O segmento de assistência à saúde
será o mais afetado na área de seguros em razão da pandemia do novo
coronavírus, segundo especialista ouvidos pelo Globo. Isso se dá
porque a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) tem autonomia
para ajustar a conduta das empresas do setor em eventos pandêmicos.
A depender da demanda que o surto vai gerar, o custo poderá se
traduzir em reajuste ainda mais alto para os beneficiários e as
empresas.
As empresas da indústria de seguros
como um todo serão pouco afetadas porque, com base nas apólices
disponíveis no mercado, as consequências econômicas de uma pandemia
não têm cobertura, como em eventos, lucros cessantes e viagens.
Ainda assim, afeta vários ramos do ponto de vista da cobertura
individual, dentre elas, a de assistência à saúde será a mais
impactada avalia Felipe Bastos, sócio da área de Seguros e
Resseguros do Veirano Advogados.
A variação dos custos médicos
hospitalares, a chamada inflação médica, medida pelo Instituto de
Estudos em Saúde Suplementar, bateu 16% nos 12 meses encerrados em
junho de 2019.
Na saúde suplementar, em caso de
uma situação extraordinária, está prevista a atuação da ANS para
ajustar a cobertura aos beneficiários, explica José Antonio
Varanda, professor e coordenador da Escola de Negócios de
Seguros.
‘SUS não vai aguentar sozinho’
Na última semana, por exemplo, a
agência incluiu o exame para detecção do coronavírus no rol de
procedimentos previsto como cobertura mínima obrigatória pelos
planos de saúde.
O órgão regulador, numa situação de
pandemia, define os procedimentos a serem seguidos, como foi feito
com o exame do Covid-19. A ANS vai tomar medidas pontuais porque o
SUS não vai aguentar sozinho diz Varanda.
O custo, continua ele, será
avaliado mais adiante, conforme o avanço da epidemia e o uso do
benefício.
Se o uso saltar de forma aguda,
pode vir nova decisão para, em último caso, não comprometer a saúde
financeira das operadoras. Ou mesmo permitir um reajuste
complementa Varanda.
Antonietta Medeiros, líder de
Gestão de Saúde e Qualidade da consultoria Mercer Marsh, diz que
dificilmente um surto poderia inviabilizar a oferta de planos de
saúde por uma operadora ou seguradora, a menos que a empresa já
estivesse em situação de fragilidade financeira.
Para ela, não é possível avaliar
ainda o impacto do coronavírus para os planos de saúde.
Há uma recorrência anual de surtos
de doenças. É um somatório de quadros: dengue, Zika, febre amarela,
sarampo. Tudo isso chega no plano de saúde e traz um aumento
natural de demanda diz Antonietta.
A executiva reconhece, contudo, que
o uso dos planos cresceu nos últimos anos, embora a carteira de
beneficiários esteja encolhendo em razão da crise econômica. São
3,5 milhões de usuários a menos entre o fim de 2014 e o fim do ano
passado, quando o total chegou a 47 milhões no país.
Houve queda no número de usuários.
O que se vê é um aumento na frequência de idas ao pronto-socorro
pelo beneficiário em 4% a 4,5% ao ano. Antes da recessão, essa taxa
era de 1% a 1,5% explica ela. Também houve dificuldade econômica,
medo da perda do emprego, o que faz as pessoas adoecerem mais e
usarem mais o plano.
O impacto, reconhece ela, virá no
reajuste das mensalidades, que no segmento de planos coletivos
empresariais varia conforme a inflação médica, destacando que as
empresas têm atuado para reduzir custos.
Bastos, do Veirano Advogados,
destaca que este mês a Susepe, que reúne as empresas de seguros
privados, autorizou a contratação de resseguro por entidades de
previdência complementar e por operadoras de planos de saúde a
partir de abril deste ano.
É uma medida que vai ampliar a
capacidade do mercado brasileiro de fazer frente a esses surtos de
larga repercussão. Mas não terá efeito agora.
Procurada, a FenaSaúde, que reúne
as operadoras de saúde, afirmou que seria cedo demais para fazer
qualquer estimativa em relação ao impacto para a situação
financeira e de custo das empresas do setor.