A nova diretoria da Unimed-Rio, que
será eleita em assembleia hoje, poderá exigir dos médicos da
cooperativa um aporte que, segundo fonte que acompanha de perto o
plano de recuperação da empresa, chegaria a R$ 347 milhões. Assim,
os 5.423 cooperados teriam de contribuir com cerca de R$ 64 mil
cada um. A cooperativa, que há quase dois anos passa por uma crise
financeira e institucional, está sob a direção fiscal da Agência
Nacional de Saúde Suplementar (ANS), desde 2015. Outra pessoa a par
do processo diz que o aporte poderia ser feito de diferentes
formas: — Pode-se negociar um aporte em dinheiro, aumento nos
descontos feitos nos procedimentos pagos aos cooperados
(remuneração dos médicos) ou até por parceiro investidor. A
expectativa de credores e órgãos públicos é que, decidido quem
assumirá o comando da cooperativa hoje, acordos comecem a ser
fechados para o pagamento de débitos — que, segundo números
oficiais, chegam a R$ 600 milhões —, e o plano de recuperação
decole.
GARANTIA DE ATENDIMENTO A
CLIENTES
Ontem o Ministério Público de
Niterói precisou intervir para garantir que fosse mantido o
atendimento aos cerca de 50 mil dos 950 mil clientes da cooperativa
que vivem na região coberta pela Unimed Leste Fluminense: Niterói e
arredores. A cooperativa sediada do outro lado da Baía de Guanabara
havia comunicado, na última sexta-feira, a seus cooperados e à rede
prestadora que suspenderia o atendimento aos beneficiários da
Unimed-Rio. A suspensão pegou de surpresa até a Promotoria. —
Tivemos uma reunião com o presidente da Unimed Leste Fluminense
hoje (ontem) e pedimos que aguarde a eleição da nova diretoria para
tomar uma atitude. Ele nos garantiu o atendimento normal até a
próxima segunda-feira, dia 29. Amanhã (hoje), será a vez de
conversamos com os representantes de hospitais, clínicas e
laboratórios para que honrem o compromisso firmado pela cooperativa
— explica o promotor Augusto Lopes, do Ministério Público de
Niterói. Em nota, a Unimed Leste Fluminense confirmou que, por
solicitação do Ministério Público, “decidiu revogar a orientação
anterior quanto à suspensão de atendimento aos beneficiários da
Unimed-Rio, até o desfecho da eleição dos novos representantes
legais daquela operadora.” A dívida da Unimed-Rio com a Leste
Fluminense, segundo a Promotoria, é de R$ 36 milhões. Cerca de 30%
dos atendimentos feitos pela Leste Fluminense são a beneficiários
da cooperativa carioca.
A Unimed-Rio ratificou que o
atendimento está mantido e normalizado. E lembrou que “vive um
processo de restruturação econômico-financeira e vem mantendo
diálogos permanentes com a rede prestadora a fim de estabelecer
termos que agradem aos interesses de todas as partes envolvidas.”
Ainda segundo a nota oficial da cooperativa, “a nova diretoria
eleita terá o compromisso de manter em andamento todas as
negociações com a Unimed Leste Fluminense e com os demais parceiros
da rede prestadora.” O fato é que, quase um mês depois da derrubada
da diretoria da Unimed-Rio — comandada por Celso Barros, há quase
duas décadas —, os cooperados ainda não se entendem. O movimento de
oposição 3ª Via, liderado pela médica Ana Clara Sande, chegou a
pensar em embargar a eleição, por considerar que, mais uma vez, o
processo não foi democrático nem transparente. O grupo questiona,
ainda, a gestão do Conselho Provisório da Unimed-Rio, liderado por
Antônio Romeu Scofano Junior, que é candidato a uma vaga na
diretoria.
CONSUMIDORES INSEGUROS
Enquanto a situação institucional e
financeira da empresa não se resolve, os consumidores manifestam
preocupação. A publicitária Lucia Diuana, ao tentar marcar uma
consulta para a filha no Hospital dos Olhos, em Niterói, ontem, foi
informada de que o atendimento estava suspenso.
— Tentei marcar em outras clínicas,
mas a resposta era a mesma: não estavam atendendo mais os planos da
Unimed-Rio — conta Lucia, que se tornou cliente, em 2008, quando a
carteira da Caarj foi absorvida pela cooperativa. Com uma consulta
marcada para amanhã, Rita Oliveira de Araújo, também moradora de
Niterói, já foi alertada pela secretária do médico de que o plano
pode não ser aceito: — Vou fazer a consulta de qualquer forma, pois
estou precisando, mas estou muito decepcionada e insegura. E as
minhas necessidades são básicas, imagina quem tem questões mais
complexas.