Apenas 4,61% dos 6.140 hospitais
brasileiros possuem algum tipo de acreditação, espécie de chancela
de que a instituição opera dentro de padrões estabelecidos de
qualidade e segurança.
Não há lei que obrigue a
instituição a buscar certificação, feita por empresas externas
encarregadas de avaliar centenas de processos em um hospital como
prontuários, taxa de infecção e capacitação de funcionários.
Nos EUA e no Canadá, governos e
seguradoras de saúde exigem certificação dos hospitais com os quais
firmarão contratos ou parcerias. E pacientes usam o selo como
parâmetro para escolher.
No Brasil, não há incentivo por
parte dos governos ou das operadoras de saúde para que mais
hospitais busquem a acreditação.
“Não há nenhuma vantagem em ser
acreditado no Brasil, nem penalidade por não sê-lo. Isso fica a
critério dos gestores de hospitais e da disponibilidade de
recursos”, diz Ana Maria Malik, coordenadora do núcleo de saúde da
FGV (Fundação Getúlio Vargas) e autora de estudo sobre acreditação
no país.
Dos 283 hospitais acreditados até o
mês passado, quase 40% estavam concentrados em território paulista.
Na região Norte, Acre, Rondônia, Roraima e Tocantins não têm
instituições certificadas.
Nos EUA, mais de 90% dos hospitais
têm acreditações, segundo informações de Jean Moody-Williams,
diretora do programa de qualidade ligado ao CMS, órgão do governo
americano responsável pelos serviços públicos de saúde (Medicare e
Medicaid).
O CMS não fecha contratos com
hospitais sem essa chancela. “Abrir-se para a acreditação é o
mínimo que se espera de uma instituição hospitalar”, disse Jean à
Folha durante um congresso de qualidade hospitalar promovido pela
FGV em abril.
Não há garantia de que a
acreditação afete diretamente a qualidade, mas indica que o
hospital deseja melhorar. “Isso abre possibilidades de novas e boas
práticas de gestão”, explica Malik.
A economista da saúde Maureen
Lewis, professora na Georgetown University (Washington), tem a
mesma avaliação. “A acreditação dá uma garantia mínima. Se ninguém
fiscaliza, os hospitais fazem o que querem”, afirma.
Para ela, a certificação traz mais
segurança ao paciente. “Os hospitais não podem deixar aumentar o
nível de infecção hospitalar senão perdem o selo”, exemplifica.
Na opinião de Maria Carolina
Moreno, superintendente da Organização Nacional de Acreditação, uma
das quatro acreditadoras atuantes no Brasil, o custo, de R$ 60 mil
para hospital de 200 leitos, é uma das barreiras à adesão.
Há outras. A prática prevê mudanças
na cultura, o que pode gerar conflitos entre profissionais de
saúde. “Não temos pretensão de fazer com que todos os hospitais
sejam acreditados. Mas os padrões de segurança do paciente devem
atingir a todos.”
Até 70% dos erros que ocorrem em
hospitais brasileiros, como medicações trocadas ou operação de
membros errados, seriam evitados se as instituições seguissem
protocolos já estabelecidos.