Em que ciclo da indústria a sua empresa
se encontra? Esta é a primeira pergunta a ser feita para
identificar oportunidades no mercado
Na onda das fusões e aquisições, todos desejam estar do lado do
comprador. Porém, ser o vendedor da história também pode significar
a melhor opção para uma companhia. "A primeira questão que deve ser
colocada, de qualquer forma, é em que ciclo da indústria a minha
empresa se encontra e quais são as oportunidades", avisou Gilberto
Costa, diretor financeiro da Amil, que compartilhou a sua
experiência com os congressistas do Financial Forum 2010, na última
sexta-feira (13), em uma sessão dedicada ao tema.
O especialista utilizou dados sobre falência de empresas para
associar os estágios de maturidade das organizações ao ciclo dos
próprios empreendedores que lideram o negócio. Segundo ele, em
companhias familiares, quando o comando da operação passa da
primeira para a segunda geração, apenas 30% delas sobrevivem. "Os
filhos não têm os mesmos sonhos que o fundador, isso é muito maior
que o business. Às vezes, o sucessor tem mais sonhos que o
fundador. Depende muito", refletiu Costa.
Resumindo, é preciso identificar em que estágio a empresa se
encontra, e então, eventualmente, descobrir que pode ser um bom
momento para comprar ou vender. "O ciclo de vida do empreendedor é
igual a qualquer curva de crescimento. Uma hora ele estabiliza, até
que se esgota", conclui o diretor.
Da ótica do investidor ou comprador, o que mais interessa é a
diferenciação. "Qualquer empresa que começa do zero, cresce e ganha
escala mostra que tem um produto ou serviço diferenciado, que
conseguiu criar uma marca. Mas a questão não é comprar uma empresa
que está maravilhosa, e sim o que a aquisição vai acrescentar",
explica ele, ao exemplificar o raciocínio com um caso que
acompanhou bem de perto.
Adquirida pela Amil no final do ano passado, a Medial, em 2004, foi
oferecida por quase R$ 400 milhões a compradores. Na época, a
operadora não avaliava a possibilidade de adquirir a competidora.
Em 2005, a Medial contratou Luiz Kaufmann, que, em dois anos como
presidente do grupo, promoveu uma reviravolta em seu modelo de
negócio e levou a companhia para o IPO. Ao acelerar o crescimento,
a empresa vendeu 49% da operação e embolsou R$ 250 milhões. Nesta
nova fase, finalmente, a Amil adquiriu a parte dos controladores
(51%) por mais R$ 612 milhões - ou seja, em cinco anos, a Medial
dobrou o seu valor de venda.
"Foi uma estratégia perfeita", opinou Costa. A expectativa é que
Amil e Medial sejam integradas até o final do ano, segundo ele, que
pontua as sinergias apresentadas pela empresa adquirida que levaram
à decisão: a liderança do grupo no Brasil e seus principais
mercados; a rede própria (maior rede médica privada do País); o
controle mais eficiente do custo médico; e as oportunidades de
redução de despesas comerciais, administrativas e de marketing. "O
negócio foi feito em uma semana e foi uma negociação difícil, pois
existiam dois competidores. Era a Medial ou nenhuma outra empresa,
pois as outras não tinha a mesma sinergia", recorda ele.
Ao considerar os ciclos da indústria como um princípio do plano de
negócios, a Amil, a partir de 2002, empreendeu uma estratégia
agressiva de M&A. "Trata-se de um segmento fragmentado, com
regulamentação muito forte. Em meados do ano 2000, o marco
regulatório transformou a indústria, e a primeira grande mudança
foi a inflação. Conforme as empresas pequenas quebram, ou você as
adquire ou tem um crescimento orgânico, pois os clientes vão
procurar empresas mais sólidas", explica o diretor.
|