Cada R$ 1 gasto no setor pública gera R$
1,70 para o PIB
Nenhum gasto público social contribui tanto para o crescimento do
Produto Interno Bruto (PIB) quanto os que são feitos em educação e
saúde. Cada R$ 1 gasto com educação pública gera R$ 1,85 para o
PIB. O mesmo valor gasto na saúde gera R$ 1,70.
Para a redução da desigualdade social, os gastos que apresentam
maior retorno são aqueles feitos com o Bolsa Família, que geram R$
2,25 de renda familiar para cada R$ 1 gasto com o benefício; e os
benefícios de prestação continuada - destinados a idosos e
portadores de deficiência cuja renda familiar per capita seja
inferior a 25% do salário mínimo -, que geram R$ 2,20 para cada R$
1 gasto.
Além disso, 56% desses gastos retornam ao caixa do Tesouro na forma
de tributos. Os dados referem-se ao ano de 2006 e constam do estudo
Gasto com a Política Social: Alavanca para o Crescimento com
Distribuição de Renda, divulgado hoje (3) pelo Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
De acordo com o órgão, é a primeira vez que um estudo como esse é
feito no Brasil, em função da dificuldade de se juntar os elementos
necessários para o desenvolvimento da pesquisa.
"O gasto na educação não gera apenas conhecimento. Gera
economia, já que ao pagar salário a professores aumenta-se o
consumo, as vendas, os valores adicionados, salários, lucros,
juros", avalia o diretor de Estudos e Políticas Sociais do
Ipea, Jorge Abrahão. "Portanto, a política social brasileira não
apenas protege, como promove o cidadão", completa.
"Em termos gerais, ampliar em 1% do PIB os gastos sociais, na
estrutura atual, redunda em 1,37% de crescimento do PIB. Ou seja, é
o tipo de gasto que tem mais benefícios do que custo", explica
a técnica de Planejamento e Pesquisa do Ipea, Joana Mostafa.
Segundo ela, a renda das famílias é responsável por cerca de 80% do
PIB. "Dessa forma, aumentar em 1% do PIB o gasto social gera
1,85% de crescimento da renda das famílias", disse a
pesquisadora. "No caso da saúde, além de esses gastos
representarem empregos, envolvem também a aquisição de aparatos
tecnológicos, o que também contribui para a demanda nas
indústrias", acrescentou.
Mostafa explica que a pesquisa leva em consideração os reflexos
desses gastos no PIB e na renda familiar. "Para cada 1% a mais
investido em educação e saúde, há um efeito multiplicador que
aumenta em 1,78% o PIB e em 1,56% a renda das famílias".
No caso do Bolsa Família, o aumento de 1% do que ele representa
para o PIB resultaria no aumento de 1,44% do PIB. Mas, nesse caso,
o mais significativo está relacionado ao fato de que, ao receber e
usar esse benefício, o cidadão acabar gerando renda para outras
famílias. "Cada R$ 1 gasto com esse programa gera R$ 2,25 em rendas
familiares", afirma a responsável pelo estudo.
O mesmo não pode ser dito dos gastos com exportações de commodities
agrícolas e extrativas. "Apesar de agregarmos ao PIB 40% de cada
real investido nessa área, os efeitos para a renda familiar são
pequenos e limitados a R$ 1,04 para cada R$ 1 gasto".
Como utiliza dados referentes a 2006, o estudo não mensura os
reflexos das ações recentes do governo em favor do setor da
construção civil. "O que podemos dizer é que, em 2006, os gastos
com construção civil pouco contribuíram para a redução das
desigualdades sociais. Isso certamente terá um quadro diferenciado
quando agregarmos dados de 2009 a uma nova pesquisa, porque
certamente houve aumento do número de empregos formais", justifica
Abrahão.
O estudo considera como gastos públicos sociais os feitos em
Previdência Social geral e pública, educação, saúde, assistência
social, trabalho e renda, desenvolvimento agrário, saneamento
básico, habitação e urbanismo - nos âmbitos federal, estadual e
municipal.
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