Quase a totalidade dos ginecologistas e obstetras do estado de São Paulo, 94%, apontam que planos de saúde interferem na autonomia médica, segundo uma pesquisa da SOGESP-DataFolha divulgada nesta quinta-feira (5). Seis de cada dez entrevistados denunciaram pressão para restringir internações. Além disso, aproximadamente sete de cada dez profissionais avaliaram o serviço das operadoras como regular, ruim ou péssimo.
Dos médicos entrevistados, 61% relataram que pretende se descredenciar dos planos ou disse já ter se descredenciado nos últimos cinco anos. Mais da metade deles afirmou que nos últimos cinco anos atendeu pacientes que tiveram problemas com suas operadoras a ponto de interferir no trabalho médico.
De acordo com a presidente da SOGESP, Rossana Pulcineli Francisco, a interferência tem aumentado por causa da situação econômica cada vez mais difícil.
"A gente vê que a pressão do plano de saúde é pela redução de custo. Então eles aumentam a glosa [não pagamento, por parte dos planos de saúde, de valores referentes a atendimentos, medicamentos, materiais ou taxas], a não autorização de exames e a pressão para que médicos prefiram a rede própria do plano, ainda que o paciente possa escolher qualquer hospital", disse.
Ela ressalta que há um impacto direto na qualidade do serviço prestado. " O médico quer colocar para o paciente aquilo que tem de melhor, que é o ideal. Então é ruim quando se fala em uma interferência, porque afeta a prática médica".
A pesquisa entrevistou 604 profissionais distribuídos no Estado, das especialidades de ginecologia, obstetrícia e medicina de diagnóstico. A margem de erro dos resultados é de 4% e o nível de confiança de 95%, ou seja, se fossem realizados 100 levantamentos simultâneos com a mesma metodologia, em 95 deles os resultados estariam dentro da margem de erro prevista.
Além da avaliação dos planos de saúde, o estudo também abordou a qualidade dos serviços do SUS e a relação dos médicos com o atendimento público. Oito de cada dez médicos avaliaram a qualidade dos serviços públicos como regular, ruim ou péssima e 93% deles afirmou ter sofrido ou presenciado algum tipo de agressão no ambiente de trabalho.
As queixas mais comuns de pacientes, segundo os entrevistados, foram a demora para marcar exames, dificuldade para internação e falta de médicos. Sobre agressão, o principal motivo citado foi a demora para atendimento.
Para Rossana, a demora ser a razão principal para agressões é reflexo de "falhas estruturais do serviço". Segundo a médica, os profissionais da saúde acabam sendo responsabilizados por problemas que não estão relacionados a eles. "Se espera, na rede pública, que o atendimento seja feito em 15 minutos. Não dá, vai ter atraso. Mais de 50% das agressões estão relacionadas a falhas estruturais e o médico acaba sendo culpabilizado", afirmou.
Segundo o Datafolha, hoje as mulheres representam 60% dos ginecologistas e obstetras, com presença feminina maior entre os especialistas mais jovens. A média etária dos profissionais, independentemente de gênero, é de 47 anos.
O estudo concluiu que apenas 4% dos entrevistados atuam exclusivamente na Obstetrícia, a maioria também trabalha com ginecologia. Também mostrou que para mais da metade dos profissionais a carga de 40 horas semanais é excedida. Em média, os profissionais trabalham há 21 anos na especialidade.
54% dos médicos entrevistados atendem na Grande São Paulo. Dos médicos que participaram do estudo, 72% atendem planos ou seguros saúde e 84% já atuou no SUS, com 45% ainda em exercício.
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