As demissões em massa levaram muitos
brasileiros a colocar em prática seu espírito empreendedor. É o que
aponta o Empresômetro, empresa especializada em inteligência de
mercado. Dados divulgados pela companhia indicam que no ano passado
a abertura de pequenas e médias empresas saltou 11,73% apenas no
estado de São Paulo.
Em termos de otimismo diante da crise
elas também se mostram à frente das grandes corporações, visto que
a recuperação é mais ágil para este perfil de negócio. Em
contrapartida, ficam mais vulneráveis quando se deparam com algum
tipo de acidente, justamente porque encontram maior dificuldade de
manter reserva financeira nestas situações. Qualquer evento do tipo
pode colocá-las em risco e, em casos extremos, forçar os
proprietários a decretar falência, impactando, além dos próprios
donos, a economia de um modo geral.
O sucesso de um empreendimento depende
de uma gestão de risco responsável e, por isso, o seguro é um
componente fundamental para a solidez do negócio. “O primeiro
grande objetivo do seguro é estabelecer um equilíbrio financeiro em
caso de algum problema, seja ele de pequena ou grande proporção e
prejuízos”, lembra Gilberto Reina, superintendente regional de
clientes locais da Marsh. Sendo assim, esta é a principal
ferramenta que a companhia tem para evitar a quebra em caso de uma
ocorrência coberta pela apólice, considerando que muitas vezes a
propriedade de uma pequena e média empresa está atrelada ao capital
de seu dono.
Para as PME’s o produto mais indicado
é o seguro patrimonial, que possui coberturas básicas de incêndio,
queda de raio, explosão e fumaça. Coberturas opcionais podem ser
adicionadas à apólice, como danos elétricos, vendaval/impacto de
veículos, perda ou pagamento de aluguel de imóvel, tumultos,
subtração de bens ou de valores, equipamentos eletrônicos, além de
responsabilidade civil, quebra de vidros, derrame de sprinklers,
recomposição de documentos e lucros cessantes, que mantém o
pagamento das despesas fixas e lucros da empresa enquanto ela
estiver paralisada por conta do sinistro. Serviços de assistência
24 horas também são disponibilizados para facilitar o dia a dia dos
empresários. Os serviços estão divididos por planos e incluem
chaveiro, reparos hidráulicos e de telefonia, eletricista e até
segurança e vigilância em caso de sinistro.
Todas essas proteções vão se adequar
melhor ou não dependendo da atividade do cliente. “A empresa que
tem uma atividade instalada em um andar de um edifício, por
exemplo, vai precisar mais de algumas coberturas e menos de outras,
como é o caso da cobertura de vendaval, que se aplica muito mais às
pequenas e médias empresas localizadas em um terreno térreo do que
as que estão situadas em um prédio”, explica Reina.
O seguro na prática
A importância de se estar amparado
fica ainda mais evidente quando ocorre algum incêndio ou explosão,
sinistros registrados com mais frequência pelas pequenas e médias
empresas. Um dos acidentes recentes aconteceu em abril deste ano
com a explosão de um bar localizado na Vila Mariana, zona Sul de
São Paulo. Seis pessoas ficaram feridas, uma delas em estado grave.
As informações divulgadas pela perícia excluíram o vazamento de gás
de botijão e indicaram que o acidente pode ter sido motivado pelo
acúmulo de metano vindo do esgoto.
Quase dois anos antes um caso
semelhante ocorreu em São Cristóvão, zona norte do Rio de Janeiro,
no local onde funcionavam uma pizzaria, uma drogaria e um
restaurante. A explosão começou na pizzaria, após um vazamento de
gás, onde estavam estocados botijões – inclusive alguns abertos. Na
época, a Defesa Civil somou 54 imóveis residenciais e comerciais
atingidos, que ocupavam um espaço equivalente a um quarteirão, e 41
pessoas desalojadas. Dos escombros foram retirados sete feridos,
mas por sorte nenhum deles com gravidade.
Diretor de PME da Chubb Brasil,
Alessandro Barletta Gomes lembra que os sinistros em patrimônios
neste segmento são muito comuns, não raramente com prejuízos a
terceiros que podem representar perdas ainda maiores. “Se houver
óbitos, os prejuízos são particularmente severos e provavelmente a
justiça determinará uma indenização equivalente à renda que essas
pessoas deixaram de obter, caso permanecessem vivas”, afirma. “Uma
eventual reconstrução a partir de um incêndio pode ser possível se
os prejuízos causarem apenas danos materiais. Contudo, na medida em
que terceiros são afetados, as perdas podem se multiplicar,
inviabilizando o prosseguimento da operação”, diz ele.
Já para as empresas de tecnologia da
informação e construção, as coberturas são basicamente as mesmas do
seguro empresarial: incêndio, explosão, vendaval, queda de raio,
roubo ou furto de bens e danos elétricos. “Essas atividades
possibilitam a contratação de seguros específicos, também
fundamentais para o negócio como, por exemplo, o seguro de riscos
de engenharia, que engloba coberturas para danos causados à obra,
responsabilidade civil, vida em grupo dosfuncionários e
equipamentos incorporados à obra e erro de projeto”, declara Nilton
Dias, diretor comercial da Seguralta.
Aos salões de beleza, um dos setores
que mais cresce no Brasil (dados do Sebrae indicam que em 2016 o
País tinha mais de 300 mil salões de beleza e cerca de sete mil
salões abertos mensalmente), o seguro patrimonial garante desde os
riscos básicos até a responsabilidade civil envolvendo as
atividades do cabeleireiro em produtos específicos disponibilizado
pelas seguradoras. Conscientização
O pequeno e médio empresário se
importa em profissionalizar o seu negócio nos mínimos detalhes.
Ainda assim, a maioria deles deixa de incluir a proteção no
planejamento da empresa, sendo o fator principal o equívoco quanto
ao preço do produto. “O valor varia de acordo com a atividade
desenvolvida na empresa. Dependendo da atividade, os comércios de
pequeno porte podem contratar o seguro anual pagando menos que o
valor de um cafezinho por dia”, declara Jarbas Medeiros,
superintendente de Ramos Elementares da Porto Seguro.
Uma parcela significativa do mercado
de PME imagina que o seguro patrimonial é caro, percepção formada
com base em um raciocínio equivocado. Estas pessoas tomam como
referência o seguro de automóvel, que é bem mais divulgado e pode
custar R$ 2 mil para a cobertura de um carro avaliado em R$ 40 mil.
Para este público, se a propriedade valer cerca de R$ 300 mil, o
custo do seguro tende a crescer na mesma proporção.
Na verdade, o valor do seguro
patrimonial é bem menor que a taxa do seguro auto. O ticket médio
do produto fica entre R$ 1.500 e R$ 2 mil por ano. Ou seja, mais
uma vez a questão é que no Brasil a cultura do seguro não é bem
desenvolvida e com isso muitas empresas não priorizam a contratação
do seguro. Ou aderem apenas depois de vivenciar um acidente. “Por
não terem tido nenhum histórico de sinistros, os empresários
acreditam que nenhum imprevisto acontecerá com eles e que não
precisam do seguro para suas empresas”, acrescenta Medeiros.
Fabio Luciano da Silva Conceição,
gerente geral Produto RE da Alfa Seguradora, lamenta que seja comum
o empresário julgar que a proteção do seguro não se faz necessária.
“A rigor, acreditam que estão pagando por algo que não usarão.
Tranquilidade e estabilidade têm preço?”, provoca. “Enganam-se os
que pensam que pelo fato de não ter ocorrido algum dano, pagou por
algo que não usou. Durante toda a vigência a certeza de ter uma
proteção torna-se um uso diário e por um custo bem menor que o
empresário imagina.”
O executivo cita o caso em que uma das
empresas seguradas pela companhia, uma loja de roupas localizada
dentro de um shopping, foi atingida por um incêndio que também
afetou outras lojas. O shopping possuía apólice para prédio, áreas
comuns e uma pequena verba para o conteúdo das lojas. Por estar
dentro do estabelecimento, não é raro se pensar que não há
necessidade de contratar proteção para o conteúdo. “Se esta loja
não tivesse seguro para todo o estoque, inclusive, certamente
estaria brigando, provavelmente em juízo, para receber a
indenização pelos danos sofridos. Por ter seguro, recebeu a
indenização para reabrir garantindo sua estabilidade financeira”,
afirma.
É neste sentido que o mercado
segurador precisa agir, tanto empresas como corretores. Mas,
afinal, como desmistificar isso? A própria Porto Seguro busca
estudar o perfil das empresas brasileiras e as necessidades
específicas de cada nicho, oferecendo novas garantias e coberturas
para cada segmento, além de dar continuidade à parceria com os
corretores a divulgar os produtos e difundir a importância da
contratação pelas empresas.
A Marsh, por sua vez, investe no
famoso “boca a boca”. A companhia acredita que a melhor maneira de
buscar novos segurados é por meio de indicação de outros clientes.
“Pedimos aos clientes que enxergam o seguro verdadeiramente como
uma proteção que indiquem amigos, fornecedores, ou até mesmo
clientes para que consigamos aumentar o número de negócios. Através
deste trabalho alavancamos bastante a nossa carteira”, garante
Gilberto Reina.
Trabalhar junto aos corretores para
ajudar os clientes a compreender e a gerenciar o risco de forma
mais eficaz é a estratégia utilizada pela AIG Brasil. Para isso,
são oferecidas coberturas, ferramentas e acesso às práticas de
avaliação e mitigação de possíveis vulnerabilidades. Também são
realizados treinamentos sobre o portfólio de produtos da companhia,
além da participação em eventos que objetivam o fortalecimento do
corretor de seguros. O Portal do Corretor, lançado há pouco mais de
um ano, é resultado desse trabalho. “A plataforma atende à
crescente demanda dos corretores por agilidade e retorno em tempo
real para que possam atender com mais agilidade os pequenos e
médios empreendedores clientes”, diz o gerente Seguro Empresarial,
Cristian Achurra.
Gerente Executiva de Operações da área
de Varejo da MDS Insure, Claudia Rizzo frisa que a procura é sempre
maior quando há incidentes de grandes proporções e que têm impacto
na imprensa, gerando uma demanda temporária. “No mais, não há muita
demanda”, afirma. A MDS tem uma área especifica para atendimento de
pequenas empresas que cobre o todo segmento. Os investimentos na
venda são feitos, em sua maioria, a partir da mídia digital.
Já a Seguralta realiza um trabalho
através da rede de franqueados junto aos empresários para
identificar os riscos a que eles estão expostos e oferecer as
soluções mais adequadas para cada empresa. “Estamos trabalhando
fortemente a capacitação da nossa equipe interna e de franqueados,
realizando prospecções em nichos e produtos específicos”, pontua
Nilton Dias. “O que sentimos que tem atraído os empresários é a
percepção da dificuldade em repor perdas decorrentes de eventual
sinistro, daí a importância em ter o seguro”, conclui o
executivo.