“Queremos ser o maior hub de
distribuição de produtos que dê acesso à saúde privada” Bruno
Blatt, CEO da Qualicorp. (Crédito: Claudio Gatti )
Companhia compra participação da startup Escale Health e vai usar
tecnologia para identificar clientes em potencial. A estratégia da
empresa prevê ainda o lançamento de novos produtos e de um
marketplace de assistência médica.
Quando assumiu como CEO da Qualicorp, em novembro de 2019, o
executivo Bruno Blatt tomou algumas decisões com o objetivo de
modernizar as operações de uma empresa que já tinha 22 anos de
mercado. Embora bem-sucedida do ponto de vista de geração de caixa,
Blatt considerava que a companhia estava acomodada no quesito
aquisições e ainda muito dependente de uma operação analógica. As
mudanças foram radicais e imediatas. A principal delas – e talvez a
mais difícil – foi trocar 60% da diretoria da empresa para oxigenar
o mindset e incorporar novas estratégias ao negócio, principalmente
àquelas voltadas para a digitalização. Agora, a Qualicorp anunciou
um novo passo nessa jornada: a compra de uma fatia da startup de
tecnologia Escale.
A negociação demorou quase um ano para ser finalizada e incluiu a
compra de 35% da Escale Health, braço da startup focado no setor de
saúde, e 5% da Quinhentos, holding que é dona da Escale Tecnologia
e tem sede nos Estados Unidos. O investimento total é de R$ 132,6
milhões. Antes do acordo com a Qualicorp, a Escale já havia captado
R$ 100 milhões de fundos internacionais, incluindo a Kaszek
Ventures, Global Founders Capital (GFC) e Redpoint eventures.
O negócio faz sentido? A Qualicorp afirma que faz. A Escale utiliza
a tecnologia e a análise de dados para atrair clientes com maior
probabilidade de contratar uma assistência médica. Faz isso por
meio de uma solução que usa modelos mais convencionais, como os
adwords do Google, e um formato que chama de ativos digitais. São
sites proprietários que oferecem, por exemplo, um comparativo de
planos de saúde. O consumidor faz a busca e coloca alguns dados na
plataforma que vão contribuir para uma recomendação mais
direcionada. A Escale também desenvolve variações desses sites com
foco em cada perfil de cliente. Há um voltado para o público com
mais de 60 anos. Outro, para um consumidor jovem.
Essa tecnologia vai reforçar a atuação do time de vendas off-line,
composto por 43 mil corretores parceiros que trabalham para a
Qualicorp em um modelo de baseado em comissão. “Discutimos sobre o
papel da Qualicorp do futuro. Decidimos inverter a lógica off-line
e oferecer uma experiência digital desde a prospecção”, afirmou
Elton Carluci, vice-presidente Comercial, de Inovação e Novos
Negócios.
As próximas movimentações da Qualicorp já estão desenhadas. Além
das grandes operadoras de saúde, como Bradesco, SulAmérica e Amil,
nos últimos meses a empresa fechou parcerias com outras companhias
regionais, como a Samp, do Espírito Santo, e a CCG, que atua em
Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Agora, são 102 operadoras
dentro do ecossistema da Qualicorp. O objetivo é diversificar o
portfólio de produtos e oferecer opções específicas, com preços
variados. “Mais da metade dos produtos disponíveis hoje foram
lançados no último ano ou são versões renovadas”, afirmou Carlucci.
Dentre os lançamentos está um plano com seguro contra desemprego,
feito em parceria com a SulAmérica, que garante a manutenção do
contrato por seis meses em caso de demissão ou perda de renda por
autônomos.
Até o final do ano, a empresa também vai lançar um aplicativo que
funcionará como um marketplace para esses novos produtos, que devem
incluir ainda opções com foco em PMEs e seguros atrelados à
contratação de um plano de assistência médica. “Queremos ser o
maior hub de distribuição de produtos que dê acesso à saúde
privada”, afirmou Blatt. “E nosso aplicativo será o one stop shop
para planos de saúde.”
MERCADO Conhecida principalmente pelos planos coletivos por adesão,
a Qualicorp pretende manter o foco nesse tipo de contratação, em
que profissionais se reúnem, por meio de entidades de classe, e têm
acesso a negociações com valores específicos. Dos 47,6 milhões de
brasileiros que têm planos de saúde privados, apenas 6,3 milhões
fazem parte do modelo coletivo.
Nesse cenário, a Qualicorp tem um papel relevante. Do total de 2,6
milhões de clientes da empresa, 1,5 milhão aderiram ao formato. “O
segmento de planos coletivos por adesão tem um grande potencial
para crescer”, afirmou Jeff Plentz, presidente do fundo Tech- tools
Ventures, focado em empresas de saúde. “Mas a briga será acirrada,
e essa disputa será feita no campo da tecnologia.”