Aos 35 anos, Deborah Gonçalves vive uma nova fase. Depois do segundo casamento, ela e o marido resolveram engravidar – a cabelereira tinha feito uma laqueadura depois que o terceiro filho nasceu e não sabia como seria possível ter um quarto bebê.
Foram muitas consultas em clínicas especializadas na saúde da mulher para que ela descobrisse que poderia fazer uma fertilização in vitro em um hospital público, sem pagar nada por isso.
Fertilização in vitro de graça
Casais com algum tipo de impedimento ou dificuldade para engravidar podem fazer tratamento gratuito de reprodução assistida em alguns hospitais do Brasil.
O tratamento de fertilização in vitro em clínicas privadas custa em torno de R$ 20 mil. Os planos de saúde não dão cobertura para esses tratamentos, embora algumas pessoas tenham conseguido esse direito na Justiça.
Os tratamentos também não são oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), mas, alguns hospitais ligados à pesquisa, conseguem oferecer o tratamento gratuitamente por meio de um convênio com o SUS.
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Um deles é o hospital Pérola Byington, mantido pelo governo do estado de São Paulo. A cada ano, o setor de reprodução humana faz cerca de 300 ciclos de fertilização assistida de alta complexidade. Além disso, também é possível congelar óvulos, mas este serviço só é oferecido para mulheres com câncer que precisam passar por quimioterapia.
O hospital também oferece tratamento gratuito para mulheres que precisam de óvulos doados.
“Nesse caso, antes de começar o tratamento, a mulher pode procurar o centro de reprodução para fazer a retirada e o congelamento dos óvulos. O Pérola Byington é o único hospital do Brasil que oferece esse serviço de congelamento de graça para mulher com câncer”, explica a ginecologista Nilka Donadio, diretora do Núcleo de Embriologia e Criopreservação de Gametas do Centro de Reprodução Humana.
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Para participar, é preciso que o casal tenha algum tipo de dificuldade para engravidar e que tenha na reprodução assistida a única possibilidade de gestação.
Além disso, existem outros critérios. A mulher não pode ter completado 40 anos, não pode ter passado por três ou mais cesárias e não deve ser portadora de doença crônica grave como as cardiopatias e diabetes descompensado, além de doença infecciosa que não permita a utilização do laboratório, como hepatites B e C ou HIV.
“Para atendermos mulheres com essas doenças infecciosas, teríamos que ter um laboratório exclusivo, por causa do risco de contaminação, e o hospital não dispões desta estrutura”, justifica a ginecologista.
Cada mulher pode fazer mais de uma tentativa, mas esta possibilidade passa pela avaliação da equipe médica do hospital.
sas doenças infecciosas, teríamos que ter um laboratório exclusivo, por causa do risco de contaminação, e o hospital não dispões desta estrutura”, justifica a ginecologista.
Cada mulher pode fazer mais de uma tentativa, mas esta possibilidade passa pela avaliação da equipe médica do hospital.
Caminho para o tratamento
Quem deseja fazer este tipo de tratamento no hospital deve procurar uma unidade de saúde e marcar uma consulta com um ginecologista. Depois de pedir uma série de exames, é este médico que vai avaliar a necessidade de um tratamento de reprodução assistida e encaminhar para o Pérola Byington por meio do sistema Cross, sistema de agendamento de consultas do município.
Foi este o caminho percorrido por Deborah Gonçalves.
Ela iniciou o processo no fim do ano passado. Depois de dois meses de espera, entrevistas e exames, o procedimento foi marcado para março. Mas, mesmo com oito embriões formados, a primeira tentativa fracassou.
“É muito difícil, só quem já passou por esse procedimento sabe o quanto é difícil”, lamenta Deborah.
Mesmo triste, ela não desistiu. A segunda tentativa está marcada para o mês de agosto e ela conta que, se não fosse em um hospital público, o sonho de ser mãe mais uma vez seria impossível.
“Se não fosse de graça, eu não teria como fazer o tratamento, é muito caro. Eu pensei em começar a guardar dinheiro, mas levaria tempo para juntar o suficiente e eu já tenho 35 anos. Depois dessa idade, a reserva de óvulos começa a cair e seria ainda mais difícil engravidar”.
De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, atualmente, 70 pessoas estão com agendamento de consultas ligadas à infertilidade e reprodução humana. Esses agendamentos, de acordo com a prefeitura, são para o Hospital das Clínicas, o Pérola Byington e a Santa Casa de São Paulo.
De acordo com a assessoria de imprensa da Santa Casa, a instituição não oferece mais o serviço de reprodução assistida. O motivo não foi divulgado.
Hospital das Clínicas USP
O Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP também oferece tratamentos de reprodução assistida gratuitos em São Paulo e em Ribeirão Preto.
O tratamento pode ser feito por casais heterossexuais, homoafetivos femininos ou mulheres solteiras com histórico de infertilidade.
Além disso, a mulher não pode ser menor de 18 anos nem maior de 38.
Como no Pérola Byington, para fazer o tratamento no Hospital das Clínicas, também é preciso passar, primeiro, pela rede básica de saúde.