Existe praticamente um consenso na comunidade científica mundial, que se estende cada vez mais para a sociedade como um todo, de que o aumento do número de catástrofes naturais tem uma explicação: a crescente interferência da humanidade no clima, especialmente pelas atividades econômicas que produzem a emissão de gases que geram o chamado efeito estufa. O resultado são invernos e verões cada vez mais drásticos.
O ano de 2017 foi marcado pela ocorrência de cinco eventos catastróficos: os furacões Harvey, Irma e Maria nos EUA e os dois terremotos no México. E ainda temos mais de um mês pela frente… Há muito tempo não ocorriam tantos eventos num mesmo ano e em tão curto espaço de tempo.
As seguradoras e resseguradoras mundiais estão passando por maus momentos, pois o volume de indenizações saiu “fora da curva”. Além de utilizar suas reservas próprias para esse fim, elas tiveram que recorrer a fundos internacionais para pagar todas as indenizações. E ainda há quem diga que alguns acionistas precisarão “enfiar a mão no bolso” para integralizar capital.
Em seu relatório de junho deste ano, a resseguradora brasileira Terras Brasis apresentou números interessantes desses eventos ao comparar a perda econômica (PE) por país – a qual é entendida como a soma de todas as perdas decorrentes desses eventos versus o valor segurado (VS):
Ano |
Evento |
Região/País |
PE (US$ bi) |
VS (US$ bi) |
% |
2017 |
Harvey |
Texas |
60,0 |
23,0 |
38 |
2017 |
Irma |
Flórida/Caribe |
68,0 |
40,0 |
59 |
2017 |
Maria |
Porto Rico/Caribe |
100,0 |
50,0 |
50 |
2017 |
SUB TOTAL |
Estados Unidos |
228,0 |
113,0 |
50 |
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2017 |
Terremotos |
México |
12,0 |
3,0 |
25 |
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2015 |
Rompimento das barragens de rejeitos da Samarco |
Mariana (MG/Brasil) |
8,3 |
0,7 |
8 |
- Podemos ponderar aqui duas observações:O volume de perdas econômicas é muito maior nos Estados e uma explicação que me parece razoável é que a população americana tem acesso a ativos móveis e imóveis em escala e valor muito maiores do que a população de países em desenvolvimento. Outro dado muito importante: os dados acima sugerem que, de cada duas casas existentes nos Estados Unidos, uma tem seguro. O mesmo vale para apartamentos, carros, barcos etc – ou seja, todos aqueles bens sujeitos a perdas decorrentes da ocorrência dessas catástrofes.
- Três fatores de caráter socioeconômico explicam isso. Primeiro, o nível de desenvolvimento econômico atingido por aquele país trás em seu bojo uma das maiores rendas “per capita” do mundo e isso permite que a população tenha acesso aos bens citados. Em segundo lugar, é sabido que alguns estados dos Estados Unidos e do Caribe têm frequência histórica de furacões, tornados e outros eventos desse tipo, levando a sociedade a adotar medidas de prevenção.
No entanto, há um terceiro fator muito relevante: nos países ricos, é maior o número de pessoa que já entenderam que a contratação de seguro é uma das principais formas de transferência desses riscos e, não por acaso, a mais recomendada. Nos mais pobres, ainda existem crenças do tipo: “Isso não acontece nem vai acontecer comigo”, “Tem um jeito mais barato de se proteger”… Apenas 8% dos bens dos brasileiros estão segurados – sendo que o percentual é de cerca de 25% entre os veículos e apenas 10% entre os imóveis residenciais.
Por que? Subdesenvolvimento econômico e renda “per capita” e nível cultural baixos. Recentemente, reproduzi no blog um artigo do amigo Antonio Penteado Mendonça, no qual ele afirma que países riscos tendem a ficar mais ricos e países pobres tendem a ficar mais pobres porque os primeiros contratam muito mais seguro do que os segundos.
E isso fica muito claro quando a gente vê o exemplo brasileiro: o mercado segurador vai pagar 8% dos prejuízos causados pelo rompimento das barragens de rejeitos da Samarco em Mariana (MG). Os restantes 92%, ou quase US$ 8 bilhões serão pagos por quem? Uma parte pela empresa e a outra parte pelo governo, por meio de programas sociais para as famílias prejudicadas, programas de recuperação do Rio Doce e seus afluentes, da fauna, da flora…