Mas quadro de 2017 é mais propício ao
crescimento, que podem oscilar entre 0,5% e 1% para palestrantes do
22º Encontro de Líderes
A metáfora de um quebra-cabeça é um
bom início de conversa para o que o mercado segurador terá de
conviver no plano econômico (nacional e mundial) em 2017, tendo em
vista a sucessão de variáveis que poderão beneficiar ou afetar os
planos de negócios das empresas.
Uma das incógnitas diz respeito aos
efeitos práticos do protecionismo americano iniciado na gestão do
presidente Donald Trump sobre o mundo. A maior economia do planeta
promete dificultar o acesso de produtos e de trabalhadores
estrangeiros ao seu mercado, algo que pode produzir uma guerra
comercial sem precedentes e impactos profundos nos mercados
globais.
Para o Brasil, inicialmente os
impactos podem ser medianos- alguma depreciação na moeda e
eventualmente uma desaceleração no ritmo de corte da Selic- e, de
quebra, trazer benefícios para o agronegócio, com um eventual
aumento das encomendas chinesas em retaliação ao fechamento do
mercado americano.
Descontado o cenário externo, o tom é
de volta à normalidade da economia brasileira e de alguma
recuperação ainda este ano. “Curiosamente, o cenário brasileiro
está mais previsível que o quadro externo. E, em função do efeito
Trump, não está nada fácil projetar o comportamento dos mercados a
mais longo prazo, porque as incertezas estão aumentando”, afirma
Sérgio Vale, economista chefe da MB Associados, um dos debatedores
do painel “Economia”, ocorrido do 22º Encontro dos Líderes do
Mercado Segurador. O outro debatedor foi economista Alexandre
Schwartsman, tendo como mediador Luiz Roberto Cunha.
Como o Brasil está entre os países
mais fechados das maiores economias mundiais, será possível não
sentir fortemente os impactos do maior protecionismo americano a
curto prazo. Na verdade, o governo Trump e o Brexit podem abrir
algumas oportunidades para o Brasil, afirma Sérgio Vale.
Além de mais exportações agrícolas à
China- a redução das encomendas chinesas poderá afetar o meio-oeste
americano (eleitor de Trump)-, será possível firmar um acordo de
livre comércio com a Inglaterra e liderar o relançamento em bases
melhores de um Mercosul sul-americano, com Chile, Peru e Colômbia,
enumera o economista.
Estas ações podem contrapor-se às
incertezas globais. Para o economista, embora a curto prazo a
economia americana esteja saudável, as ações protecionistas dos EUA
(como revisão de acordos globais, insegurança jurídica e eventual
aumento das tarifas), no campo da imigração, erros na política
fiscal e na diplomacia poderão debilitar o PIB americano, com
provável aumento dos juros pelo Fed, o BC dos Estados Unidos,
volatilidade global, inflação crescente, produzindo recessão na
maior economia do planeta a certa altura.
É preciso ter no radar ainda as
assimetrias entre a Alemanha e o resto do bloco econômico, os
problemas da Itália e o risco político de uma eventual vitória da
extrema-direita na França.
O economista Alexandre Schwartsman tem
uma preocupação semelhante à de Sérgio Vale no caso americano, mas
também não vê risco para a economia brasileira muito grande no
primeiro momento. Acha que o dólar pode avança um pouco- saindo da
casa R$ 3,20 para R$ 3,40 no Brasil- mas essa variação cambial não
ameaça a trajetória de corte da Selic.
Para os dois economistas, o cenário
doméstico é de alguma calmaria, mas continua complexo. Para o
economista chefe da MB, o que fará a diferença na taxa de
crescimento da economia brasileira será justamente o tamanho da
queda dos juros e o comportamento dos investimentos. Ainda assim, o
Brasil conviverá neste ano com taxas de desemprego elevadas,
balanços ruins, risco de insolvência nos setores estratégicos,
crise financeira nos estados, fatores limitantes do crescimento.
Mas há boas notícias: boa safra agrícola, com impactos na inflação,
renda e exportações; desaceleração da inflação maior do que se
projetava; juros básicos em um dígito; e injeção de novos recursos
na economia via liberação das contas inativas do FGTS (algo
equivalente a 0,2% do PIB para a MB ou 0,4% na mediana do
mercado).
Feitas as contas, Sérgio Vale diz que
a economia brasileira poderá crescer 1% este ano (Schwartsman
imagina expansão de meio ponto) e de 2,5% em 2018. “A palavra
otimista ainda não dá para ser usada, mas o País começou a fazer o
que é certo”, destacou Schwartsman.
Há os desafios das reformas
estruturantes para reduzir as incertezas e ampliar as
oportunidades, finaliza o economista Luiz Roberto Cunha.