Os drones surgiram inicialmente com
propósitos militares. Depois, tornaram-se objetos de lazer para
entusiastas das aeronaves. Agora, cresce a utilização desses
equipamentos em shows, manifestações, na área agrícola e até mesmo
na vigilância.
Por conta disso, a ANAC – Agência
Nacional de Aviação Civil – regularizou a utilização dessas
aeronaves não tripuladas no Brasil. A decisão foi aprovada no dia 2
de maio de 2017 e permitirá que drones sejam usados para viabilizar
operações e respaldar a proteção da população. Os equipamentos
foram separados em duas vertentes: RPA’s – aeronaves não tripuladas
de uso comercial, experimental ou institucional e aeromodelos –
aeronaves não tripuladas para recreação ou lazer.
Qualquer pessoa maior de 18 anos pode
operar o aparelho no país, mas, para isso, precisará ter uma
habilitação e respeitar normas de utilização – como operá-las
apenas em áreas com, no mínimo, 30 metros horizontais de distância
dos transeuntes não envolvidos na operação.
A Revista Apólice entrou em contato
com a ANAC e a agência esclarece que o objetivo dessas regras é
tornar viáveis as operações desses equipamentos, o que dá indícios
de um mercado em expansão.
Assim, a utilização comercial desses
drones precisará ser revista. Ela está liberada, mas precisa seguir
as regras. As aeronaves com mais de 250g podem voar apenas em áreas
distantes de terceiros. Para os maiores, será necessário que as
pessoas envolvidas assinem uma autorização concordando com o voo
naquele local sob total responsabilidade do piloto operador e
conforme regras de utilização do espaço aéreo do DECEA. Caso exista
uma barreira de proteção entre o equipamento e as pessoas, a
distância especificada não precisa ser observada. Portanto, shows,
espetáculos e manifestações – que comumente têm usado esses meios
para gravações – precisarão verificar se estão respeitando as
normativas.
No mercado de seguros, essas aeronaves
não tripuladas podem indicar dois tipos de oportunidades. Elas
precisam de seguros, como qualquer outra, mas também podem ser
utilizadas como auxiliares no setor.
Há documentos obrigatórios para atuar
com drones. Além da habilitação, também é exigido um manual de voo,
documento de avaliação de risco e apólice de seguro. “Algumas
companhias já oferecem coberturas para falhas mecânicas e
eletrônicas, perda de controle, pane elétrica e até mesmo perda
total. O valor das indenizações às pessoas e bens no solo pode
passar deR$ 200 mil”, afirma Márcio Régis Galvão, CEO, da Dron
Drones Technologies.
Os produtos RETA (seguro obrigatório),
Casco (danos físicos ao equipamento) e LUC (Responsabilidade Civil
em excesso aos limites previstos no RETA) é o que há disponível
hoje para cobrir esse mercado. “Eles são tipicamente oferecidos
para a aviação geral em aeronaves tripuladas, foram adaptados para
as necessidades específicas dos drones”, conta Daniela do
Nascimento Murias, Aviation Manager Insurance da XL Catlin, que foi
a primeira seguradora a oferecer cobertura para esses objetos.
Nesse sentido, as seguradoras têm o
papel de desenvolver e verificar mecanismos necessários para
alcançar essa que ainda é uma novidade tecnológica. “Os riscos
podem até ser muito parecidos com os da aviação comum, mas como os
equipamentos são muito mais leves e essa é uma tecnologia recente,
ainda não se sabe exatamente como esses equipamentos podem ser
melhor regulamentados”, acredita Luiz Ugeda, advogado da
Geodireito.
“Além disso, as seguradoras trabalham,
em todos os ramos, com bases de dados, estatísticas de ocorrências
e volume, que ainda estão em desenvolvimento no caso dos drones”,
pontua a Daniela.
O Brasil foi pioneiro em começar a
estudar e divulgar uma regulamentação mais efetiva – ainda que ela
deva sofrer muitas alterações ao longo do tempo. A Europa só cogita
fazer algo semelhante em 2019. “Nós estamos pagando o preço do
pioneirismo. Precisamos encontrar maneiras de destravar esses
segmentos emergentes na sociedade aproveitando o potencial
gigantesco”, completa Ugeda.
Utilização no mercado de seguros
Além das oportunidades de
comercialização, os seguradores podem adaptar os drones a seus
processos. A aeronave poderá precisar o tamanho do dano de uma
enchente, por exemplo, ou acompanhar o segurado em caso de um
sinistro de automóvel, fazer o reconhecimento de áreas de risco e
de infraestrutura, ajudar no seguro rural com o mapeamento das
produções – especialmente de grandes áreas -, entre outras
vantagens. “Eles podem ser úteis de diversas formas, pois aplicados
com um bom planejamento e adaptando-os aos processos já
consolidados os drones conseguem gerar receita para as
seguradoras”, aposta Galvão.
A executiva da XL Catlin destaca ainda
o fato dos drones serem equipamentos muito versáteis e de custo
relativamente baixo em relação às aeronaves convencionais. “Temos
visto uma variedade crescente na utilização de drones, incluindo
alguns usos particularmente interessantes ao mercado segurador:
inspeções em locais de difícil acesso como oleodutos, represas,
telhados/coberturas, mapeamento de áreas e apoio à segurança”,
elenca Daniela.
Outras questões
Os riscos cibernéticos associados a
esses equipamentos deverão emergir logo. A legislação para esses
casos até está sendo analisada, mas ainda não é a preocupação
principal. “O risco cibernético é uma coisa novíssima, não só no
Brasil, mas no mundo. As discussões são mais embrionárias que a
própria questão dos drones”, comenta o advogado Luiz Ugeda.
Na visão de Galvão, a FAA (Federal
Aviation Administration) já está bem avançada nos estudos e
projetos que envolvem a gestão e a segurança do tráfego aéreo com
drones. “Especialistas analisaram as configurações dos
controladores de voo de vários modelos e revelou fraquezas
associadas aos links de telemetria (informações na tela) que
transmitem dados através de frágeis conexões de porta serial. Já o
link de dados que conecta os aparelhos com a estação base pode ser
facilmente corrompido e invadido, permitindo que hackers assumam o
controle total da aeronave. O que é um perigo para as operações de
risco”, explica o executivo. Os fabricantes de drones estariam
apostando em um modelo em que a segurança dependa da complexidade
do sistema: acredita-se que o alto nível de dificuldade de se
monitorar os sinais seja barreira suficiente para desencorajar a
ação de hackers. Galvão afirma que é por isso que, em geral, as
tecnologias empregadas pelos fabricantes não usam criptografia. A
saída seria, justamente apostar nessa codificação. “A evolução da
tecnologia dos drones oferece novas oportunidades para os hackers
do mal. Resta agora esperar que os profissionais de segurança de
dados estudem as melhores ações para combater essa ameaça
potencial”, indica.
O risco cibernético é relativamente
recente no mercado. Suas implicações e associações com as diversas
indústrias, incluindo a aeronáutica, são objeto de estudo e estão
em constante evolução. “A aviação é uma área particularmente
sensível ao risco cibernético, não somente em relação aos drones,
mas às aeronaves em geral. Certamente o mercado continuará se
moldando às descobertas e conclusões dos estudos e discussões que
vêm ocorrendo mundialmente a este respeito”, aposta Daniela.