*Por Ricardo Lopes
De acordo com uma publicação do Ministério da Saúde, o propósito do SUS é ser "um sistema ímpar no mundo, que garante acesso integral, universal e igualitário à população brasileira, do simples atendimento ambulatorial aos transplantes de órgãos". Infelizmente não é bem assim que enxergamos esse modelo de saúde pública no Brasil.
A má qualidade dos serviços do SUS acaba impulsionando o negócio das clínicas populares. De acordo com pesquisa do Datafolha, 93% da massa usuária do sistema público de saúde está insatisfeita com os serviços.
O discurso de que a Saúde Pública é um direito do cidadão e um dever do Estado está longe de se materializar, na medida em que os recursos são limitados e as necessidades crescentes, fazendo com que o cidadão não receba a tempo um atendimento resolutivo e de qualidade.
Contrapondo essa realidade, temos o sistema de saúde suplementar, que por meio de suasquase 800 operadoras ativas de plano de saúde buscam oferecer um atendimento digno aos seus 47 milhões de usuários, ou 23% dos brasileiros, que podemos tratar como uma minoria quando analisamos a população de 209 milhões de pessoas. Vale destacar que 70% dos contemplados com o benefício, só possuem plano por estarem inseridos nos contratos corporativos, onde as empresas arcam com a maior parte desse custo.
Conclui-se que se 70% dos usuários são funcionários de empresas, os 30% restantes destes 47 milhões de usuários – ou 6,90% da população –são de pessoas físicas que ainda conseguem reservar parte do orçamento familiar para pagar o plano de saúde. Infelizmente temos no país um cenário onde menos de 7% da população consegue bancar um tratamento de saúde digno e resolutivo.
Dentro deste cenário, a maioria dos brasileiros estão à mercê do Sistema Único de Saúde (SUS), é nesta fragilidade que surge e cresce cada vez mais as clínicas populares. Elas começam a se multiplicar pelo país, visando oferecer uma medicina de qualidadecom baixo custo.
Clínica popular como grande vantagem
Instalados próximas às estações de metrô e hospitais públicos, estas empresas vêm conquistando muitos clientes, que impossibilitados de pagar um convênio médico e insatisfeitos com o atendimento dos SUS, encontram nestas clínicas uma alternativa para terem seus problemas resolvidos, sem se verem obrigados a onerar o orçamento familiar com as altas mensalidades cobradas pelas operadoras de saúde.
Listadas como uma novidade do mercado e conhecidas como policlínicas, esse modelo surgiu na década de 90 e foi rapidamente conquistando uma fatia importante do mercado, o que acabou chamando a atenção das operadoras de planos de saúde que passaram a credencia-las em sua rede fazendo com que os serviços prestados às pessoas físicas ficassem em segundo plano, uma vez que com os planos corporativos as operadoras conseguiam um grande volume de atendimentos materializando a necessidade de escala que o setor demanda.
Outra razão importante para o fortalecimento deste novo modelo foi a recessão vivida nos últimos cinco anos que ao gerar um alto índice de desemprego, expurgou das operadoras mais de quatro milhões de usuários que, devido à falta de assistência, buscaram encontrar soluções para tratamentos que faziam anteriormente e que agora se vêm impossibilitados.
A convergência de interesses, onde cliente e fornecedor têm como objetivo comumqualidade erápido atendimento para consultas, exames e pequenos procedimentos cirúrgicos realizados a custos acessíveis, fez alavancar ainda mais este segmento de mercado.
A percepção é que esse modelo pode ser um caminho alternativo para melhorar a qualidade do atendimento público onde procedimentos de baixa complexidade e baixo custo, seriam bancados pelas famílias migrando da rede pública para a rede privada, desonerando o sistema que hoje está congestionado pelos atendimentos de pequeno porte (consultas e exames), cabendo ao SUS o atendimento aos pacientes crônicos e a realização dos procedimentos de alta complexidade como tratamentos oncológicos, cardíacos e ortopédicos, onde os custos elevados se tornam inviáveis para a grande massa da população.
Como diria o mestre chinês, “o caos gera vida” e fazendo uma simples analogia, quem sabe as clínicas populares não sejam a “vida” gerada pelo caos da saúde pública.
*Sobre o autor: Ricardo Lopes é Diretor da unidade de Consultoria e Gestão de Benefícios da ProPay. Administrador de Empresas formado pela FEA - USP com pós no CEAG – FGV, Lopes tem a sua atuação focada em Plano de Saúde, Assistência Odontológica, Seguro de Vida e Previdência Privada. Acesse: www.propay.com.br