Valor é pago pelos planos de
saúde por procedimentos de beneficiários
A Agência Nacional de Saúde
Suplementar (ANS) repassou em 2019 ao Sistema Único de Saúde (SUS),
por meio do Fundo Nacional de Saúde, o recorde de R$ 1,15 bilhão,
alta de 47% em relação ao ano anterior. O diretor de
Desenvolvimento Setorial da ANS, Rodrigo Aguiar, disse hoje (7)
à Agência Brasil que os repasses vêm
crescendo ao longo dos últimos cinco anos e, especialmente, nos
três últimos anos, quando somaram R$ 2,5 bilhões.
“O repasse concentrou bastante
nesse último período quando a gente conseguiu ter as estruturas e
os processos adequados para realizar de forma mais eficiente esse
repasse”, comentou o diretor.
Aguiar disse que desde que a
ANS foi criada, em 2000, foram repassados ao SUS R$ 4 bilhões.
Esses recursos são oriundos da cobrança feita pela ANS às
operadoras de planos de saúde por procedimentos feitos pelo SUS em
beneficiários dos planos. Segundo informou Rodrigo Aguiar, foram
cobrados das operadoras, desde o início do processo de
ressarcimento ao SUS, R$ 5,95 bilhões. Esse montante equivale a
3,86 milhões de atendimentos de clientes dos planos de saúde
efetuados no SUS.
Desses R$ 5,95 bilhões, uma parcela
de R$ 1,62 bilhão se refere a cobranças feitas em 2019, quando
ocorreu o aumento de cerca de 58% no valor dos atendimentos
cobrados e em torno de 38% na quantidade de atendimentos a
beneficiários de planos de saúde no SUS cobrados pela agência.
“Quando um beneficiário de uma
operadora de plano de saúde utiliza a rede do SUS, a gente recebe
um arquivo do Ministério da Saúde, através do Datasus, geralmente
um ano depois, com todos os procedimentos realizados na rede
pública, naquele período. A partir desse arquivo é que a gente faz
a cobrança às operadoras”, explicou Aguiar. O valor cobrado
também tem sido crescente.
Rodrigo Aguiar explicou que quanto
mais a ANS tornar o processo eficiente e menores forem os prazos de
processamento desses dados, de instauração dos processos e
encaminhamento às operadoras, “maior a nossa capacidade de cobrança
e, por conseguinte, maior também a capacidade de arrecadação”.
Destaques
De acordo com a ANS, os maiores
valores cobrados no grupo de internações são para transplantes de
rim, tratamentos de doenças bacterianas e cirurgias múltiplas. Já
hemodiálise, radioterapia, acompanhamento de pacientes
pós-transplante e hormonioterapia do adenocarcinoma de próstata se
destacam pelos maiores valores cobrados entre os atendimentos
ambulatoriais de média e alta complexidade.
Em relação ao local de ocorrência,
São Paulo lidera em termos de número de atendimentos cobrados com
Guia de Recolhimento da União (GRU) entre 2000 e 2019, com um total
de R$ 2,351 bilhões. O segundo colocado, Minas Gerais, registra
três vezes menos que São Paulo, ou seja, R$ 730,28 milhões. Rodrigo
Aguiar esclareceu que os números relativos a São Paulo têm ligação
direta com a cobertura populacional.
“São Paulo é o estado que tem mais
cidadãos beneficiários de planos de saúde e tem a ver também com a
densidade demográfica. É muita gente em um único estado. Por isso,
acaba tendo essa cobrança e essa arrecadação bem maiores que os
outros”. Já em Roraima acontece o inverso. Além de ter a menor
densidade populacional, o estado também tem a arrecadação menor, da
ordem de R$ 4,09 milhões no acumulado de 2000 a 2019.
Dívida ativa
Quando a operadora de plano de
saúde não paga voluntariamente à ANS os valores apurados, ela é
inscrita na dívida ativa e no Cadastro Informativo de Créditos Não
Quitados do Setor Público Federal (Cadin), ficando também sujeita à
cobrança judicial posterior. Em 2019, a ANS encaminhou R$ 105,5
milhões para a dívida ativa. Desde o ano 2000, o ressarcimento ao
SUS já encaminhou R$ 1,08 bilhão para inscrição em dívida ativa,
sendo R$ 525,63 milhões somente no período de 2015 a 2019. Entre
2001 e 2019, as quantias depositadas em juízo correspondem a R$
490,7 milhões, segundo a ANS.
Aguiar informou que houve redução
significativa nos últimos anos de operadoras inscritas na dívida
ativa, “porque a gente conseguiu que as operadoras pagassem mais
nos últimos anos”. A ANS estima que, atualmente, encontram-se em
depósitos judiciais com GRU expedida R$ 720 milhões, dos quais R$
170,4 milhões referentes a GRUs vencidas no ano passado.
Expectativas
O diretor de Desenvolvimento
Setorial da ANS afirmou que o ano de 2020 será muito desafiador. “A
gente vinha com boas expectativas de, pelo menos, manter o nível de
arrecadação mas, com o impacto que a gente vem tomando por conta do
coronavírus e, principalmente, por conta de uma medida provisória
que suspendeu os prazos processuais da administração pública até o
final do ano, é muito possível que a gente tenha uma queda
acentuada na arrecadação este ano, ao contrário do que se esperava
antes de sermos tomados pela crise decorrente do coronavírus”.
Rodrigo Aguiar avaliou que a
arrecadação deste ano deverá ficar bem abaixo do recorde registrado
em 2019.