O Sincor-SP vai iniciar a sua programação
de eventos em 2011 com um grande encontro para discutir o atual
excesso de riscos declinados. A reunião vai ocorrer em 16 de
fevereiro, em São Paulo, no Maksoud Plaza. O presidente da
entidade, Mário Sérgio de Almeida Santos, está pedindo a presença
de todo o setor de seguros no editorial que redigiu no JCS, veículo
do sindicato que circula nacionalmente com 30 mil exemplares
(edição de janeiro). “Por que as seguradoras vêm declinando tantos
riscos? Isto está sendo observado com mais clareza nos ramos
elementares”, observa Mário Sérgio em seu artigo. De acordo com
ele, aparentemente, trata-se de um processo decorrente da quebra do
monopólio do IRB Brasil Re. “Antes deste evento, era muito mais
fácil fazer seguro. Bastava enviar o que não prestava para o IRB na
forma de resseguro. O IRB não se queixava, pois os bons riscos
compensavam os maus e, no final, lucrava com a sua megaoperação.
Acontece que esta distorção acabou. Após a abertura, as
resseguradoras estrangeiras chegaram e abocanharam os riscos bons
com apetite voraz. De posse do naco que sobrou deste filet mignon,
agora o IRB não mais aceita com resignação os riscos que não o
interessam. Resultado: o mercado ficou repleto de consumidores que
não encontram companhias dispostas a aceitar o seu seguro”,
complementa o presidente do Sincor-SP. Conforme Mário Sérgio, ao
que parece, o monopólio do IRB produziu mais esta grande mazela:
impediu o amadurecimento da sociedade com relação à necessidade de
tratar os riscos. “Neste aspecto, as seguradoras precisam abandonar
a postura infantil de dizer apenas ‘eu não quero’. Por conta desta
realidade, o mercado foi questionado pelo governo com relação aos
grandes riscos, tendo em vista a perspectiva de forte expansão na
infraestrutura do país. Aparentemente, o setor privado de seguros
conseguiu provar que dará conta do recado. Mas, daqui a pouco,
seremos questionados novamente: e quanto aos riscos menores?”,
indaga. Em seu artigo, ele destaca que há vários segmentos
prejudicados: química, papel e celulose, artigos de vestuário,
postos de gasolina e outros. "As seguradoras já vinham trilhando o
caminho da maturidade, quando solicitavam do corretor de seguros
uma análise mais completa dos riscos, tal como o sistema LOC, com
informações sobre a Localização, Ocupação e Construção de imóveis.
Por este método, não era difícil, por exemplo, identificar uma
pequena loja de artigos de vestuário com risco que vale a pena
assumir. Os dados da “localização” informavam, entre outros
fatores, se a vizinhança oferecia perigo. A “ocupação” do imóvel
descrevia detalhes importantes sobre o negócio desenvolvido no
local. E as anotações sobre o tipo de “construção” consideravam o
material de paredes, telhados, divisórias, etc. Como o LOC era um
sistema de avaliação mais preciso, o cálculo do prêmio muitas vezes
revelava custos expressivos. O consumidor chiou. Para solucionar,
as seguradoras não cogitaram em educar o segurado quanto à
necessidade de gerenciar os riscos. Preferiram a saída mais fácil:
aboliram o LOC e, com isso, passaram a considerar os imóveis de
forma generalizada, já que deixaram de dispor de dados específicos.
A sinistralidade aumentou. Tudo bem, ainda havia a generosidade do
IRB, que gozava do monopólio. Mas veio a abertura e esta farra
acabou. A saída? As companhias optaram pelo “não, não e não” – os
riscos declinados”, prossegue Mário Sérgio.
“Os corretores, em particular, estão sofrendo bastante com este
quadro, pois várias seguradoras estão aceitando os riscos conforme
a produção do profissional, já que, muitas vezes, carecem de
critério melhor para avaliação. Desta forma, acabam oferecendo
preços diferentes para um mesmo risco cotado por profissionais
distintos. Nesta ocasião, o que o consumidor vai pensar do seu
corretor, se outro profissional envia a ele um preço melhor? No
mínimo que foi roubado por muitos anos e que o mercado de seguros
não é confiável - e, claro, todos nós perdemos com isso”, observa o
presidente.
“Muitas vezes, quando o consumidor não encontra a proteção no
mercado de seguros, cai em arapucas como as cooperativas de
seguros. Isto já vem acontecendo com relação a seguros de
transportes, caminhões e táxis. Tais associações carecem de técnica
e de fiscalização. Ao contrário do que acontece com as empresas de
seguros, elas operam sem o mínimo de requisito. Brincam de ser
seguradoras e isso é sério! Mas eu entendo o consumidor que procura
este tipo de proteção, quando não encontra nos meios legais outras
alternativas. Se nós corretores de seguros não conseguimos
cobertura para um determinado risco – porque ele é declinável – o
que resta a ele?”, questiona.
“Não pode haver riscos declinados simplesmente porque é mais fácil
a recusa do que a busca de soluções para situações complexas.
Estamos no mundo da informação e da tecnologia. Temos muito mais
recursos à nossa disposição. Assim, precisamos, com o necessário
envolvimento da sociedade interessada, buscar saídas para riscos
que em determinada circunstância tornam-se complexos para serem
cobertos. Somente dessa forma o mercado de seguros cumprirá o seu
papel de agente protetor e merecedor da confiança da sociedade.
Senão seremos nós os declinados”, finaliza o presidente do
Sincor-SP no editorial do JCS.
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