Participação de CIOs nas decisões estratégicas das corporações ainda esbarra em questões culturais e de formação profissional. Perspectivas da digitalização, no entanto, são positivas
Governança foi um tema determinante durante o Saúde Business Forum durante os debates sobre fusões e aquisições e sobre a implantação de iniciativas de sustentabilidade. E a questão novamente veio à tona quando o assunto mudou para tecnologia da informação (TI), uma vez que uma arquitetura de sistemas realmente capaz de agregar valor ao negócio exige um ambiente propício, com um fórum de discussão adequado.
“Na Saúde, o que vemos é uma participação muito pequena dos diretores de TI em reuniões mais estratégicas. Tenho visto eles serem só informados do que acontece”, ponderou Sergio Lozinsky, consultor da SLozinsky Consultoria de Negócios e um dos autores do relatório Antes da TI, A Estratégia, da IT Mídia. “Isso pode ter duas razões: ou o gestor de TI não é percebido como alguém que pode contribuir, o que é um problema, ou a instituição não percebe que alguém de TI precisa participar.”
Para o especialista, uma TI com capacidade efetiva de entender e traduzir as necessidades da corporação de forma estratégica, compreendendo o negócio, exige uma governança bem estruturada. “Mais da metade das empresas brasileiras entre as mil maiores não estão em um grau de maturidade necessário para governar TI.”
Se consideradas apenas as instituições de saúde brasileiras (no estudo da IT Mídia são 150 os hospitais entre as mil maiores empresas), o nível constatado de informatização é ainda mais baixo. As organizações ainda veem a TI primeiro como suporte ao negócio – o que também não deixa de ser importante, é claro, obedecendo a quatro elementos fundamentais: desempenho, continuidade, segurança e contingência.
“A ambição de quem trabalha com TI é de que ela seja estratégica, para servir melhor o cliente. Só que para chegar neste nível a lojinha tem que abrir todo dia”, ponderou Lozinsky.
A questão esbarra não só na cultura organizacional, mas na própria formação mais comum dos líderes de TI nas empresas, normalmente profissionais de perfil mais técnico do que gerencial. “Há um papel fundamental do CEO. Não tenho dúvida que a maioria já tem um olhar sobre a importância da TI, mas é preciso trazer o CIO junto para qualificá-lo”, pondera Claudio Giuliano da Costa, da Folks e-Saúde e também autor do estudo. “Não podemos esperar que só a TI ofereça as soluções. Ela tem que ser estimulada a fazer isso.”
Se o objetivo de qualquer instituição de saúde é aumentar a qualidade operacional e assistencial, isso “certamente só será alcançado quando tivermos processos mais automatizados, com o uso da TI para apoiar esses processos”, acredita Costa, e que o Brasil, neste sentido, “está avançando”. “Cada vez mais a gente tem uma adoção progressiva de sistemas da informação, e já temos ótimos exemplos aqui no Brasil.”
Aferição
Segundo o especialista, alguns bons exemplos já podem ser observados no Brasil, em hospitais com um grau de automação considerado bastante elevado, inclusive se avaliados seguindo padrões internacionais como o da Healthcare Information and Management Systems Society (HIMSS). A organização começou em 2014 a avaliar a digitalização dos hospitais brasileiros segundo uma escala de 7 níveis chamada de Eletronic Medical Record Adoption Model, ou EMRAM – o Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo (SP), e o Hospital Unimed Recife III, na capital pernambucana, alcançaram o nível 6.
“Alguns [hospitais] estão intensamente investindo [em TI]. É um cenário muito mais positivo que há quatro ou cinco anos”, disse Giuliano. “Mas ainda há um longo caminho a trilhar.”
Caminho que passa também por aumentar os investimentos em tecnologia. Na área de Saúde brasileira, os aportes em TI não costumam ser maiores que 1% do faturamento, mas hospitais com nível de informatização mais elevados (EMRAM níveis 6 e 7) podem investir até 3%, acumulando até 70 fornecedores diferentes. “A Saúde está se dando conta que precisa começar a gerir mais amplamente a estratégia de TI olhando para fora”, explica Lozinsky.