A presidente da FenaSaúde diz que os recursos estão escassos e será preciso fazer escolhas. Nesse sentido, de colocar uma luz no funcionamento do sistema, fazendo a intermediação está o corretor de seguros que é o principal agente de distribuição e pode, também, funcionar como um canal de divulgação da promoção da saúde.
Em 2017, quase R$ 28 bilhões dos gastos das operadoras de planos de saúde do Brasil com contas hospitalares e exames que foram consumidos indevidamente por fraudes e desperdícios com procedimentos desnecessários. A estimativa consta no estudo – Impacto das fraudes e dos desperdícios sobre gastos da Saúde Suplementar, atualização do Texto para Discussão nº 62, produzido pelo Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS). A projeção é baseada em estudos técnicos a partir da revisão bibliográfica de trabalhos nacionais e internacionais sobre o tema.
No Brasil, a atuação da saúde privada tem um peso social já que ajuda a desafogar o atendimento do SUS. Com a elevação da taxa de desemprego nos últimos dois anos, a saúde pública vem assistindo um acréscimo no número de usuários enquanto a saúde privada vê uma queda no número de beneficiários.
Para equilibrar as contas, as empresas que contratam planos de saúde para os funcionários vêm investindo no engajamento dos seus colaboradores aos programas de promoção à saúde e prevenção, além de incentivar bons hábitos. Isso contribui para que a assistência médica seja usada mais racionalmente, no caráter preventivo. Além disso, algumas já usam o sistema de coparticipação em que os funcionários arcam com uma parte do custo do plano de saúde. É uma ferramenta para controlar a escalada dos custos assistenciais no orçamento das empresas contratantes do serviço.
A área de saúde suplementar está no Mapa Estratégico da Indústria 2018-2022 entre as questões consideradas chave para a competitividade do setor no país. Portanto, a promoção da saúde passou a ser uma questão estratégica para o país e, por isso, deve merecer atenção.
Solange Beatriz, presidente da FenaSaúde, defende que a sociedade e o governo precisam participar ativamente das discussões porque os recursos estão escassos, o país passa por uma transformação social que é a longevidade: as pessoas vivem mais. Ela lembra ainda que a atual crise enfrentada pelo Brasil provocou o aumento do desemprego, a queda da renda da população e o setor já perdeu cerca de 3 milhões de beneficiários que tinham assistência privada porque a empresa oferecia.
Questão de contrato
O corretor de seguros Josafá Ferreira Primo, especialista na área de saúde suplementar e em gestão de riscos, diz que o corretor pode contribuir para minimizar o aspecto de sinistralidade na carteira orientando sobre o uso. “Como gestor de riscos ele deveria instruir os beneficiários de quais serão as melhores práticas na utilização”, afirmou.
Ele lembra que quando o corretor vai comercializar um produto, deve sempre pensar na educação e perenidade do sistema. Na apresentação do produto, ao exercer o papel de gestor comercial, pode falar das melhores operadoras que atuam no setor e comercializar o produto que melhor atender as necessidades do beneficiário, “inclusive pela questão sine qua non do preço e manutenção do contrato e sua possível perenidade”, alerta.
O corretor como consultor deve orientar seu cliente a comprar um produto que seja adequado à sua questão financeira – ele precisa de fato de uma rede nacional se não costuma viajar, por exemplo? Ou precisa de um plano com hospitais de referência se ele tem um estilo de vida saudável ou se está em um momento da vida que não vai usar tanto o plano? Por outro lado, alguém que viaja constantemente ou tem um estilo de vida “mais arriscado” deveria pagar por um plano mais amplo e não contratar um modelo básico e, lá na frente, quando precisar, acionar a justiça exigindo algo que não contratou.
Por conhecer o sistema do mutualismo, o corretor deve, sim, alertar seu cliente de que quanto mais ele usar o plano de qualquer forma, vai estar gastando o dinheiro do mutualismo que serve para manter o sistema. Por isso, Josafá defende que o corretor oriente o segurado a escolher um médico para compartilhar suas necessidades, que seria o médico da família. “As pessoas acabam indo para a emergência sem necessidade”, diz ele.
O corretor deve alertar o cliente que a inclusão de novas tecnologias aumenta os custos e, muitas vezes, essa inclusão não vai trazer benefício para ele, apenas custo, já que o ônus dessa incorporação será dividido entre todos os beneficiários do plano. Precisa ficar claro para o usuário que uma decisão individual afeta o coletivo, é o mutualismo que sustenta o sistema.
Nesse sentido, durante o 4º Fórum de Saúde Suplementar, a FenaSaúde defendeu a prioridade do atendimento de modelo básico, o médico da família. Solange Beatriz destaca que já está comprovada que a fragmentação do cuidado gera desperdício e não necessariamente promove o melhor cuidado em saúde. “Hoje, os especialistas convivem de forma não coordenada e o exemplo clássico é que você vai em médicos que podem receitar medicações que são conflitantes entre si. Isso, ao invés de ajudar, prejudica o paciente”, diz a presidente da FenaSaúde.
Ao agir como um agente de divulgação do bom uso do plano de saúde, o corretor pode, por exemplo, alertar o usuário sobre a importância de praticar exercícios físicos, ter uma boa alimentação e saber os limites da bebida alcoólica. Para Josafá, o mundo mudou e é preciso haver uma convergência maior dos corretores do segmento assim como acontece em outras carteiras. Mas não é só. Ele considera que o corretor é elemento estratégico na orientação do usuário e quando assume com essa atitude, o corretor consegue aprimorar e ampliar a relação com o cliente. “O corretor deve divulgar a promoção de saúde para os segurados para que eles possam entender que o dinheiro dessa relação é finito”, afirma.
A questão está posta: o corretor, como parte integrante do sistema, pode contribuir na resolução do problema de um segmento que se mostra fundamental para a sociedade brasileira.