A frota de veículos segurada mal
atinge 25% do total em circulação no País; o seguro popular teria
condições de atrair uma grande parte que ainda não é coberta
Finalmente, com mais de um ano de
atraso, parece que o seguro auto popular saiu da gaveta para entrar
de frente no mundo real e trazer alívio para as seguradoras de
veículos, duramente atingidas pela recessão absurda que se abateu
sobre o Brasil e reduziu drasticamente a venda de carros novos.
O auto popular não é, nem será
panaceia. Nenhum seguro tem esta capacidade. Mas ele tem tudo para
ocupar um espaço importante no mercado. Afinal, um número
significativo de veículos atualmente sem seguro, com sua chegada,
passa a contar com um produto capaz de lhes dar proteção, por um
preço acessível para o proprietário.
A frota de veículos segurada hoje mal
atinge 25% do total em circulação pelas ruas brasileiras. É muito
pouco. Em teoria, o seguro auto popular teria condições de trazer
esta enorme massa de veículos para a proteção do seguro, mas, na
prática, não será isso que acontecerá. Boa parte dos veículos mais
velhos continuará desprotegida, inclusive sem contratar o DPVAT,
porque, ao não pagarem o IPVA, deixam também de pagar o seguro
obrigatório.
Coisas da demagogia política nacional,
que acaba prejudicando quem não tem nada com isso, como é o caso de
milhares de vítimas de acidentes de automóveis que não recebem
sequer o seguro obrigatório porque o proprietário do veículo
causador do acidente não pagou o seguro.
É difícil, especialmente neste
momento, quando ainda estamos no meio do furacão, dizer quantos
veículos serão, de verdade, os futuros segurados do seguro auto
popular.
O potencial é grande e pode agregar
mais alguns bilhões de reais ao faturamento das seguradoras que se
interessarem pelo produto. Ou seja, pode ser um redutor das perdas
potenciais já vislumbradas pelas seguradoras de veículos em função
da mudança de hábitos da população.
Carros compartilhados, meios
alternativos de transporte, novos modelos de transporte público,
Uber etc., são ameaças sérias, que se transformarão em realidade
nos próximos anos.
Ainda é cedo para quantificar o
impacto que a nova realidade terá para os seguros de veículos, mas
o seguro auto popular é uma ferramenta capaz de diluir, pelo menos
ao longo da próxima década, parte das perdas decorrentes da redução
da frota de veículos novos.
As regras para o seguro estão
definidas. Se são as melhores ou não é outra questão. Como disse
Mao-Tsé-Tung, para se andar 10 mil milhas é necessário dar o
primeiro passo. Este é o estágio do seguro auto popular. Está
chegando no mercado agora. Portanto, não há base estatística, nem
comercial para analisar seu desempenho.
Como todo produto novo, ele está
sujeito a chuvas e tempestades não previstas, mas que podem
impactar o seu futuro para um lado ou para o outro. O setor sabe
que existem pontos na regulamentação que precisarão ser
modificados, até para evitar problemas desnecessários entre
segurados e seguradoras.
Seu lançamento antes destas mudanças
serem feitas é uma postura inteligente por parte das seguradoras
que decidiram não esperar mais. É mais fácil fazer as correções de
rumo em cima da experiência do que da teoria.
Para os corretores de seguros o seguro
auto popular também chega numa hora importante. Com a venda de
carros novos severamente afetada pela crise, e com o cidadão
perdendo o emprego, comercializar os seguros tradicionais de
veículos se tornou uma tarefa hercúlea.
Com suas condições desenhadas para
veículos mais antigos, visando suprir o espaço de mercado composto
pelos carros com mais de 5 anos de idade, o seguro auto popular
deve custar até 30% mais barato do que o seguro tradicional, ou
seja, em princípio, é mais fácil de ser comercializado.
O segredo da redução do preço está na
utilização de peças recondicionadas certificadas e peças não
originais no reparo dos veículos.
Resumindo, o seguro auto popular se
torna realidade num momento em que o mercado está necessitando de
um novo fôlego. Ele é bom para o segurado, interessante para a
seguradora e um novo produto para o corretor. Neste negócio ganham
todos.
*Antonio Penteado Mendonça é sócio de
Penteado e Char Advocacia e secretário Geral da Academia Paulista
de Letras.