Ao entrevistar 7 mil adultos com mais de 18 anos de idade
e 600 gestores dos setores público e privado em 11 países, a
consultoria Mercer e sua subsidiária Marsh & McLennan Companies
revelaram um pouco do pensamento a respeito da aposentadoria nos
dias de hoje. Segundo o levantamento, embora quase 75% das pessoas
tenham revelado que não estão se planejando pró-ativamente para
essa fase da vida, 68% acreditam que viverão além da sua renda e
que, por isso, nunca poderão parar de trabalhar.
Ao mesmo tempo, somente 26% acredita que terá condições de
escolher uma data para parar de trabalhar e apenas 39% dos
entrevistados disseram estar em boa ou excelente condição de saúde
no momento, o que dirá mais velhos.
Batizado de “Saudável, Próspero e Produtivo no Trabalho”, que é
como todo adulto gostaria ou deveria chegar até a melhor idade, ou
seja, os 80 anos e além, o estudo revela um despreparo grande,
tanto em termos financeiros, quando em termos de saúde, para essa
fase da vida, mesmo diante de várias mudanças no modo de vida e do
crescimento da expectativa de vida das pessoas de forma geral.
“A boa notícia é que, se a mudança for feita agora, é possível
acompanhar os padrões culturais de hoje. A sociedade está mudando -
e nossa abordagem de poupança e segurança financeira deve mudar
junto com ela”, disse Renee McGowan, diretor global de Patrimônio
Individual da Mercer.
Falta de informação, desassistência à
saúde e cultura consumista são problemas no Brasil
Felipe Bruno, líder de Previdência da Mercer no Brasil, pontua
três razões pelas quais ele acredita que a situação ainda mais
preocupante no país do que em outra nações: a falta de uma educação
financeira; a desassistência à saúde da população mais idosa,
inclusive da parte do setor privado também; e uma cultura orientada
para o consumo.
“Em 1980, a gente tinha uma expectativa de vida média para o
brasileiro de 63 anos. No ano 2000, isso subiu para 70 anos e hoje
já está chegando em 76 anos. Então estamos falando de uma população
que vive mais e que, portanto, tende a prolongar a sua permanência
no mercado de trabalho para conseguir sustentar um período tão
longo de vida após a aposentadoria”, explica ele. Em 2030, o número
de idosos já será maior do que o de crianças, com 18% da população
na faixa acima dos 60 anos, segundo projeções do IBGE.
“Olhando dados dos fundos de pensão e seguradoras, vemos que
apenas 5% dos brasileiros têm um plano de previdência privada ou
algum tipo de complementação de renda. (...) Ao mesmo tempo, 85%
dos entrevistados na pesquisa da Mercer admitem poupar mas também
dizem que isso irá contribuir para o chamado stress financeiro, uma
sensação de perda de aquisição”, explica o consultor.
Para além da poupança, há uma crescente dificuldade de o idoso
brasileiro em se planejar também em termos de assistência à
saúde.Se no âmbito privado a tendência é de redução das opções
individuais e familiares, que hoje representam 17% dos contratos do
setor (8 milhões dos 47,3 milhões de brasileiros com plano de
saúde), justamente porque essa fatia tem o reajuste controlado pela
agência reguladora, a ANS, caberia também às empresas e ao mercado,
em geral, pensar em alternativas para a população idosa.
Principalmente porque a inflação da saúde, historicamente, é maior
do que a oficial e isso só tende a se agravar com o envelhecimento
da população.
Ele lembra que há projetos tramitando no Congresso, por exemplo,
no sentido de criar planos de poupança com isenção fiscal quando
eles tiverem como finalidade exclusivamente um plano de saúde na
aposentadoria.
Ambiente de trabalho poderia ser mais
decisivo no futuro
Outro dado interessante da pesquisa e que poderia ser um fator
de mudança no Brasil, é que os empregados costumam confiar nos
conselhos sobre poupança dos empregadores (79%). Dessa forma, as
empresas poderiam ter um papel crucial nesse planejamento para a
aposentadoria.
Mas como será no futuro, já que alguns especialistas apontam para o fim do emprego
no mercado de trabalho, com a expansão de modelos de economia
colaborativa e a permanência cada vez mais errante das pessoas numa
mesma empresa?
Em 2017, 26% de todos os planos privados do país foram
oferecidos pelos empregadores aos seus funcionários, de acordo com
os dados da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida
(Fenaprevi). Para Felipe Bruno, mais do que oferecer benefícios
como esse, o empregador deveria, em conjunto com entidades
governamentais, colaborar para a educação financeira do
funcionário, por meio da promoção ferramentas voltadas para isso,
como plataformas digitais.
“É preciso que tenha um dinamismo muito maior nessas transações
para que isso tenha aderência às novas características do mercado
de trabalho.”