A imensa maioria dos imóveis do
País não tem qualquer tipo de proteção de seguro, muito menos
contra chuvas e tempestades de verão
O verão ainda não começou, mas a
primavera decidiu ocupar espaço e está descarregando tempestades
fortes em várias áreas do Brasil, especialmente no Sul e no
Sudeste. Aliás, o Sul vem sofrendo faz tempo, com milhares de
pessoas desabrigadas, patrimônios destruídos e mortes.
Chuvas fortes, granizo,
ventanias, vendavais e tornados têm frequentado regularmente os
noticiários, com imagens dramáticas de localidades severamente
afetadas, pessoas sem ter para onde ir, casas arrasadas, veículos
arrastados pela enxurrada e a certeza de que quase tudo não estava
no seguro.
Conversando com o diretor de
marketing de uma das maiores seguradoras do País, ele estava
impressionado porque na tragédia das represas de Mariana sua
companhia tinha menos de 200 apólices, todas sem cobertura para os
danos consequentes do mar de lama que se espalhou pela
região.
Se tomarmos a realidade do Sul e
do Sudeste, castigados pelas chuvas e tempestades de verão, veremos
um quadro muito parecido. A imensa maioria dos imóveis do País não
tem nenhum tipo de proteção de seguro, muito menos contra esses
danos. Alguns cálculos indicam que menos de 30% dos imóveis
brasileiros estão minimamente segurados. É um número preocupante,
na medida em que as apólices nacionais, ainda que necessitando
ajustes em função das mudanças climáticas e sociais que vão mudando
a cara do País, dão cobertura para um bom número de eventos de
origem climática.
Por que não são contratadas? Essa
é uma questão complicada de ser respondida. Em primeiro lugar, a
maioria dos brasileiros não sabe o que é seguro, nem que existe uma
ferramenta capaz de proteger seu patrimônio e sua vida, por um
custo suportável. Em segundo lugar, boa parte dos corretores de
seguros não conhece razoavelmente outras apólices, além dos seguros
de veículos. Finalmente, as seguradoras não costumam investir em
campanhas publicitárias explicando as várias possibilidades de
garantias de seus seguros patrimoniais.
Essa soma, além da desigualdade
social – que impede que milhões de brasileiros entendam um
contrato, ainda que simples –, compromete a capacidade do cidadão
comum compreender que o seguro não é despesa, mas o investimento
mais barato que ele pode fazer para proteger a si mesmo, aos seus e
ao seu patrimônio.
Faz pouco tempo, na mesma época
em que o Rio Grande do Sul era castigado pelas chuvas, tempestades
também atingiram severamente os Estados Unidos e a França. Enquanto
tão logo o governo francês decretou estado de emergência, as
seguradoras começaram a pagar as indenizações; e nos Estados
Unidos, como costuma acontecer nessas ocasiões, as seguradoras
enviaram seus trailers para os locais afetados para rapidamente
atender a seus segurados, aqui não aconteceu nada, além de imagens
tristes e declarações e ações demagógicas dos políticos de
ocasião.
É verdade, o seguro não é a
única, nem a mais barata e eficiente forma de ação contra esses
danos. Se houvesse o planejamento para a ocupação racional do solo,
parte dos danos seria evitada, o que é muito mais inteligente e
barato.
Mas não é isso que se vê. O País
assiste impassível a invasões de terras para uso, hipoteticamente,
social, entre elas áreas impróprias para uso residencial, que vão
sendo ocupadas, sem nenhum resistência, há anos. O Poder Público
fecha os olhos, a sociedade finge que não sabe, o Judiciário é
lento e o resultado são situações como os “bairros cota”, nas
encostas da Serra do Mar, ou as ocupações das áreas de proteção dos
mananciais, todas em São Paulo.
Não pode acabar bem e milhares de
pessoas pagarão o preço da imprevidência, do descaso e da
demagogia. Neste cenário, a ferramenta que sobra, não para evitar,
mas para minimizar os danos, é o seguro. Quanto mais rapidamente o
brasileiro souber que pode contar com um produto eficiente e barato
para repor o patrimônio perdido, mais rapidamente as seguradoras
terão a pulverização de riscos necessária para proteger o mútuo e
permitir que suas apólices tenham um preço suportável pela
população.