Qual é o setor da economia
que mais lhe irrita como consumidor? Qual deles cobra caro e
oferece um serviço ruim? Os bancos? As operadoras de telefonia
celular? O páreo é duro. Mas o pior setor é o dos planos de saúde.
Pelo menos é o que aponta uma pesquisa realizada pela empresa de
consultoria CVA Solutions e divulgada em primeira mão por essa
coluna.
Nos meses de junho e
julho, foram ouvidos 5,2 mil usuários de 39 planos de saúde em São
Paulo e no Rio de Janeiro. Nesse grupo, 53% têm plano de saúde
oferecido pelo empregador, 35% contrataram o plano por conta
própria e 12% aderiram a planos vinculados a associações ou
sindicatos.Também participaram da pesquisa representantes do RH de
200 empresas nas duas cidades.
Os pesquisadores queriam
saber se os clientes acham que o custo-benefício dos planos de
saúde é favorável. Ou seja: queriam saber se elas acham que o
dinheiro gasto é compatível com o serviço recebido. No jargão
técnico, isso é chamado de “valor percebido”.
Os planos de saúde tiveram
a pior nota: 6,27. Perderam para os bancos (6,52) e para as
operadoras de telefonia celular (6,64). Ficaram muito atrás do
setor campeão de satisfação: os de eletrodomésticos
(9,28).
Não é difícil entender o
que passa pela cabeça dos brasileiros quando eles fazem essa
avaliação. Gastar dinheiro com uma geladeira – que dura 10, 20,
anos e raramente quebra -- é um investimento muito mais seguro do
que assinar uma apólice de plano de saúde.
Aderir a um plano de saúde
é como brincar de cabra-cega. São tantas marcas no mercado, com
preços e serviços tão heterogêneos, que ninguém sabe qual é a
escolha menos arriscada. Por isso achei interessante essa pesquisa
da CVA e decidi dividi-las com vocês.
A empresa perguntou aos
clientes se o plano de saúde que tinham valia a pena. Dessa forma,
conseguiu produzir um ranking de “valor percebido”. Acompanhe a
lista:
Ranking de Valor
Percebido dos Planos de Saúde – São Paulo
1 -
Omint
2 - Cesp
3 - Unibanco
4 - Bradesco
5 - Porto Seguro
6 - Allianz
7 - Cassi - BB
8 - SulAmérica
9 - Itaú
10 - Amil
11 - Notredame
12 - Golden Cross
13 - Unimed
14 - Dix
15 - Medial
16 - Intermédica
17 - Marítima
18 - Green Line
19 - Amesp
20 - Samcil
Ranking de Valor Percebido dos Planos de Saúde – Rio de
Janeiro
1 - Omint
2 - AMS - Petrobrás
3 - Bradesco
4 - Cassi - BB
5 - Caixa Saúde
6 - Medial
7 - Allianz
8 - Unibanco
9 - SulAmérica
10 - Amil
11 - Unimed
12 - Golden Cross
13 - Assim
14 - Marítima
15 - Dix
16 - GEAP
17 - Notredame
18 – Intermédica
Não é de hoje que os planos de saúde provocam insatisfação. Eles
precisam ter lucro num ambiente desfavorável que, segundo projeções
dos especialistas, só vai piorar: a população envelhece e precisa
de mais atendimento médico; os custos da tecnologia médica crescem
mais do que em muitos outros setores; a parcela da população que
pode pagar altas mensalidades é pequena. A solução que muitas das
empresas adotam é bem conhecida de todos nós: baixar a qualidade
dos serviços.
Até recentemente, as
carências impediam que o cliente insatisfeito trocasse de plano.
Desde abril, com a aprovação da "portabilidade", isso mudou. Quem
quiser mudar de operadora não precisa mais cumprir carência
nenhuma. A pesquisa da CVA Solutions revela que 54% dos
entrevistados gostariam de mudar. "Aqueles que pagam um plano por
conta própria não só querem como podem mudar de convênio", diz
Sandro Cimatti, sócio diretor da empresa. É uma boa notícia. Isso
deve aumentar a concorrência entre as empresas e favorecer os
clientes. "A coisa é mais complicada para aqueles que usam o
convênio escolhido pela empresa onde trabalham", diz.
As principais razões de
insatisfação são: rede credenciada ruim; desconto irrisório na
compra de medicamentos; reembolso baixo do valor gasto em
consultas; mensalidades altas e péssimo atendimento ao
cliente.
"Os clientes acham que os
bancos são ganaciosos e também odeiam o atendimento das operadoras
de telefonia celular", diz Cimatti. "Mas um plano de saúde ruim tem
um impacto muito mais grave na vida do sujeito."
Nada se compara ao
desamparo de uma mãe que está com o filho doente e não consegue
autorização do plano de saúde para fazer um exame. Ou de uma pessoa
com câncer que, em vez de se preocupar em brigar apenas contra a
doença, gasta sua energia tentando fazer com que o convênio lhe
garanta o tratamento necessário.
Há alguns dias li uma
declaração do presidente americano Barack Obama que me fez lembrar
dos milhões de brasileiros que sofrem com os planos de saúde. Obama
pretende reformar o sistema de saúde americano, que é extremamente
ineficiente: consome todos os anos 16% do PIB e ainda deixa 46
milhões de pessoas sem qualquer tipo de assistência. Obama disse
que sua mãe, morta de câncer de ovário em 1995, gastou as últimas
semanas de vida preocupada em saber se o seguro-saúde iria cobrir
suas despesas. É assim, também, que se sentem milhões de
brasileiros.