À medida que
barreiras e preconceitos forem quebrados por consumidores, a adoção
de "wearables" ganhará novas proporções
Se
voltarmos alguns anos, nem imaginávamos o quanto seríamos
dependentes de aparelhos para operar tarefas básicas, como
encontrar um endereço. O fato é que as ondas de tecnologia trazem
consigo promessas de revoluções inevitáveis, como já vimos com o
telefone, a televisão, o computador e, mais recentemente,
smartphones e tablets.
E
você já deve ter percebido qual é o hype da vez: estamos falando
das tecnologias vestíveis, ou wearables. O conceito engloba
qualquer aparato tecnológico que possa ser vestido, como óculos,
relógios e pulseiras. Eles também carregam o conceito smart,
sugerindo a capacidade de integração entre corpo e ambiente, bem
como outros dispositivos e sensores conectados à
internet.
Estaríamos, então, mais próximos de acessar
gadgets que conferiam capacidades adicionais a personagens da
ficção, como o agente secreto James Bond e o inspetor Dick Tracy,
para executar nossos trabalhos?
Basta
olhar os lançamentos que dominam diversos eventos de tecnologia:
anúncios de relógios inteligentes (ou smartwatches) de fabricantes
como Samsung, LG, Motorola e Sony, além do sistema operacional
lançado pelo Google para rodar nesse tipo de dispositivo, o Android
Wear. Por sinal, a empresa é a criadora do que talvez seja um dos
vestíveis mais comentados do mundo, o “Google Glass”. Enquanto
isso, outras companhias entram nessa corrida, dando pistas sobre
projetos semelhantes.
Tudo
isso pode soar muito geek, mas o fato é que à medida que barreiras
e preconceitos forem quebrados por consumidores, a adoção ganhará
novas proporções e, consequentemente, impactará o mundo
corporativo.

Uso nas empresas
E mesmo com esse estigma futurista, o
mercado faz previsões positivas. A Deloitte estima que 10 milhões
de produtos da categoria serão vendidos até o final de 2014,
gerando US$ 3 bilhões de receita.
No
entanto, antes de se pensar em adoção no mundo corporativo, existem
diversos pontos a serem resolvidos, como a duração da bateria,
popularização dos preços, segurança e privacidade das informações,
dentre outros. E como você, leitor sabe, todos esses tópicos são
críticos dentro das empresas. Contudo, como salienta Angela
McIntyre, diretora de pesquisa do Gartner para mobilidade,
tecnologias vestíveis e outras tendências, os preços cairão com a
ampliação do uso entre consumidores e a disseminação dos wearables
no ambiente empresarial será inevitável mesmo assim, de médio a
longo prazo.
“O
que temos hoje de concreto são alguns projetos-piloto em andamento,
e as conversas sobre wearable estão começando a acontecer entre
empresas e fabricantes”, mensura Angela. Dentre as principais
aplicações, a especialista destaca o potencial de crescimento para
uso de câmeras vestíveis em serviços de campo ou seja, empresas que
possuem funcionários realizando operações remotamente. Por exemplo,
durante o reparo de peças valiosas de equipamentos, em que é
possível transmitir imagens sobre a situação e contar com opiniões
de especialistas.
“Essas câmeras estão sendo propostas nas
tecnologias vestíveis, mas talvez a forma mais otimizada está nos
óculos inteligentes que, por meio da realidade aumentada, fornecem
acesso a informações adicionais em seu display”, acrescenta. As
indústrias mais beneficiadas por esses óculos incluem companhias
que possuem técnicos, engenheiros e outros funcionários de campo,
indústrias de manutenção, saúde e manufatura, aponta o
Gartner.
A
companhia prevê um impacto na economia de US$ 1 bilhão por ano até
2017 em trabalhos de campo, proporcionados pela capacidade de
identificação e solução de problemas mais rapidamente a partir
desses dispositivos, dispensando a necessidade de deslocar outros
especialistas a lugares remotos.
Outra
aplicação possível para os óculos vestíveis está em segurança e
policiamento, de modo que as primeiras cenas de operações poderão
ser registradas, bem como a atuação dos agentes envolvidos,
fornecendo subsídios para outras ações investigativas.
A
provedora de software de segurança Digitfort, por exemplo, concluiu
recentemente a integração de sua solução de segurança VMS (Video
Management Software) com o Google Glass. No início deste ano, a
empresa foi convidada para fazer parte do programa de
desenvolvimento de aplicativos para os óculos do Google, após
despertar atenção da fabricante de ferramentas para desenvolvedores
Embarcadero com seu aplicativo destinado a smartphones.
Por
meio do software, é possível capturar imagens da câmera Glass em
tempo real e transmiti-las diretamente via 3G ou wireless para uma
central de monitoramento, onde são armazenadas. Dessa maneira, a
solução pode ser utilizada para ajudar a polícia em operações,
transporte, inspeções de carga para empresas portuárias,
aeroportos, estacionamentos, e entre outros, detalha Carlos
Bonilha, presidente da Digifort.
“A
aplicação é muito nova no mundo e somos a primeira empresa a
utilizar software de segurança VMS no Google Glass. É o futuro, mas
o dispositivo ainda está sendo aperfeiçoado e a expectativa é que
ele seja lançado até o fim do ano”, comenta Bonilha. O executivo
aposta na disseminação do Glass tanto para segurança, quanto para
outras aplicações nas empresas, apesar do preço alto.
“As
empresas que viram o projeto ficaram muito interessadas, já que o
sistema de monitoramento móvel hoje é muito precário, pois as
câmeras são grandes e precisam de muita bateria. E o Google Glass,
apesar de sofisticado, funciona em um sistema simples e é uma
alternativa eficiente para monitoramento onde não há câmeras”,
acrescenta.
Prepare-se para o
futuro
O mercado de wearables ainda está em
seu estágio inicial, nem mesmo as tecnologias estão maduras o
suficiente. Enquanto fabricantes lançam e testam conceitos,
tentando medir o potencial do mercado, consumidores e empresas
buscam compreender quais benefícios poderão ser extraídos na
prática.
“Em
primeiro lugar, o desafio das empresas será identificar como o
negócio poderá ser beneficiado e demonstrar a razão para a adoção”,
evidencia Ignacio Perrone, consultor de serviços e tecnologias de
comunicação e informação da Frost & Sullivan para a América Latina.
O especialista também acredita que a adoção irá acontecer
gradualmente, assim como se deu na mobilidade, com smartphones e
tablets. “Apenas os executivos do topo terão acesso no início,
depois cairá para outros níveis hierárquicos.”
Segundo ele, em dois em anos os wearables já
serão uma realidade no ambiente corporativo, com grande uso para
comunicação, como, por exemplo, para envio de alertas e executar
outras tarefas através de aplicações de negócios. A segurança, por
sua vez, deve preceder a questão do preço, realça Angela, do
Gartner. “As companhias devem assegurar que as informações captadas
e transmitidas por esses dispositivos estão criptografadas, como
serão armazenadas nos servidores e como será o acesso a
elas.”
Como
primeiro passo, os dois analistas sugerem uma adaptação das
políticas de BYOD para os vestíveis, educando usuários e explicando
as consequências de usos indevidos e divulgações de informações,
como um vídeo gravado por um óculos inteligente. “O melhor a fazer
é estar preparado para o futuro e sua imprevisibilidade. Por isso,
os CIOs devem focar nos desafios imediatos, que já foram
apresentados na tendência do BYOD, recomenda Perrone.