Resultados da pesquisa encomendada pelo
Sindhosp (Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do
Estado de São Paulo) e Fehoesp (Federação dos Hospitais, Clínicas e
Laboratórios do Estado de São Paulo) ao Vox Populi mostram que o
relacionamento comercial entre operadoras de planos de saúde e
prestadores de serviços - hospitais, clínicas e laboratórios - está
ruim. Os problemas afetam a sustentabilidade do mercado, ferem
direitos dos usuários e podem comprometer a qualidade da
assistência, conforme demonstram os resultados. A demora na
autorização de procedimentos, glosas (corte nas faturas),
dificuldades em negociar reajustes, transferência de pacientes para
hospitais próprios, atrasos de pagamento e dificuldades de contato
com as centrais de atendimento foram os principais entraves
apontados pelos pesquisados.
O levantamento ouviu 194 estabelecimentos de saúde (49 hospitais,
105 clínicas e 40 laboratórios). Foram entrevistados os
profissionais responsáveis pela negociação com as operadoras de
planos de saúde, como diretores comerciais e gerentes. A margem de
erro é de 5,2%. Essa é a terceira pesquisa de avaliação do
relacionamento entre as partes, realizada a pedido do
Sindicato.
Um dos dados que chama a atenção é que mais da metade dos hospitais
pesquisados (54,9%) afirmam que há transferências de pacientes para
hospitais próprios das operadoras. A Amil é apontada como a
operadora que mais transfere pacientes para sua rede própria,
seguida da Green Line, Medial e Intermédica. Nas duas pesquisas
anteriores encomendadas pelo Sindhops ao Instituto DataFolha (2003
e 2007) esse problema já tinha sido detectado. O novo estudo mostra
que ele persiste.
"Na ocasião, denunciamos isso à Agência Nacional de Saúde
Suplementar (ANS), ao Procon e outros órgãos de defesa do
consumidor. Entendemos que o direito do consumidor está sendo
lesado. Na hora de vender o plano a operadora oferece os melhores
hospitais, mas na hora do tratamento nega esse direito. E, o pior,
não conta ao usuário o verdadeiro motivo da transferência, que é
puramente econômico", ressalta Dante Montagnana, presidente do
Sindhosp/Fehoesp.
Somando-se o tempo médio de pagamento das faturas (40 dias), o
prazo médio para resposta aos recursos de glosas (45 dias) e o
pagamento da glosa (49 dias), os estabelecimentos de saúde esperam
por até 134 dias para recebimento do serviço. "Isso acontece em
mais de 5% de todo o faturamento mensal das instituições de saúde,
o que é um absurdo. Infelizmente é um problema que se arrasta há
anos e que, no entender do Sindhosp, tem o intuito claro de gerar
fluxo de caixa às operadoras, prejudicando toda a rede que presta
assistência", ressalta Montagnana.
O estudo ainda levantou quantos hospitais receberam reajuste nas
diárias e taxas nos últimos três anos. Mais da metade, 75,5% dos
entrevistados, afirma ter recebido reajuste nesse período, porém,
cerca de 1/3 das operadoras credenciadas não reajustaram esses
valores. O reajuste médio recebido em três anos foi de 4,5%. "De
julho de 2007 a julho de 2010, período pesquisado, o IGP-M foi de
21,31%, e o INPC de 17,84%. Isso demonstra claramente que os
hospitais não estão conseguindo recompor a inflação nas diárias e
taxas", frisa o dirigente. As diárias e taxas hospitalares
representam aproximadamente 30% do total de receita dos
hospitais.
Laboratórios e clínicas
A situação dos laboratórios não é diferente. Segundo o estudo,
72,5% dos pesquisados afirmam não ter recebido reajuste de CH
(Coeficiente de Honorários) nos últimos três anos. Dos 27,5% que
receberam, o reajuste foi concedido por apenas 41% das operadoras
credenciadas (pouco mais de 10). E o percentual foi de 6,6% em três
anos para um IGP-M de 21,31% no mesmo período. Um quarto dos
entrevistados ainda teve redução de aproximadamente 13,4% no valor
do CH. SulAmérica, Bradesco, Medial Saúde e Intermédica são as
operadoras que, segundo os laboratórios, reduziram o valor do
CH.
No segmento das clínicas, 53,3% afirmam ter recebido reajuste de
6,3% de CH nos últimos três anos. Da mesma forma, nem todas as
operadoras concederam reajuste. 9,5% das clínicas também tiveram o
valor do CH reduzido em aproximadamente 20%, por parte da
SulAmérica, Bradesco e Medial Saúde.
Outros dados
58,6% dos entrevistados afirmam que a TISS (Troca de Informações em
Saúde Suplementar) melhorou o relacionamento das empresas com as
operadoras de planos de saúde. Mas houve aumento do custo interno
das organizações para 55,1% dos pesquisados; aumento da utilização
e circulação de papéis (66,8%); e elevação do custo com tecnologia
da informação (63,2%).
Para 64,8% não houve diminuição no prazo de pagamento com a
implantação da TISS (esse percentual sobe para 93,9% entre os
hospitais); e as glosas não diminuíram para 54,2% (entre os
hospitais o percentual é bem mais alto: 91,8%).
O setor está otimista com a implantação da Terminologia Unificada
em Saúde Suplementar (TUSS): 58,3% dos entrevistados acreditam que
ela facilitará a rotina diária da empresa. 68,2% são favoráveis à
ideia da ANS redigir um contrato padrão entre as partes; esse
percentual sobe significativamente entre as clínicas (71,4%) e
laboratórios (75%).
SulAmérica, Bradesco e Porto Seguro são os planos que estabelecem
melhor relacionamento na opinião dos hospitais, clínicas e
laboratórios. Quanto ao pior plano, não há homogeneidade: os
hospitais queixam-se mais do Bradesco, enquanto os laboratórios
citam a Medial Saúde e, as clínicas, a Amil.
Entre os principais problemas, as glosas aparecem em primeiro
lugar, com 44,9% das citações. Para os hospitais, a demora para
liberação de procedimentos como internação, cirurgias e exames, vem
em primeiro lugar com 51% das respostas. Outros problemas
apontados: demora no pagamento (16,1%); dificuldades de contato com
as centrais de atendimento (15,8%); dificuldades para negociar
reajustes (13,9%); e outros.
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