Resolução do Conselho Federal de Medicina publicada nesta
quarta-feira, 8, traz profundas alterações nas regras para a
fertilização assistida no País. A mudança limita para 50 anos a
idade para pacientes serem submetidas ao tratamento, também limita
a idade para doação de óvulos e espermatozoides, permite de forma
clara o uso da técnica para casais de pessoas de mesmo sexo que
querem ter filhos, além de abrir espaço para a chamada doação
compartilhada, mecanismo em que uma paciente interessada em se
submeter à fertilização doa parte de seus óvulos para outra
paciente, em troca do custeio de parte do tratamento.
"Precisávamos de regras mais atuais", afirma o presidente em
exercício do CFM, Carlos Vital Correa Lima. A última mudança nas
regras de fertilização ocorreu em 2010. A ideia é fazer revisões
periódicas no ordenamento. "As questões vão surgindo com o tempo e
o conselho precisa dar uma resposta", completou. O texto publicado
no Diário Oficial é fruto de pelo menos dois anos de debates de uma
câmara técnica formada por profissionais recrutados pelo CFM.
O novo texto deixa clara a permissão para que casais de mesmo
sexo se valham da técnica para poder ter filhos. A resolução
anterior não trazia nenhum empecilho para que casais recorressem à
fertilização. Mesmo assim, alguns conselhos regionais apresentavam
dúvidas sobre o tema. "É uma reafirmação da garantia do casal, uma
grande conquista", afirmou o presidente da Associação Brasileira de
Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, Carlos Magno
Silva Fonseca.
A resolução também deixa claro o limite de embriões que podem
ser implantados na paciente. O número varia de acordo com a idade
da doadora e não da paciente que vai receber os embriões. A regra,
de acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução
Assistida, Adelino Amaral, tem como objetivo reduzir o número de
gestações múltiplas, que acabam aumentando o risco tanto para a
gestante quanto para os bebês. "Pacientes mais velhas têm
probabilidade de engravidar menor do que as mais jovens. Por isso,
a partir de determinada idade da doadora, é preciso ampliar o
número de embriões implantados."
De acordo com José Hiran Gallo, coordenador da câmara técnica
responsável pela revisão das normas, mulheres com mais de 40 anos
tem probabilidade de engravidar de 10%, um indicador menor do que
aquelas com menos de 35 anos, em torno de 40%.
Para reduzir o impacto da restrição da idade, o CFM decidiu
ampliar a lista de pessoas que podem fazer a doação temporária do
útero. Até agora, o recurso poderia ser usado com voluntárias que
tivessem parentesco de até segundo grau com o casal. Com a mudança,
além de mães, irmãs e avós, será possível também fazer com que tias
e sobrinhas sejam doadoras voluntárias de útero.
A resolução também lista os exames que podem ser feitos antes de
implantar o embrião. A partir de agora, se torna oficial uma
prática que já vinha sendo adotada: a de fazer a chamada tipagem
HLA para selecionar embriões livres de doenças já encontradas na
família e, ao mesmo tempo, compatível com o paciente. "Isso pode
permitir que a criança, ao nascer, possa ser doadora e ajudar no
tratamento do paciente", afirma Gallo. "Isso está longe de ser
antiético. A mulher acaba aliando seu desejo de procriar com a
possibilidade de tratar outro filho, por exemplo."
As regras novas também tratam do destino dos embriões congelados
há mais de cinco anos. Eles poderão ser doados para pesquisa ou ser
descartados. Se o casal quiser mantê-los, será preciso expressar
essa vontade e assumir as responsabilidades desta decisão.
Relatório da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)
mostra que no Brasil 26.283 embriões foram congelados em 2011.
Casais pagam uma taxa mensal que varia entre R$ 600 e R$ 1,2 mil
para mantê-los.