Um
leque de oportunidades começa a surgir no horizonte para o mercado
de seguros brasileiro com a flexibilização que a Susep vem
adotando. Novos normativos permitem a criação de produtos mais
simplificados, o que, na prática, pode significar que o consumidor
tenha um custo mais vantajoso, além dos benefícios que produtos
mais personalizados podem proporcionar.
Ronaldo Dalcin, presidente do Sindsegnne, e Alexandro Barbosa,
presidente do Sindseg BA/SE/TO, Antônio Trindade, presidente da
Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg) e Danilo Silveira,
diretor executivo da FenSeg discutirão na manhã desta quarta, dia
14, algumas dessas oportunidades no webinar “Flexibilização dos
Normativos de Seguro: Desafios e Oportunidades para o Setor”.
Antônio Trindade destacou que os normativos foram amplamente
discutidos com a Susep. “Demos uma virada importante no sistema
regulatório que vinha mais do mesmo há muitos anos. O segurado de
grandes riscos é diferente do segurado de massificados, por
exemplo, e é um movimento super bem-vindo e dá aos
seguradores liberdade de criar”, ressaltou.
Para
ele, as mudanças já começam a ter impacto no mercado à medida que
as companhias internacionais que atuam no Brasil começam a importar
de outros mercados produtos que possam ser aplicados por aqui.
“Teremos aumento de competição, mas não em preço. Era mais fácil
trabalhar no ambiente super regulado, mas não trazia inovação e
competição”, ressaltou.
O
presidente da FenSeg lembrou que ainda existem consultas públicas
que estão sendo discutidas. “Solange Vieira está virando a Susep de
cabeça para baixo. Esse arcabouço de modernização e tecnologia vai
dar ao mercado de seguros um salto enorme”, afirmou.
Silveira disse que seguradoras e corretores de seguros estão
atentos a Circular 621 – que estrutura o marco regulatório para
seguros de Danos e Massificados e sancionada recentemente pela
Superintendência de Seguros Privados (SUSEP) – assim como a
Resolução CNSP 407, voltada para Grandes Riscos e em processo de
tramitação.
Para
ele há oportunidades nesta circular e fatores que devem ser
observados. O executivo destacou como exemplo, a ampliação da
oferta de produtos mais variados como produtos intermitentes e
também o responsabilidade civil para condutores. “Por isso, o
trabalho do corretor de seguros como consultor ganha mais
importância. Ele pode analisar e indicar ao cliente o combo de
proteção ideal”, ressaltou. O diretor da FenSeg ressaltou também
que a simplificação da regulamentação torna o entendimento das
regras mais racional.
Ele
salientou que a simplificação permite criação de novas cláusulas e
até que sejam reescritas para melhor entendimento dos clientes,
além da manutenção dos seguros obrigatórios. “O que passa a
acontecer é que eles podem ter a cobertura ampliada”, destacou.
Silveira reforçou o fato de que a circular 407 que trata de grandes
riscos tem como caraterística fundamental a caracterização do
cliente como ter um limite máximo de garantia (LMG) maior que R$ 15
milhões, um ativo total superior a R$ 27 milhões ou faturamento
anual acima de R$ 57 milhões.
Sobre grandes riscos, Trindade destacou que as seguradoras vão
ficar livres para desenhar os produtos. Para ele, o poder público
sairá ganhando na contratação do seguro garantia. “As seguradoras
passam a ter um papel importante para ajudar o poder público a
contratar. No seguro de grandes obras está claro no regramento que
se os estados não pagarem não caracteriza sinistro”, explicou.
Ele
considera como principais pilares da modernização o tratamento
diferenciado entre massificados e grandes riscos, a liberdade de
estruturação de produtos e a liberdade das seguradoras em decidir
se vão manter – ou não – os produtos atuais, entre
outros aspectos.
Um
dos participantes questionou Trindade se o novo marco regulatório
seria suficiente para alavancar a participação do mercado no PIB. O
dirigente da FenSeg aposta que sim.
Para
ele, a pandemia trouxe uma conscientização de que é preciso
transferir riscos e comprar proteção, mas o país ainda tem
problemas e desafios para seguradoras e corretores que terão de
aumentar o nível técnico e de conhecimento. “Os corretores
precisarão entender quais seguradoras oferecem o produto que
eles querem distribuir. Terá uma seleção natural. Quem poderia
imaginar que faríamos seguro intermitente? Tem muita novidade para
ser explorada”, prevê.
Trindade também apontou que o corretor de seguros terá papel
fundamental na relação entre consumidor e seguradora já que ele é a
referência do consumidor. “O corretor vai precisar trazer links
para se conectar digitalmente com seu cliente. As seguradoras que
estão no sandbox querem pagar sinistro rápido, por exemplo, e o
corretor tem papel importante. Ele pode ter parceria com
seguradoras e fazer essas conexões de maneira mais rápida”,
analisou.
O
dirigente da FenSeg acredita que o corretor terá muitas
oportunidades no novo cenário. “ O corretor vai se adaptar, buscar
novos nichos e consumidores, vai descobrir que tem mercado não
explorado. Sou positivo para o canal de corretores daqui para
frente”, previu.
Outro assunto abordado por meio de pergunta respondida por
Trindade foi sobre microsseguro. Ele explicou que as seguradoras
não conseguiam desenvolver seguros para pessoas de baixa renda
porque as companhias não conseguiam conciliar custo com
contratação, mas que as novas resoluções vão permitir um impulso
desse tipo de seguro até para microempresas. “O PIX hoje é o maior
instrumento de transações financeiras entre as pessoas. Acho que
vem muita novidade para ocupar esses nichos de micro e pequena
empresa e, também, a população de baixa renda que tem necessidades
específicas”, disse.
Nesse cenário, Danilo Silveira disse que a estruturação de produto
vai ter mais liberdade. “Temos duas resoluções CNSP que acabam se
ligando aos normativos e permitindo estruturar produtos para
público de microsseguros de forma mais livre. Todo ambiente está
estruturado para fazer produtos adequados e usar meios remotos mais
modernos. Tem um caminho para se traçar e encontrar os nichos. A
parte regulatória está pronta”, enfatizou.
Outro assunto que sempre interessa ao mercado é sobre as
associações de proteção veicular. Trindade lembrou que essas
empresas estão ampliando a atuação para segmentos de vida e
funeral. “Eles entraram no vácuo que deixamos. Com o marco
regulatório teremos condições de competir com esse mercado. Várias
seguradoras grandes já começaram a vender produtos mais simples e
com a imagem que as grandes seguradoras têm vai ser fácil competir
contra eles”, disse.
Trindade defendeu que o mercado de seguros precisa melhorar a
divulgação dos benefícios que o setor oferece a sociedade. “O
marketing positivo é caro, mas precisamos mostrar para a sociedade
o tamanho do nosso negócio. Essas coisas estão longe da população”,
disse.
Outro ponto abordado e que pode ser uma oportunidade de negócios,
segundo Trindade, é a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Para
ele vai acontecer da mesma forma como o seguro D&O que foi
crescendo. “O número de ataque de hackers é enorme e eles estão
fazendo sequestro da operação e pedindo resgate. LGPD abre
perspectivas de vender seguro para empresas que tem receio de roubo
de dados”, prevê.
O
presidente da FenSeg disse ainda durante o webinar que o DPVAT de
2021 está sendo coberto com o excesso de reservas técnicas e que é
suficiente para esse ano. “Já se discute quais as alternativas. Se
vai ter ou não um seguro obrigatório, como vai ser. O governo
pretende um seguro obrigatório que pudesse ter competição, mas o
assunto ainda está em discussão”, revelou.
Ronaldo Dalcin, presidente do Sindsegnne, e Alexandro Barbosa,
presidente do Sindseg BA/SE/TO, fizeram perguntas da audiência para
os dirigentes.