A Folha de
S.Paulo destaca que o ministro da Saúde, Luiz Henrique
Mandetta, afirmou nesta quarta-feira (18) que o governo
implementará um serviço de telemonitoramento de sintomas do
coronavírus, em nova ação para fazer frente à pandemia. Ele também
defendeu o uso da telemedicina no combate ao viras.
“Será uma maneira que a gente vem
discutindo com nossos epidemiologistas e equipes, e deveremos ter
uma ferramenta bem inovadora. Para que todo brasileiro possa
receber a chamada e, ao digitar sinais e sintomas, a gente
classificar o risco e mantê-lo sistematicamente monitorado”,
declarou o ministro, em coletiva de imprensa ao lado do presidente
Jair Bolsonaro.
Segundo Mandetta, a ferramenta deve
ser apresentada até esta sexta-feira (20).
Além do monitoramento, Mandetta
disse que o governo pretende regulamentar a telemedicina e a
teleconsulta durante o período da epidemia.
“Vamos regulamentar a telemedicina,
teleconsulta, para todo o território nacional para essa epidemia”,
disse.
O ministro não deu detalhes sobre
que medidas seriam adotadas nesse sentido.
Hoje o ministério fornece
informações sobre a Covid-19 pelo número 136, mas quem atende a
chamada não é médico.
A ideia em estudo, disseram à Folha
interlocutores, é criar um mecanismo para que um profissional de
saúde possa dar as primeiras orientações de forma remota.
A medida deve auxiliar
principalmente em locais remotos, que devem ser atingidos depois
pelo vírus.
O ministério também estuda
plataformas para que médicos de cidades menos populosas possam
intercambiar experiências e informações com profissionais dos
grandes centros, para aproveitar a experiência dos locais que devem
ser atingidos primeiro pelo vírus.
Mesmo sem uma regulamentação do CFM
(Conselho Federal de Medicina) sobre o tema, médicos e serviços de
saúde já oferecem pré-consultas e orientação virtuais sobre o
coronavírus como forma de evitar a ida desnecessária de pacientes a
postos de saúde e hospitais.
As iniciativas são várias: desde
médicos de família voluntários respondendo a dúvidas pelas redes
sociais até programas no SUS e na rede privada.
Para Antônio Carlos Endrigo,
diretor de tecnologia da APM (Associação Paulista de Medicina), o
país poderia estar mais preparado para fazer consultas a distância
se a resolução do CFM estivessem em vigor.
Em 2019, o CFM publicou uma norma
sobre telemedicina que foi revogada por pressão de conselhos
regionais. “Agora, os médicos não podem fazer atendimento remoto
[integralmente]. Pode ser feita a triagem, mas não o atendimento
com prescrição de medicamento. Os médicos estão de mãos
atadas.”
Ainda que estivesse valendo, a
norma não aliviaria os serviços médicos nesse momento de pandemia.
O texto previa que o primeiro atendimento fosse feito
presencialmente.
Mas, apesar da revogação, não há
impedimento legal para que os médicos orientem seus pacientes
utilizando chamadas de áudio e vídeo.
Resolução publicada em 2002 diz que
em casos de emergência é possível que médicos realizem “suporte
diagnóstico e terapêutico” a distância.
Porém, segundo Endrigo, a medida é
vaga e deixa a desejar, porque sem a regulamentação os médicos
brasileiros carecem de estrutura tecnológica para realizar
atendimentos.
O neurologista Jefferson Fernandes,
que também é membro da APM, afirma que apesar de médicos usarem
aplicativos como WhatsApp para tirar dúvidas de pacientes, as redes
sociais não oferecem a segurança que os dados sensíveis
requerem.
“Telemedicina responsável demanda
ética e qualidade. As instituições que já fazem a teleconsulta
fazem tudo de forma segura. O WhatsApp não é o melhor aplicativo
para se usar, ele não protege os dados e não dá para catalogaras
informações, criar um banco de dados do paciente, é uma
fragilização que se deve à não regulamentação”, diz ele.
Um estudo feito pela empresa Global
Summit Telemedicine com 2.258 médicos brasileiros de 55
especialidades, revela que 88,4% dos entrevistados interagem com os
pacientes e familiares a distância.
A maior parte deles (65,1%) utiliza
o WhatsApp. O segundo meio mais usado para interação fora do
consultório é a chamada de voz (16,8%), seguida pelo e-mail
(5,6%).
Procurado, o CFM informou por meio
de nota que acabou de encerrar a consulta pública para elaborar sua
nova resolução de telemedicina. Uma comissão analisará as propostas
para elaboração da minuta.
Enquanto a nova regra não for
elaborada e aprovada, a telemedicina no Brasil deve ser praticada
com base no que está previsto na resolução de 2002, segundo o
conselho.
O que a resolução revogada
previa
A norma que foi revogada definia a
prática de teleconsulta e estabelecia regras, como necessidade de
que o primeiro atendimento fosse presencial. Estabelecia ainda
intervalo de no máximo quatro meses para consultas presenciais —no
caso de pacientes crônicos, por exemplo
– Também previa que atendimento
fosse gravado e armazenado seguindo critérios, com proteção
garantida para sigilo. Caso paciente não concordasse com a
gravação, consulta não pode ser realizada
– Caso o médico prescrevesse exames
e medicamentos, documento deveria conter dados de identificação,
registro de data e hora e assinatura digital do médico
Como está agora
Consulta pública do CFM para
elaborar uma nova resolução foi encerrada. Uma comissão analisará
as propostas para elaboração de uma minuta.