Qual é o futuro das pequenas e médias operadoras de saúde? A
questão preocupa a cabeça dos empresários e tem colocado em xeque a
própria sustentabilidade do setor. No horizonte, a expansão do rol
de procedimentos – com começo previsto para 2014, que implica na
incorporação obrigatória de novos procedimentos e, por sua vez,
mais gastos. No presente, a difícil realidade de tentar sobreviver
em meio as grandes, obedecendo as mesmas regulamentações que
incluem normas de estrutura mínima e prazos para atendimento.
Diante da discussão, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS)
reconhece o cenário adverso, mas como autarquia reguladora se
posiciona para garantir o acesso ao beneficiário ao invés de
promover “possíveis incentivos”. “O papel da agência não é
incentivar ou não incentivar, e sim estabelecer padrões e regras
que devem ser observados do ponto de vista assistencial e
econômico-financeiro”, afirmou o diretor da autarquia Leandro
Tavares, durante evento em São Paulo.
Movimento natural de um setor regulamentado, os 13 anos da agência
e as normas estabelecidas empurraram o segmento para a
consolidação. Assim ocorreu uma espécie de “seleção natural”:
àquelas que conseguiram obedecer continuaram na ativa, muitas
quebraram e outras foram incorporadas por grandes companhias que
conseguem operar, entre outros motivos, em razão da escala.
Dados da agência mostram que eram 1345 empresas em 2003 e,
atualmente, o número é de 959 (considerando as operadoras com
beneficiários e excluindo a área odontológica). Neste universo, com
529 consideradas pequenas empresas e 279 de médio porte, estão
beneficiários que, muitas vezes, precisam de atendimento em
pequenas cidades.
“Entendo que a médio prazo não dá para a saúde suplementar deixar
de contar com as pequenas operadoras nos menores centros”, alerta o
presidente da Comissão de Pequenas e Médias Operadoras da Abramge
Nacional, Cyro Alves de Britto Filho. A entidade representa cerca
de 80% de operadoras com este perfil.
Consultores ouvidos pela reportagem relataram que a própria ANS
admitiu, em 2012, que “havia cerca de 300 operadoras de pequeno
porte sem condições de continuar atuando”. A autarquia não trabalha
com regras específicas de acordo com o tamanho das instituições e
vê nesta situação um movimento natural do mercado.
“Não sei se as empresas menores existirão no futuro. Têm mercados
onde já ficou claro que escala é fundamental e eles operam sem
empresas menores. Há outros que tenderam a organizar melhor seu
regramento e perceberam a importância das menores, pois elas
possuem capacidade de estar em algumas regiões onde outras não
estarão”, pontua Tavares.
Para o diretor, diante disso as operadoras devem inovar na gestão,
pois “o cenário adverso supera o mérito da gestão ortodoxa”.
Questionado sobre como seria essa inovação, Tavares acredita que a
TI pode ajudar a conter desperdícios.
Sobrevivência
O fato é que tais empresas não estão sobrevivendo e um dos
fatores apontados pelo mercado é justamente o impacto das novas
medidas. “Toda vez que se aumenta o rol de procedimentos, as coisas
vão ficando mais complicadas e o custo do plano tende a subir e
afastar o consumidor”, afirmou o presidente da Abramge, Arlindo
Almeida.
De acordo com o executivo, as reservas técnicas que poderiam ajudar
as pequenas operadoras, que podem quebrar com apenas um caso de
judicialização ou de alto risco, por exemplo, não podem ser usadas.
“Há praticamente uns R$ 15 bilhões para todas as operadoras, mas
isso não pode ser mexido”, diz.
O diretor da ANS enfatiza que o recurso não deve ser tratado como
uma espécie de poupança. “O que está definido é que pode ser usado
no momento de interrupção da operação, onde os recursos reservados
sejam suficientes para quitar as dívidas com os prestadores”,
explica.
Para o consultor de saúde suplementar Horácio Cata Preta, há uma
evidente crise entre as empresas de pequeno porte. Se a ANS
resolvesse eliminar do mercado as operadoras com problemas
econômico-financeiros e operacionais sobrariam poucas alterativas
para o consumidor. “Não restariam mais do que 400 das cerca de 1000
que estão em operação atualmente, todas pequenas, com 20 mil ou
menos beneficiários [seriam incorporadas]”, pontua.