A crise no seguro de automóvel foi
tema de encontro do CCS-SP com a HDI Seguros
O presidente da HDI Seguros Murilo
Riedel analisou os fatores que levaram ao fim do ciclo de
crescimento no ramo e os desafios que os corretores deverão
enfrentar nos próximos cinco anos.
A participação da HDI Seguros no
almoço do Clube dos Corretores de Seguros de São Paulo (CCS-SP), no
dia 1º de agosto, no Circolo Italiano, resultou em um retrato atual
bastante realista do seguro de automóvel. Recebido pelo mentor do
CCS-SP Adevaldo Calegari e pelo secretário Evaldir Barboza, o
presidente da HDI Murilo Riedel, acompanhado de sua diretoria,
abordou a crise no seguro de automóvel. Ele analisou os fatores que
causaram essa crise e apontou os desafios para o mercado em um
futuro próximo, sobretudo para os corretores de seguros. Com o fim
do ciclo de crescimento do ramo, vender seguro para veículos mais
velhos será apenas um dos desafios para a categoria, que também
terá de encontrar outros caminhos para manter a rentabilidade do
seu negócio.
A origem da crise
De acordo com Riedel, por quase duas
décadas até 2013 o seguro de automóvel cresceu impulsionado pela
venda de veículos novos, que dobrou de 2 milhões de unidades por
ano para quase 4 milhões. Esse desempenho, que não encontra
paralelo com o restante do mundo, é explicado por Riedel como
resultado da junção de fatores favoráveis com a demanda reprimida.
Mas, 2013 foi o último ano em que o seguro de automóvel teve
crescimento de dois dígitos (18%). Em 2014, o crescimento foi de
9%; em 2015, 3%; e em 2016, de apenas 2%. Os números, apurados por
um time de 25 matemáticos da HDI Seguros, revelam o fim de um ciclo
próspero para o ramo, acelerado pela crise econômica.
Embora a redução no consumo de
automóveis seja um fenômeno mundial, a rápida queda nas vendas no
Brasil nos últimos anos assustou o mercado de seguros. Com a
desaceleração econômica e o aumento do desemprego, a venda de
veículos novos caiu 46% de 2012 para cá. Em 2016, o crescimento da
frota reduziu de 8% para 4% ao ano, somando 48 milhões de veículos
em circulação. Segundo Riedel, as vendas retrocederam ao patamar de
dez anos atrás. “Sabíamos que a estabilização nas vendas
aconteceria um dia, mas um dia distante. Considerávamo-nos
blindados”, disse.
Nessa nova realidade, a região
Sudeste, e em especial São Paulo, que representa 68% dos seguros da
região e 40% do mercado de automóvel, tem sofrido o maior impacto,
em razão da saturação. Segundo dados apurados pela HDI, nos últimos
quatro anos o estado vem apresentando o fraco crescimento de 3% no
ramo de automóvel.
Para o mercado segurador, a retração
no seguro de automóvel tem gerado forte impacto. De acordo com
Riedel, entre 2012 e 2016, o combined ratio do ramo se manteve
próximo ou acima de 100%. No último ano, o índice atingiu 106%.
“Significa que recebemos R$ 100 do nosso segurado e devolvemos R$
106 em serviços e sinistros”, disse. Mas, com a tendência de queda
de juro, a operação do ramo com margens negativas deixará de ser
equilibrada pelo resultado das aplicações financeiras, aumentando o
prejuízo.
Tendências contra a rentabilidade
Todos os fatores que levaram à queda
na venda de veículos resultaram em uma nova tendência ainda mais
impactante para o seguro de automóvel: o envelhecimento da frota
nacional. Desde 2010, o percentual de veículos com até cinco anos
diminuiu 4% ao ano. Esta tendência associada à redução do poder
compra resultou na queda de penetração do seguro de automóvel, de
36% em 2010 para 32% em 2016. Outra consequência do envelhecimento
da frota é a vulnerabilidade à criminalidade. “O roubo de veículos
mais antigos alimenta o mercado de desmanche e aumenta a
sinistralidade”, disse.
Mas, outras tendências também apontam
para a redução da rentabilidade no ramo automóvel. Riedel apontou
os canais de venda digitais, a maior sensibilidade do consumidor ao
preço, diante da facilidade de comparação, e o uso de tecnologias
para avaliação de riscos e prevenção de acidentes, além do carro
autônomo. Existe, ainda, a preferência crescente da população por
plataformas de transportes (ex: Uber) em detrimento do veículo
próprio. “O seguro de automóvel será o seguro da jornada – de
bicicleta, patinete, Uber, carro alugado, próprio etc. Essa relação
muda daqui para frente e nos obriga a pensar em seguros de
locomoção”, disse.
Considerando que a venda de veículos
jamais voltará aos padrões anteriores, de quase 4 milhões de
unidades ao ano, e que a taxa de penetração do seguro continuará
caindo, Riedel avalia que não há como fugir do desafio de trabalhar
com veículos mais velhos. Entretanto, para manter os resultados,
ele prevê que as companhias deverão repassar o aumento de 20% ao
preço do seguro de automóvel até 2022. Hoje, este seguro já
representa uma pequena fatia no total do faturamento do setor, que
é liderado por saúde e previdência. Mesmo assim, o presidente da
HDI entende que é possível ao corretor diversificar as vendas na
própria carteira. “Nosso desafio é fazer do automóvel uma
plataforma de vendas”, disse.
Durante o debate com a participação de
diversos associados do CCS-SP, o presidente do Sincor-SP Alexandre
Camillo observou que o sindicato tem investido no conceito de
empreendedorismo da categoria desde antes do agravamento da crise
no seguro de automóvel. Ele comentou ainda as ações do Sincor-SP,
destacando o trabalho conjunto com a Susep para a revisão da Lei do
Desmonte e, consequentemente, viabilização do seguro popular de
automóvel.