Os rumos de uma instituição
secular, com mais de 400 anos de existência, está em jogo na
disputa entre o atual provedor e advogado Kalil Rocha Abdalla e o
médico José Luiz Setubal, herdeiro do banco Itaú e presidente da
Fundação que administra o Hospital Sabará. Esta é a segunda vez na
história que duas chapas concorrem às eleições da Irmandade da
Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, previstas para o dia 16 de
abril.
O racha foi gerado pela visão
antagônica dos concorrentes. De um lado, Abdalla, com seis anos de
mandato, promete continuar buscando fontes alternativas para o
financiamento e sustentabilidade da entidade, principalmente por
meio do atendimento suplementar realizado pelos hospitais Santa
Isabel, assim como pela negociação de contratos de gestão junto ao
governo, como um saída para o problema da defasagem da tabela
SUS.
O discurso de Setubal prioriza
questões como governança corporativa e transparência nos números,
aspectos que, segundo ele, são falhos na instituição filantrópica,
que atende mais de 3,5 milhões de pessoas por ano. Para isso, o
executivo cogita trabalhar com a consultoria empresarial americana
McKinsey na elaboração de novos modelos de gestão.
Detentora de um orçamento anual de
R$ 1,3 bilhão, a dívida da Santa Casa saltou, nos últimos anos, de
cerca de R$ 50 milhões para R$ 300 milhões. Abdalla responsabiliza
a defasagem da tabela SUS como principal motivo para o prejuízo,
mas lista também inúmeras construções de unidades de saúde, cerca
de 30 somente em sua gestão. No total, a Santa Casa de São Paulo
administra 39 unidades entre hospitais, pronto socorro, unidades
básicas de saúde e centros médicos públicos.
Apesar da vultosa dívida, Abdalla
alega que não há impostos pendentes e nem encargos trabalhistas,
apenas um endividamento bancário e a negociação para liquidá-la
está em andamento com o governo federal. “É possível ficarmos
superavitários ainda este ano”, ressalta ao explicar que o débito
anual vem diminuindo de R$ 60 milhões, para R$ 30milhões, atingindo
R$ 20 milhões no ano passado.
O superintendente Antonio Carlos
Forte, há 22 anos no cargo, é categórico ao afirmar que não fica,
caso Setubal saia vencedor. “Esta chapa (50 pessoas integram cada
chapa) não representa os ideais da Santa Casa de atender os pobres,
sem visar o lucro. Um trabalho que vem sendo feito há 450 anos pode
ser violado”.
Forte defende que a Santa Casa
realiza trabalhos que nenhuma instituição privada se interessa,
pois não gera lucro, como por exemplo a administração de bancos de
leite, investimento em centro de medicina paliativa infantil, entre
outros.
Setubal contraria a certeza do
superintendente, garantindo que a missão da entidade precisa ser
respeitada. “Minha ideia é ampliar o atendimento SUS, ampliar a
vocação da Santa Casa e, para isso, quero ter lucro para cumprir a
missão sem colocar em risco a sobrevivência da instituição”,
afirma.
Depois de uma remodelagem na gestão
do Sabará, o que resultou num fechamento, pela primeira vez,
superavitário, Setubal diz estar preparado para assumir a Santa
Casa, onde atua como conselheiro há seis anos.
Os 490 irmãos da entidade vão
decidir, no próximo mês, para onde caminhará a gestão da mais
antiga instituição de saúde do País e otimismo não falta por parte
dos candidatos. O voto é fechado e a posse será no mesmo dia da
eleição.