Cerca de nove em cada dez médicos paulistas
dizem sofrer interferência dos planos de saúde em sua autonomia
profissional, aponta pesquisa do Datafolha feita a pedido da
Associação Paulista de Medicina (APM).
Entre as reclamações estão recusa de pagamento de serviços
prestados e pressão das operadoras para diminuir o número de exames
e o tempo de internação. Em uma escala de 0 a 10, os 403 médicos
entrevistados deram nota média de 4,7 para os convênios. Um dos
fatores que deixou o resultado abaixo da média foi o valor do
honorário médico pago pelas empresas.
Mal remunerados e ameaçados de descredenciamento pelas operadoras
caso não reduzam os exames, o tempo de internação e a prescrição de
procedimentos e medicamentos de alto custo, os médicos ficam
impossibilitados de prestar um serviço de qualidade ao usuário dos
convênios, afirma o presidente da APM, Jorge Carlos Machado curi.
"O setor de saúde suplementar está entrando em colapso. O
paciente compra um plano esperando atendimento e ou não recebe esse
atendimento ou o recebe de forma parcial", diz.
O secretário do Conselho Federal de Medicina Desiré Callegari diz
que muitos médicos são denunciados aos conselhos regionais por má
prática da medicina porque não conseguem exercer sua autonomia.
"Muitas vezes deixam de pedir um exame de alto custo essencial
para o diagnóstico, por exemplo, porque estão reféns do sistema. Se
eles se insurgem contra os planos são desligados e não têm a quem
reclamar ", diz.
A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) é o único órgão que
fiscaliza o trabalho das operadoras de saúde, mas ela tem poder
apenas para interferir na relação entre as empresas e seus
consumidores, explica a advogada Rosana Chiavassa. "A lei não
autoriza a ANS a regular a relação dos planos com os médicos,
clínicas, laboratórios e hospitais." Embora a agência não tenha
autonomia para interferir no valor do honorário pago ao médico,
continua Rosana, pode punir as operadoras que se negam a cobrir
exames e procedimentos. "Mas o médico precisa ter coragem de
denunciar", diz.
Defesa
A reportagem procurou as operadoras mais citadas, como Amil, Medial
e SulAmérica, mas as empresas preferiram se manifestar por meio de
nota assinada pela Federação Nacional de Saúde Suplementar
(FenaSaúde). No texto, a entidade diz que "suas afiliadas não fazem
restrição ao acesso a serviços - como internações e exames - desde
que estejam previstos nas coberturas contratuais dos planos e nas
diretrizes determinadas pela ANS". Com informações dos jornais
O Estado de S. Paulo e Jornal da Tarde.
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