Mike McGavick acredita que novas
tecnologias ajudarão a precificar melhor o risco, mas também
obrigarão setor a mudar forma de trabalhar
O uso mais intensivo de novas
tecnologias vai obrigar a indústria de seguros a modificar sua
forma de trabalhar, mas também resultará em preços mais baixos para
os compradores.
A previsão acima não foi feita por um
guru tecnológico ou um fundador de uma fintech revulsiva, mas pelo
líder de uma das maiores seguradoras patrimoniais do planeta.
Mike McGavick, CEO da XL Catlin,
afirmou durante reunião de gestores de riscos na França que a
indústria seguradora está finalmente abraçando as revoluções
tecnológicas, e que os efeitos para o seu futuro serão ao mesmo
tempo empolgantes e ameaçadores.
Para os gestores de riscos presentes
na plateia, a previsão mais sonora feita por McGavick foi a de que
os preços das coberturas que eles costumam comprar devem ficar mais
acessíveis. Um dos motivos é que os subscritores terão condições de
utilizar um maior volume de dados para precificar os riscos e
avaliar com maior acuidade sua exposição a perdas.
“Nós seremos capazes de ter uma maior
precisão sobre o risco em si”, disse o executivo. “Poderemos assim
fazer muito mais para evitar sinistros, e também para que as perdas
que ocorram tenham um custo mais acessível.”
Momento extraordinário
“Estamos vivendo um momento
extraordinário em nossa indústria”, disse McGavick durante o último
dia dos Rencontres de l’AMRAE, a reunião anual da associação dos
gestores de riscos da França, em Deauville, no norte do país. “A
indústria dos seguros finalmente se uniu à revolução digital e está
usando as novas tecnologias para grande benefício das pessoas e das
empresas.”
Ele afirmou que avanços em áreas como
inteligência artificial e a capacidade dos equipamentos de aprender
com as informações coletadas estão abrindo possibilidades antes
inimagináveis para os subscritores.
McGavick afirmou que estes avanços
estão fomentando seis grandes mudanças no setor. “Três delas são
muito positivas, uma é assustadoramente negativa, e duas
simplesmente têm que acontecer”, disse o executivo.
A possibilidade de otimizar a
precificação das coberturas, provendo seguros mais baratos, é
incluída por McGavick no primeiro grupo. Outro avanço que ele
considera positivo é a criação de novas maneiras de mutualizar o
risco. Ao invés de focar nos usuários ou fornecedores dos ativos,
as seguradoras agora cada vez mais vão olhar para os fornecedores
de serviços na hora de avaliar o risco.
“Nós sabemos que hoje há mais de dez
bilhões de equipamentos (conectados) no mundo, desde máquinas e
aviões a telefones e geladeiras. Eles estão comunicando-se entre si
e criando cada vez mais informações”, afirmou. “Por volta de 2020,
esse número deve chegar a algo entre 20 e 50 bilhões de
dispositivos.”
Segundo ele, isso vai mudar a forma de
mutualizar o risco, já que o foco será cada vez menos nos usuários
ou fornecedores, para se concentrar nos provedores de serviços
utilizados através dos dispositivos. Será assim que a indústria
terá acesso a mais informações que permitirão a redução de preços,
já que será possível reduzir tanto a frequência quanto a
intensidade dos sinistros.
Grande risco
A terceira boa notícia é que, na visão
de McGavick, tanta riqueza de informação vai ajudar a indústria a
encarar o problema dos baixos níveis ou inexistência de capacidade
que prevalecem em algumas áreas do mercado.
“Hoje, o que ouço dos gestores de
riscos é que, quando há algum novo desafio, nossa principal
resposta é dizer ‘não’”, afirmou. “No futuro, esta nova capacidade
de ter melhores informações sobre os riscos nos ajudará a dizer
‘sim’ com maior frequência.”
A parte apavorante do processo é que a
crescente interconexão do mundo significa que os malfeitores terão
oportunidades cada vez maiores de realizar seus maus intentos.
“Trata-se de um nível espantoso de
interconexões,” disse McGavick. “São riscos emergentes contra os
quais as ferramentas de que dispomos hoje são claramente
insuficientes.”
O que não há como evitar, observou o
executivo, é a necessidade de elaborar novas teorias para avaliar
exposições em responsabilidades, um campo de estudo conhecido pela
expressão inglesa “liability theory”. Segundo McGavick, hoje em dia
já está difícil identificar quem é responsável pelo quê, e isso só
vai se complicar ainda mais com a evolução das interconexões entre
indivíduos, organizações e dispositivos.
E tudo isso levará a novas formas de
parcerias entre os diversos atores do mercado, como os
subscritores, corretores, peritos e compradores, que terão que
aprender a trabalhar com outros tipos de parceiros envolvidos na
revolução digital. “Todo o ecossistema vai ter que mudar”,
afirmou.
Tema quente
O encontro anual da AMRAE é uma das
grandes oportunidades disponíveis para aprender quais são os temas
que preocupam os compradores de seguro no mercado global.
Neste ano, ficou claro que a revolução
digital e suas consequências estão no topo das preocupações de
todos os atores do mercado.
Há quem acredite, por exemplo, que
eventualmente os riscos cibernéticos vão se tornar a principal
cobertura adquiridas pelas empresas. Outros tipos de coberturas,
como as patrimoniais e de responsabilidade, acabariam se tornando
complementos ao cobrir riscos não contemplados pela apólice
cibernética.
Um tema quente é a possibilidade de
adquirir coberturas contra perdas de lucro cessante quando não há
dano físico – um risco cada vez mais presente na época dos ataques
cibernéticos, que podem afetar a cadeia de suprimento de uma
empresa mesmo que ela não seja diretamente atingida.
Especialistas presentes na conferência
afirmaram que o mercado evoluiu na provisão de coberturas CBI, como
são conhecidas por sua terminologia em inglês (Contingent Business
Interruption). Tanto que hoje elas já podem ser integradas tanto em
contratos patrimoniais quanto em apólices específicas para cobrir
este risco.
Mas continua sendo uma cobertura
difícil de contratar porque os limites das extensões em contratos
patrimoniais tendem a ser baixos, e as apólices específicas feitas
sob medida para cada cliente têm um custo elevado. Por esse motivo,
ainda que o mercado aceite tomar o risco, ainda são poucas as
apólices do tipo já firmada pelo mercado.