pandemia do coronavírus
entrou em cena feito faca quente em manteiga
A
futurologia é uma ciência incerta, imprevisível e aleatória, cujo
resultado, invariavelmente, desmente as conclusões iniciais. Em
2019, no Congresso Nacional dos Corretores de Seguros, era quase
unanimidade que o setor tinha capacidade para dobrar de tamanho nos
próximos cinco anos. Os comentários eram no sentido de que não era
sequer preciso acrescentar os novos seguros, decorrentes dos riscos
climáticos, cibernéticos e de responsabilidade para a conta fechar
sem maiores dificuldades. Em 2024, o setor de seguros seria o dobro
do que era em 2019 pela adição dos novos seguros contratados nas
carteiras tradicionais, como veículos, residencial, pequenas e
médias empresas, vida em suas várias formas e planos de saúde, que,
com a retomada do crescimento, voltaria aos cinquenta milhões de
beneficiários.
A
conta era certa, só que não vai acontecer. Em 2024 o setor de
seguros não será o dobro do tamanho de 2019. Coisas da futurologia
transformada em realidade, que muda tudo como num passe de mágica,
até quando o resultado é uma barbada que não pode dar errado.
Infelizmente, na vida, o inesperado acontece e dá errado. Aliás,
esta é uma das razões para, há mais de quatro mil anos, o seguro
ser tão importante para a proteção da sociedade. O inesperado faz
parte da vida. E pode custar caro. 2020 chegou para acabar com a
festa. E o ano que começou prometendo fazer sua parte para
confirmar as previsões do setor, em três meses mostrou que não era
bem assim, que o bicho ia pegar e as coisas ficariam muito
complicadas.
A
pandemia do coronavírus entrou em cena feito faca quente em
manteiga. Furou fundo, se espalhou pelo planeta e já fez mais de um
milhão e oitocentas mil vítimas fatais, sendo mais de duzentas mil
no Brasil.
O
impacto econômico foi tão forte quanto o susto diante da
possibilidade da morte. Todas as nações sentiram os efeitos da
recessão gerada pela pandemia e pelas medidas adotadas para
enfrentá-la, notadamente o isolamento social, que num primeiro
momento funcionou quase que espontaneamente, fechando a sociedade
com todas as consequências negativas advindas, como a quebra maciça
de empresas e o desemprego recorde, que só no Brasil deixou mais de
quatorze milhões de pessoas sem trabalho.
O
resultado é uma recessão de mais de 6%, a dívida pública próxima de
100% do PIB, o desemprego elevado e setores tradicionalmente
fortes, como a indústria automotiva, encerrando 2020 com uma queda
de mais de 20% em relação ao ano passado.
A
grande exceção foi o agronegócio, seguido da indústria de
mineração. Os dois setores são responsáveis diretos pelo desempenho
positivo da balança comercial, que fechou o ano com superávit de
mais de cinquenta bilhões de dólares, auxiliada também pela queda
das importações.
Mas
se o agronegócio e a mineração brilharam, outros setores também não
se saíram mal e aí merece destaque o setor de seguros, que, com
certeza, não dobrará de tamanho até 2024, mas fechou 2020 com
números bastante interessantes, especialmente se comparados ao
desempenho do País.
Não
houve milagre. Os resultados são consequência dos vários momentos
ao longo do ano. Inicialmente, o isolamento social reduziu a
sinistralidade de forma geral, o que compensou a queda do
faturamento decorrente da quebradeira generalizada, especialmente
ao longo do segundo trimestre. Além disso, nos primeiros três
meses, o faturamento foi positivo, o que melhorou o resultado do
primeiro semestre.
No
início do segundo semestre aconteceu uma retomada mais forte do que
a esperada e que se manteve consistente até o final do ano,
melhorando os números brasileiros, que, se caíram 6%, tiveram um
desempenho muito melhor do que a queda de 10% inicialmente
prevista.
2021
será um ano desafiador. Os obstáculos são sérios. Se o Brasil não
fizer as reformas necessárias a situação pode se complicar. Mas
para o setor de seguros as perspectivas continuam positivas. Os
prognósticos apontam um crescimento da economia da ordem de 3%. E
ele precisa ser segurado.
*SÓCIO DE PENTEADO MENDONÇA E CHAR ADVOCACIA E SECRETÁRIO-GERAL DA
ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS