e médio porte em
destinar recursos para os investimentos necessários no processo de
acreditação. Um dos 29 laboratórios que está trabalhando com a Lab
Consultoria, o Lawall, de Juiz de Fora-MG, concorda com a
avaliação.
“Geralmente é preciso investir em pessoal, seja um novo funcionário
ou uma equipe para cuidar da qualidade”, explica o diretor do
laboratório mineiro, Chafic Lays. O executivo ressalta também a
necessidade de investimento em softwares que geram vários tipos de
registros e indicadores como, por exemplo, o tempo que o paciente
leva da hora que chega à recepção até receber o resultado do exame,
o que, segundo ele, demanda um cálculo pontual em todas as áreas do
laboratório. “E o nosso maior problema é que a qualidade é muito
cobrada, o que eu acho certo e bastante válido, mas a gente precisa
investir sem ter nenhum repasse. São mais de dez anos sem reajustes
nas tabelas, a do SUS já está com 15 anos, e isso complica um
pouco. Temos de pensar numa engenharia financeira”, completa
Lays.
No caso do Lawall, a Lab Consultoria foi procurada há mais de um
ano e a escolha foi pela norma DICQ. Agora, depois de passar por
uma série de adequações, a auditoria está marcada para novembro.
Além disso, como membro da Associação Brasileira de Biomedicina,
Lays conta que há um estudo sobre minimizar essa falta de recursos.
“Estão pensando um tipo de financiamento, algum incentivo com a
chancela do governo, para ajudar os laboratórios, porque estão
tendo de pedir empréstimos para implantar qualidade. E no nível que
está, essa conta está muito alta”.
Apesar desse ponto, o diretor de acreditação e qualidade da
SBPC/ML, Wilson Shcolnik, discorda de tantas dificuldades
apresentadas por alguns laboratórios. “Passados mais de 15 anos do
início da era de acreditação no País, entendo que houve tempo
suficiente para os laboratórios se prepararem. O estímulo que
faltava veio agora, com a publicação das resoluções normativas pela
Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), que darão
reconhecimento público amplo aos serviços acreditados. Assim, temos
tido uma procura crescente, inclusive de algumas redes
verticalizadas, de operadoras de planos de saúde, que também têm
nos procurado”, explica.
Segundo Shcolnik, os cerca de 109 laboratórios acreditados pela
norma PALC, o que parece pouco em termos absolutos, correspondem a
quase 40% da totalidade dos exames realizados no Brasil. Agora, a
associação lançou a versão 2013 desta norma, e os auditores
passarão a exigir o cumprimento dos novos itens em junho de 2014.
“A PALC 2013 vem com uma revisão e consequente atualização, quando
necessária, de todos os itens já existentes, além da criação de
novos, particularmente em gestão de sistema de informações
laboratoriais, uma vez que a evolução tecnológica é rápida e essa
ferramenta é imprescindível para um laboratório”, afirma a gestora
técnica da PALC na SBPC/ML, Carla Chaves.
E quem já se prepara para essa atualização é a Dasa, que
corresponde a 28 marcas por todo o País, como Lavoisier, em São
Paulo, Sérgio Franco, no Rio de Janeiro, e Frischmann Aisengart, no
Paraná, sendo que todos os exames do grupo têm acreditação PALC. “O
grande desafio é, além de conquistar a acreditação, manter esse
sistema vivo, olhando a prática diária”, diz a diretora de
qualidade da Dasa, Fabiana Barini.
“Eu já fui coordenadora de cursos da vigilância sanitária para os
laboratórios e, digo, o custo da não qualidade é maior que o custo
da qualidade. Não controlar pode gerar desperdícios maiores que
qualquer investimento. O possível gargalo eu não vou dizer que é o
dinheiro, mas sim tem a ver com o executivo que está à frente de
tudo. Ele tem de acreditar e querer qualidade”, explica a executiva
e acrescenta que as normas estão bem didáticas e que implementar
significa trabalhar com previsibilidade, menos desperdício e com
menos repetição de trabalho. “E isso dá para fazer num custo quase
zero”, completa.
Além da PALC, diversos centros do grupo buscam outras homologações
internacionais como a 17025 no Frischmann Aisengart, de Curitiba,
certificação que torna o laboratório o primeiro a alcançar este
nível para análises de paternidade. A acreditação na norma ISO
17.025 é feita por técnicos do Inmetro, que acompanham por 60 horas
todo o processo do exame, da coleta das amostras à emissão do
laudo. “O que a gente estimula é essa melhoria interna de cada uma
das regionais. Ver em que nível estamos, onde temos de chegar e ter
uma equipe de qualidade coordenando esse cenário no grupo”,
finaliza Fabiana.
QUALISS
O Programa de Qualificação de Prestadores de Serviços de Saúde
(Qualiss), desenvolvido pela ANS, é um agente que tem sido visto
com bons olhos como um estímulo para quem busca melhorar o nível
dos laboratórios. Ele está dividido em duas frentes, ambas
consideradas importantíssimas pelo diretor de acreditação e
qualidade da SBPC/ML, Wilson Shcolnik:
• Divulgação da Qualificação dos Prestadores de Serviços: “Esse
programa representa um marco importante, visto que de forma
pioneira introduziu um novo vetor, diferente dos preços, que poderá
nortear a contratação de serviços. As operadoras com mais de 100
mil beneficiários, a partir de setembro de 2013, deverão divulgar a
qualificação dos integrantes de sua rede na Internet. A partir de
março de 2014, a divulgação passará a ser em todos os meios,
inclusive impressos”.
• Monitoramento da Qualidade dos Prestadores de Serviço: “Outro
atributo importante, pois buscará a avaliação do desempenho por
indicadores. Os indicadores ainda estão sendo construídos por um
grupo técnico, e, no caso da SBPC/ML, como lançamos um programa de
indicadores laboratoriais em 2005 em parceria com a ControlLab, já
há quase 200 laboratórios familiarizados com esses itens”.